Brasil, mostra tua cara

25.04.2020

Uma das coisas boas das crises, se é que podemos colocar assim, é trazer à tona circunstâncias e fatos que, por diversas razões, ficaram mascarados ou relegados a um segundo plano.

É nas crises que temos condições melhores e mais confiáveis de aferir o comportamento de uma população e de seus líderes.

Entre os líderes, disputas políticas comezinhas se sobrepõem à necessidade de ações rápidas e efetivas no sentido de minimizar as consequências da grave crise sanitária e econômica que atravessamos.

Quanto à população, atordoada e com medo, não sabe bem o que fazer, pois quando se estabelece uma certa confiança, mudam-se os atores e os que os substituíram parecem perdidos e deslocados.

Pede-se ao povo que não saia de casa, mas de que povo se está falando? Quantos vivem nas ruas e embaixo de viadutos, quantos moram em “casas” que, quando muito, lembram um depósito de gente? Evitar o contato como? Não sair de casa, de que forma?

Medidas de higiene para populações que vivem agrupadas em morros e encostas onde a água quase não chega e não existe esgoto? Lavar as mãos? Como? Álcool gel, a que preço?

O Governo lança um programa de ajuda financeira para os desempregados, para os que perderam o emprego, para as mães chefes de família, para os desvalidos, enfim, e ficam estarrecidos quando aparecem milhões, vindos de todos os cantos do país.

Fechados em seus gabinetes, mais preocupados em estabelecer slogans, os governantes se espantam. Quem são eles? De onde vieram? Não esperavam que fossem tantos.

O sistema de saúde, amparado pelo nosso excelente SUS e pela atuação heróica de médicos, enfermeiros, técnicos, psicólogos e tantos mais, estão vendo seus recursos físicos e materiais se esgotarem. Saúde nunca foi prioridade. Hospitais e recursos em São Paulo é uma coisa, no Amazonas é outra.

Enquanto alguns falam, outros agem. É marcante a resposta dada pela sociedade civil, pelos exemplos que surgem em todos os momentos, desde a pequena ajuda de um membro de uma sofrida comunidade até as doações milionárias de bancos e grandes empresas.

Tempestades sempre acabam passando e crises também passarão.

O que nos resta é, quando os tempos de bonança voltarem, lembrarmos dos nossos irmãos menos favorecidos e juntos, governo e iniciativa privada, fazermos a parte que nos cabe, para que não se crie uma nova horda de sobreviventes que, mais uma vez, viverão nos subterrâneos da nossa consciência.


Revisão: Maitê Ribeiro