A verdadeira imprensa

02.06.2020

Um jornal necessita da publicidade para sobreviver. Mais ainda, é da publicidade que vem a renda que o mantém independente.

O atual governo brasileiro, avesso a críticas e receptivo a bajulações, adotou, logo de saída, o corte das publicações oficiais obrigatórias em jornais que não o apoiavam. Com isso visava-se um "cala a boca", que sufocava não apenas a imprensa mas a própria democracia e a liberdade de expressão.

Nesses tempos que vivemos, de crises na saúde, na economia e na política, se torna imprescindível a participação de uma imprensa formativa e informativa, livre e independente.

No entanto, mais uma vez, o governo estende suas garras e confunde a imprensa livre com aquela feita apenas para agradá-lo. Chama de imprensa um conjunto de notícias falsas, mal intencionadas que, utilizando os meios digitais, visam incutir nas pessoas suas ideias antidemocráticas, armamentistas e moralmente discutíveis.

Reclama o governo que instituições que fazem parte do conjunto do Estado Democrático estejam querendo proibir a “imprensa que é dele, que pensa como ele”. Um meio de comunicação, financiado por empresários e políticos comprometidos com o poder atual, que está a anos-luz de distância do que é a verdadeira imprensa.

Confundem mais ainda chamando as fake news e os abundantes impropérios, de liberdade de expressão, talvez imaginando que vivamos num estado que lhes dá o direito e o poder de atacar a dignidade humana.

De que poder, no entanto, estamos falando? Não do poder sobre si mesmo — que levaria à liberdade — mas do poder da imposição da vontade de uma pessoa ou de uma instituição.

De um poder que lhe permita negar evidências e que o coloque acima da moral e da justiça. Pensadores de todas as épocas foram enfáticos em afirmar que se queres conhecer realmente um homem, dê-lhe poder.

E vai mais além o governo, instalando um regime de insegurança e de medo. Atacam jornalistas e seus familiares. Agridem os profissionais quando eles estão trabalhando, a ponto de meios de comunicação suspenderem a participação de seus jornalistas, a fim de preservar sua integridade física.

Nesses tempos difíceis, a publicidade está minguando na imprensa escrita. Nos jornais são publicadas apenas manifestações daqueles que ainda mantêm a sanidade e o compromisso com uma pátria livre, justa e democrática, como atestam os movimentos “Estamos Juntos” e “Somos Muitos”. Sem renda, os jornais não têm como manter jornalistas, correspondentes, gráficos e tantos mais.

Nós, pequenos jornalistas, de pequenos meios de expressão, precisamos nos solidarizar com a imprensa livre e o mínimo que nos cabe nessa hora é assinar um jornal, seja ele no papel ou digital. É uma das poucas armas de que dispomos nesses tempos de exceção.


Revisão: Maitê Ribeiro