Imprensa ameaçada

22.01.2020

Segundo a FENAJ – Federação Nacional de Jornalistas – a violência contra jornalistas e a liberdade de imprensa no Brasil e os ataques a jornalistas e empresas de comunicação aumentaram 54% em um ano.

Na realidade essas estatísticas trazem uma preocupação maior que não se restringe à figura do jornalista ou do órgão de imprensa, mas, sobretudos por voltar-se contra o direito inalienável da liberalidade e da liberdade de expressão.

Quando o poder constituído se volta contra determinado grupo ou organização e passa a privilegiar outros que o apoiam incondicionalmente, é inevitável que nos lembremos de Joseph Pulitzer, jornalista que doaria recursos para que a Universidade de Columbia criasse o seu curso de jornalismo e estabeleceria um prêmio anual, dos mais cobiçados, e que perdura até hoje.

Pulitzer (1847/1911), húngaro que emigrou para os Estados Unidos, começou como repórter de um pequeno jornal, mas aos 25 anos já editava o seu próprio periódico.

Pulitzer defendia uma imprensa imparcial e independente. Pragmático, dizia que o jornal deveria ter máxima circulação e isso levaria a grande quantidade de anúncios, que em resumo permitiria retorno financeiro que, por sua vez, o tornaria independente.

Dizia também que com o tempo “uma empresa cínica, mercenária, demagógica e corrupta tornará um público tão vil como ela mesma”.

Portanto, quando órgãos públicos ameaçam cortar a publicação de anúncios oficiais obrigatórios da imprensa, o que se deseja, no fundo, é acabar com sua independência.

A imprensa brasileira e os profissionais que nela militam não precisam de defensores, já que é inegável sua contribuição ao longo de todo nosso processo histórico.

D. Pedro II, grande estadista, foi muitas vezes atacado e ridicularizado pelos jornais da época, mas manteve, no meio século de sua governança, senso de dever, tolerância, liberalidade e respeito pela liberdade de imprensa: “Leio constantemente todos os periódicos da corte e das províncias. A tribuna e a imprensa são os melhores informantes do monarca”.

Líbero Badaró (1798/1830), primeiro jornalista a ser morto no Brasil, por um oponente, assim se expressou em seu leito de morte: “Morre um liberal, mas não morre a liberdade”.

Que a imprensa e os jornalistas brasileiros, representantes de um “quarto poder”, sobrevivam íntegros e independentes para que, ao nos manter corretamente informados, possamos cumprir com nossos deveres e obrigações inerentes à cidadania.