Ideias fora de hora e ideias fora do lugar

16.06.2020

O Universo, assim como o Homem, está em permanente evolução. O passado está aí, escancarado, a nos ajudar a refletir sobre o presente.

Erram aqueles que visam julgar os fatos e as circunstâncias passadas com os valores que nos parecem corretos no presente. Assim como erram os que não aprendem com as lições do passado.

O que dirão do que pensamos e fazemos, os filhos dos filhos de nossos filhos? Ideias, para que sua justeza seja atestada, precisam aparecer no momento e no lugar certo.

No Brasil do passado, os intelectuais, os formadores de opinião, influenciados pelos arroubos liberais vindos da Europa, esbarraram numa sociedade brasileira agrária e escravagista e, no conflito que se estabeleceu, o País seria o último a abolir a escravidão.

Nos dias de hoje, detentores do poder, de todos os escalões, procuram se espelhar em ideologias do passado, retrógradas e totalitárias, emulando discursos de líderes nazistas, citando declarações fascistas, defendendo que nosso pacífico povo se arme para lutar, não se sabe contra quem exatamente.

Fala-se de uma ameaça comunista totalmente descabida e sem o menor sentido no momento histórico em que vivemos.

Há uma necessidade, sobejamente conhecida, de criar um inimigo, para que a atenção popular seja desviada do que realmente importa.

Táticas pretéritas, importadas de movimentos da supremacia branca, com elementos que ameaçam, com tochas e capuzes, os poderes constituídos da República; manifestações ilustradas com faixas que pedem a volta do militarismo, o fechamento do Congresso e do Judiciário que, se não recebem apoio, não são rechaçadas, pululam em algumas capitais.

Atos antirracistas, impulsionadas pelo trágico assassinato de um negro americano, ocorrem, por vários dias, nos Estados Unidos e em vários países. No Brasil, onde a violência policial contra negros e pobres ocorre diuturnamente, fatos como esses são considerados banais, precisando de um acontecimento exógeno para que a sociedade, boa parte adormecida e manipulada, despertasse.

Os tempos são difíceis e o futuro incerto. Nunca o País precisou tanto de ideias que respondam às necessidades atuais — mais precisamente considerando os menos favorecidos — e que ocorram na hora certa e passíveis de serem aplicadas com sucesso no nosso gigantesco e desigual país.

Que surjam agora, na hora e no lugar certo, para que, mais uma vez, não venhamos a perder o bonde da história.

Revisão: Maitê Ribeiro