I Encontro Intergeracional – Universidade São Judas

02.12.2019

Em 20 de outubro de 2019, domingo, em comemoração ao Dia Internacional do Idoso e ao Dia da Criança, aconteceu o I Encontro Intergeracional promovido pela Universidade São Judas.

O Encontro, voltado para todas as idades, teve atividades educativas, recreativas e de práticas corporais, objetivando unir gerações por meio de oficinas, jogos, exposições e rodas de conversa, praticadas em grupo durante todo o dia, tanto no campus da Universidade como no Parque da Mooca.

O Cidadão e Repórter, convidado como uma das organizações parceiras do evento, expôs sua finalidade bem como fez a cobertura jornalística do evento.

Na roda de conversa sobre Envelhecimento e Empreendedorismo estiveram presentes Eduardo Meyer do Trabalho 60+, Morris Litvak do Maturijobs e Ismael Rocha do Nexxt 49+, mediados por Paula Martini da rádio CBN.

Acompanhe a seguir reportagens sobre algumas atividades que tiveram mais destaque no evento:

Roda de conversa: Envelhecimento e Empreendedorismo

Dentre as várias atividades desenvolvidas, foi promovida uma Roda de Conversa com intuito de apresentar e debater o tema Envelhecimento e Empreendedorismo.

Dessa conversa participaram três especialistas no assunto: Eduardo Meyer do grupo Trabalho 60+, Morris Litvak da plataforma Maturijobs e Ismael Rocha do Nexxt 49.

A mediação dos debates ficou a cargo da jornalista da CBN, Paula Martini.

As apresentações giraram em torno da situação atual dos idosos 50+ que se encontram já aposentados ou não, necessitados de atividade laboral, seja para complementação de renda, seja para não permanecerem em situação de isolamento social.

Eduardo Meyer, Trabalho 60+

Eduardo Meyer esclareceu que o Grupo, prestes a completar três anos existência, visa a valorização do idoso por meio do trabalho, abrindo espaço para o protagonismo dessa faixa etária por meio de encontros semanais onde se discutem assuntos de interesse do Grupo que é aberto e inclusivo e que busca pelo trabalho colaborativo, prazeroso e com justa remuneração. Muitos talentos aparecem no Grupo, permitindo muita troca de experiência e expertises, favorecendo riqueza de conhecimento a todos. Além disso, vários eventos são divulgados para que os membros do Grupo possam se atualizar em todas as áreas. O Trabalho 60+ é um lugar onde os idosos discutem suas vivências, suas experiências profissionais, suas dores e satisfações. São de grande importância também as atividades entre os participantes do grupo em encontros, viagens, passeios etc para melhor aproximação. Tirar o idoso do recolhimento, do isolamento e inseri-lo no convívio social e no mercado de trabalho colaborativo são os motes do Trabalho 60+.

Morris Litvak, Maturijobs

Morris Litvak explicou que se trata de uma plataforma de trabalho que surgiu em 2015 objetivando fazer a ponte entre os 50+ e as empresas para inserção dos maturis no mercado de trabalho, seja no preenchimento vagas nas empresas, seja por meio do empreendedorismo, principalmente o individual . Como as vagas de trabalho nas empresas se tornaram cada vez mais escassas foi criada uma plataforma direcionada ao empreendedorismo, que é a Maturiservices. Essa nova plataforma se destina a pessoas maduras que querem voltar ao mercado de trabalho de forma autônoma, como freelancers e onde podem oferecer seus serviços e produtos diretamente a pessoas interessadas e também às empresas. Morris comenta que o trabalho como foi conhecido até agora está fadado a não mais existir. Daqui para frente o empreendedorismo será a melhor, se não a única opção, não só para maturis, mas também para os jovens. A Maturijobs faz um trabalho junto às empresas para prepará-las para o recebimentos dos mais idosos, assim como prepara também os maturis para atualização tecnológica e de convivência com os mais jovens.

Ismael Rocha, Nexxt 49+

Ismael Rocha, um dos fundadores da Nexxt 49+ conta que a plataforma está no mercado há 5 meses e desenvolve um trabalho em várias frentes. Primeiramente oferece serviços de mentoria sênior auxiliando aos que pretendem empreender. A mentoria é de grande importância para viabilizar seus projetos ou encontrar novas ideias direcionando-os a um novo caminho. Outra vertente de grande importância da Nexxt 49+ é o trabalho de assessoria a empresas que pretendem desenvolver produtos e serviços para a população 49+, que ainda é um segmento muito estereotipado e por isso de difícil atendimento de seus reais desejos e necessidades. Tudo mudou muito na geração atual de sênior. Suas prioridades, suas dores, suas metas e desejos não são os mesmos de antigamente. Suas necessidades não podem ser supridas nos moldes da geração anterior. Ismael deixa patente que, sem essas atividades educacionais voltadas para os seniores bem como para as empresas, será impossível criar situações produtivas e adequadas para ambas as pontas. O trabalho é intenso, mas completamente viável. É educar para a mudança de mindset de todos. Empresas, seniores e jovens também.

