SLAM - conheça a batalha de poesia marginal que ex-BBB faz parte

Lucas Koka chegou a competir a nível nacional

por Thays Reis

10.02.2021

Ex-BBB participa do Slam, batalha de poesia falada. Foto: Reprodução/TV Globo

Vídeos de Lucas Penteado declamando poesia em praça pública viralizam nas redes sociais após sua saída do Big Brother Brasil 21 na manhã do último domingo (07). As imagens registram sua participação nos slams, uma batalha de poesia falada, debatendo temas como negritude, religiões de matriz africana e sua própria história.

Lucas Koka, como é conhecido, começou a batalhar com cerca de 18 anos e marcava presença no Slam Resistência, que acontece na Praça Roosevelt, na República, Centro de São Paulo, uma vez ao mês.

“O Lucas é muito politizado. Os textos dele falam sobre o Estado, sobre questões sociais, raciais. Ele também tem muita consciência de classe”, diz poeta e idealizador do Slam da Guilhermina, Emerson Alcalde, sobre as poesias de Lucas, que chegou a participar do Slam BR, competição de nível nacional, em 2019.

“A partir de hoje eu perdi a linha, aqui ninguém mais vai voltar nem pra senzala, nem pro armário, nem para a cozinha. O dia de hoje vai ser lembrado como revolução”, declama Lucas Penteado em um vídeo gravado pelo Manos e Minas.

Segundo Alcalde, Koka representou o movimento no BBB21: “As ideias dos slams trouxeram para ele empoderamento e maturidade. O que ele pautou lá dentro é o que se pauta nos slams também. Claro que ele é um indivíduo, mas em termos de ideias, ele representa a cena”, diz o poeta.

Alcalde ainda aponta a visibilidade que os slams tiveram após a participação de Lucas no reality: “Um dia eu estava conversando com um taxista e ele me disse que viu um vídeo do Lucas. Ele não sabia o que era o slam, e eu apresentei para ele. Isso mostra que é positivo pro movimento. Com a participação de Koka, as pautas chegam para quem não entende ou não tem contato com os debates que se fazem no slam”, diz Alcalde sobre vídeos que viralizaram pela participação do ex-BBB no programa.

O Slam surgiu na década de 80, em Chicago, EUA, quando um operário da construção civil, Mark Kelly Smith, se propôs a criar um show poético em um bar, para democratizar a poesia. Os jurados eram o próprio público, que avaliava os poemas, primeiro com palmas e depois com notas, que vão de zero a dez, usadas hoje em dia.

O poetry slam chegou ao Brasil em 2008, pelas mãos da atriz e poeta, Roberta Estrela D’Alva, depois de retornar de uma viagem aos EUA, onde conheceu a cena já consolidada das batalhas de poesia na América do Norte. Quando voltou para São Paulo, decidiu criar o ZAP! Zona Autônoma da Palavra, o primeiro slam do Brasil.

Com o tempo, os slams foram se popularizando. A maioria dos encontros começou a acontecer em locais públicos, em ruas e praças, principalmente nas periferias. Os slams foram sendo criados então como local de troca de ideias.

A maior parte dos poemas abordam assuntos políticos, sociais e culturais. Muito se discute sobre feminismo, machismo, racismo, lgbtfobia, política, todo o tipo de dor e preconceito. Mas também se fala sobre alegrias, amores e sonhos.

De acordo com a tese de mestrado de Roberta Estrela D’Alva, “Teatro hip-hop: a performance poética do ator-MC”, cada slam tem sua particularidade, mas sempre baseado em três regras básicas: As poesias devem ser autorais, com duração de até três minutos e sem acompanhamento musical ou de objetos cênicos.

Ainda segundo a tese, o slam é uma competição e também uma forma de luta, mas também é um encontro, uma celebração e um pretexto para que as pessoas parem e escutem o que o outro tem a dizer.

Revisão: Geyse Tavares