Histórias de Vida


João Aranha

28.11.2019

Dando sequência as aulas do Curso Criativa Idade patrocinado pela área social da Escola Superior de Propaganda e Marketing – ESPM, voltada para o público conhecido como 60+, ocorreu nesta última terça-feira, cinco de novembro, uma atividade intergeracional, quando a Escola e alunos receberam crianças do Instituto Hatus de Osasco.

O Instituto visa desenvolver habilidades artísticas em crianças e adolescentes, contribuindo para a sua inclusão sociocultural, já que atuam em comunidades com baixa renda, sujeitas à violência e à marginalidade.

A interação entre as crianças e os alunos gerou algumas histórias de vida, emocionantes e inspiradoras, entre as quais separamos duas:

História 1 – Uma “coincidência”

Antes que as crianças chegassem, cada dois alunos sortearam um nome que indicava qual criança seria por eles apadrinhados.

Nossa amiga Rosimeire ficou com um menino chamado Guilherme.

Todos traziam consigo um envelope onde descreviam qual era o sonho que gostariam que se realizasse.

Quando Rose ouviu Guilherme contar qual era seu sonho, começou a chorar. O sonho do garoto era ganhar um saxofone, instrumento que ele adorava e aprendia no Instituto.

Antes é preciso esclarecer que o Hatus disponibiliza os instrumentos musicais para os alunos, mas não possui quantidade suficiente para atender a demanda.

Rose se emocionara porque o marido que adorava tocar saxofone, havia falecido há dois anos, e ela guardou o instrumento num canto da casa sem saber o que fazer com ele.

E aí ela conheceu Guilherme e seu sonho e então aconteceu algo mágico. Coincidência?

Guilherme e Rosimeire. Foto: Eduardo Mendes

História 2 – “Um prá mim dois prá ele”

João e Rosemary (não a mesma da história acima, mas uma chará) sortearam o nome de Igor.

Quando as crianças apresentaram o seu coral, e os alunos ainda não sabiam quem era quem, um garoto logo chamou à atenção pelo seu gingado e expressão corporal que já prenunciava uma expressiva musicalidade.

Era o Igor, 12 anos, que estudava canto e violino. O seu sonho era ser cantor ou violinista ou, quem sabe, os dois.

Igor foi, aos poucos, contando sua história: pai trabalhador em eventos, mãe manicure e um irmão mais velho que sofria de paralisia cerebral além de ter uma das mãos atrofiada.

As crianças ganharam uma sacola com presentes, doces, revistas e livros infantis. Na hora do lanche, Igor sempre pedia três bocados a mais.

João Aranha, Igor e Rosemary. Foto: Eduardo Mendes

O moleque tá com fome, foi o que pensamos. Mas não era bem assim. Igor comia uma das guloseimas e duas colocava na sacola; ganhara uma bola mas como não era muito de futebol, a bola ia para a sacola porque o irmão gostava.

Na sacola tinha uma boneca, mas Igor, como um bom negociador, logo achou quem queria trocar a boneca por um livro.

“Leio para o meu irmão, que adora” ele disse.

E assim foi o tempo todo: “um pra mim, dois pra ele”.

Ele quer ser cantor, mas imagina uma carreira que se desenvolverá aos poucos: treinar bastante e depois cantar em eventos, bares, restaurantes e, depois, quem sabe, na televisão.

Por isso seu sonho é ganhar um microfone de lapela daqueles sem fio ou um microfone próprio para violinistas.

Na cartinha Igor escreveu: “Cantar para mim, é mais que uma arte, é me sentir livre, poder expressar os meus sentimentos e emoções”.

Este é o Igor, garoto da periferia paulistana, que quer ser cantor e, pelo brilho dos seus olhos, com certeza será.

E seus padrinhos por um dia, com certeza sempre lembrarão dele como o garoto do “um prá mim dois prá ele”.