Feira do idoso empreendedor


Uma das atividades mais concorridas do evento da Universidade São Judas foi a feira do empreendedor, que contou com mais de 20 expositores. Havia artesanato, alimentos, como doces, geleias e compotas, além de bijuterias, quadros e roupas especiais para alívio de dores musculares.

Frederico Cidral, João e Claudia Aranha

Nosso entrevistado, Frederico Cidral , foi o organizador da feira, voltada para empreendedores acima de 50 anos.

Cidral é empresário do ramo de alimentação há mais de 27 anos em Santos.

É também professor da São Judas em Santos, atuando como coordenador da área de gestão, além de ser aluno da pós-graduação na cadeira de Ciência do Envelhecimento.

Como ele já havia coordenado, com muito sucesso, uma feira de empreendedores em Santos, aceitou o convite para organizar a feira que ocorreu no evento da S. Judas em São Paulo.

Cidral destacou que o empreendedorismo traz vários ganhos para o público acima de 50 anos. Citou a importância do convívio social, a criação de laços e vínculos entre os expositores, mostrando que envelhecimento não é sinal de inatividade; pelo contrário, pois são vários os casos em que o fato de empreender trouxe aos mais velhos uma melhora na qualidade de vida em seus vários aspectos.

Muitos dos que ali estiveram, passaram pelas orientações do Sebrae, e Cidral se mostrou bastante entusiasmado com as novas possibilidades, que vão além das financeiras, e que ora se abrem para o seu público-alvo.

Disse ainda que sua cidade – Santos – é uma das cidades amigas dos idosos, possuindo 21% de sua população acima dos 60 anos. Vários fatores contribuem para ser um local muito procurado por idosos, por ser uma cidade de praia, plana e com um clima bastante agradável.

Projeto Bunekas

Uma das iniciativas mais interessantes e importantes presentes na feira de empreendedores da São Judas foi o Projeto Bunekas (projetobunekas@yahoo.com)

Nossa entrevistada, Neuzete Papp, é estilista e uma das coordenadoras desse movimento que atende solicitações vindas de escolas africanas.

Segundo Papp, face à dificuldade de se contar com doações de empresas brasileiras, tendo em vista a situação pouco favorável que o país vive, a solução encontrada foi criar uma empresa – Bonecas & Cia – com parte da renda obtida sendo doada para a viabilização financeira do projeto social voltado para principalmente para as meninas africanas.

O Projeto recebe doações de particulares, constituídas de diversos materiais como restos de tecidos, espumas e outros próprios para preenchimentos.

A iniciativa conta com 400 voluntárias que atuam em oito cidades do Brasil

Até janeiro de 2019 já haviam sido entregues 5 mil bonecas para onze países africanos, sendo que dois deles – Moçambique e Angola – já contam com um grupo de fabricantes de bonecas devidamente estabelecido.

O Projeto nasceu quando se tomou conhecimento de que 80 a 90% das crianças africanas – notadamente meninas – sofriam todo tipo de abuso.

Esta situação decorre principalmente da própria cultura de países pobres da África, onde meninas não se conscientizam da necessidade de proteger sua integridade e sua condição de vulnerabilidade por serem crianças.

O Projeto, por meio da doação de bonecas negras, ao incentivar o brincar, promove a proteção e a autoestima das crianças, preparando-as para identificar e reagir a situações de abusos.

As bonecas são confeccionadas com cada detalhe elaborado para falar diretamente ao coração das meninas. O cabelo de feltro é similar ao delas; o turbante é um acessório que estimula a valorização do cabelo; os tecidos são do padrão colorido que caracteriza as vestimentas africanas; todas têm calcinha para reforçar o uso e o valor do corpo que não deve ser tocado, abusado ou explorado; nos pés há sapatinhos que estimulam as crianças a não andarem descalças sempre que possível.

Pudemos observar que as bonecas são realmente muito chamativas e muito bonitas, o que segundo Papp, já está abrindo as portas do mercado brasileiro, colaborando para a inclusão social de nossas meninas negras.

Papp ainda esclareceu que já estão ministrando cursos para a elaboração de roupas infantis com modelos africanos, visando ser mais uma oportunidade de aumento de renda para a população menos favorecida.

Associação Eternamente Sou

Foi emocionante ver crianças, jovens, adultos, idosos participando do evento, mas nos surpreendeu a abertura da São Judas em relação aos tabus sociais que até hoje sofremos: a discriminação com as minorias, principalmente LGBTs.

A Universidade abriu espaços para diferentes segmentos da sociedade e nós tivemos o prazer de entrevistar Celso Rabetti e Matheus Cunha que participam do movimento "Eternamente Sou" que desde 2017 levanta a bandeira em defesa dos direitos LGBTs.

O Cidadão e Repórter conversou com Matheus e Celso, uma conversa rápida, mas que dá a dimensão do problema que vivem.

CeR: Como surgiu o movimento "Eternamente Sou"?

Matheus: O movimento começou em 2017 com Rogério Pedro, preocupado com a velhice das pessoas que não fazem parte da "sociedade convencional", os Gays, Lésbicas, Travestis...

Promovemos encontros com profissionais da saúde, psicólogos, militantes e resolvemos fazer o movimento para que Nós, LGBTs, tenhamos não só qualidade de vida, mas também direitos como Cidadãos Brasileiros.

CeR: Vimos num banner que vocês se preocupam com a Velhice de LGBTs

Celso: Sim, é um problema muito sério a questão da aposentadoria LGBTs, pois a maioria tem profissão que não costuma ter carteira assinada, e num país como o nosso, preconceituoso e racista, fica difícil chegar à velhice e não ter os mesmos direitos que os outros... como exemplo casais homossexuais, quando um morre o que sobrevive nem sempre consegue ter aposentadoria do parceiro, quando o outro tem carteira assinada ou direitos de aposentadoria. Uma barra. Eu sei como é difícil...

CeR: Quantos participam da ONG Eternamente Sou?

Matheus: Aqui em SP, somos em torno de 50 associados e 20 voluntários.

Celso: mas estamos expandindo para outros estados, principalmente Minas Gerais em BH... o movimento está crescendo, apesar de toda a censura contra os gays, lésbicas, transexuais, travestis, etc... não é doença, não tem "Cura Gay", somos seres humanos normais como todos, o problema é nossa opção sexual que nada interfere no nosso caráter, na nossa responsabilidade social.

CeR: O mundo tem que aceitar o que sempre existiu, a diversidade é uma realidade humana... Como podemos ajuda-los?

Celso e Matheus: Vocês nos ajudarão dando espaço para dizermos quem somos, que não somos marginais, que temos responsabilidade social e que estamos preocupados com a qualidade de vida dos seres humanos, sejam eles LGBTs ou não, preocupados com a Educação, Saúde, Moradia, Aposentadoria

Celso: Não somos "doentes" e não existe "Cura Gay", somos seres humanos que merecemos respeito pelo que somos e pelo que fazemos em prol da sociedade. Somos homens e mulheres, transexuais, travestis, lésbicas ou gays... somos GENTE.

Matheus: Dia 31/10/2019 as 19h na Câmara Municipal, houve uma discussão sobre os "Novos Formatos de Família", uma proposta do vereador Toninho Vespoli.

CeR: Celso e Matheus, agradecemos muito a entrevista e colocamos nosso espaço à disposição para que possam ter um canal de comunicação para expor seus projetos, suas ideias e propostas de Cidadania!

O papel do canto e da pintura em portadores da doença de Parkinson

A Associação Brasileira de Parkinson (parkinson.org.br), entidade que tem por objetivo principal divulgar e sensibilizar a opinião pública e os meios de comunicação sobre a doença de Parkinson e seus sintomas, foi uma das que abrilhantaram o evento organizado pela Universidade São Judas.

Entre as várias atividades que visam melhorar a coordenação motora, a integração e socialização, a confraternização e o desenvolvimento de novas habilidades, destacam-se o Coral e as Oficinas de Pintura e Dança.

Segundo a regente Denise Castilho, a doença afeta a fala e a voz e o canto juntamente com os exercícios de fonoaudiologia são importantes coadjuvantes para aumentar os movimentos dos músculos que controlam os órgãos responsáveis pela produção dos sons e da fala. A participação no Coral também é importante para a socialização e a confraternização entre seus integrantes.

O grupo emocionou a plateia ao cantar vários sucessos do cancioneiro brasileiro.

Já a professora Lucy de Araújo, responsável pela área de artes plásticas, levou inúmeras obras de seus alunos que foram colocadas à venda.

Segundo a professora a pintura solta a imaginação e permite a expressão de pensamentos e sentimentos.

As lições de pintura se transformam num exercício prazeroso que estimula os movimentos, desenvolve novas habilidades, trabalha a concentração, cria confianças nos doentes para expor, ocasionando uma satisfação pessoal que vai além dos ganhos que ocorrem com a integração e a socialização.

O público presente acabou se surpreendendo dada a visível qualidade das obras que foram expostas.

Velha Guarda da Vila Maria

Para provar que nem o tempo nem a idade reduzem o gingado, o evento da São Judas terminou com uma apresentação memorável da ala da velha guarda da Vila Maria.

Sob o comando do mestre Chocolatte, o grupo apresentou não só os chamados sambas de raiz como também grandes sucessos, com destaque para o inesquecível Adoniran Barbosa.

Entendendo que o tempo não afasta as pessoas, os mais velhos aceitam de bom grado as inovações mas sem que haja modificações na raiz, pois samba, como dizem os seus integrantes, é estado de espírito.

Curiosidades & inovações

No I Encontro Intergeracional da Universidade São Judas, vale a pena registrar:

Banheiro Unissex - uma novidade respeitável

Abertura para participação de Movimentos:

  • LGBTs

  • Feira do Idoso Empreendedor

  • Roda de Conversa sobre Envelhecimento e Empreendedorismo

Espaço para Associações que trabalham com a diversidade:

  • Musicistas da Velha Guarda

  • Pintores e Artistas portadores da doença de Parkinson

  • Culinária diversificada com jovens e idosos apresentando seus produtos

  • Criações na área de: bijuterias, cerâmica, artesanato

  • Saúde, Beleza...