09.06.2021
Dia desses estava conversando com um amigo sobre quantos pacotes estavam para chegar na minha casa e ele também falou dos dele, além de estar comprando naquele exato minuto mais algumas coisas.
Claro que essa conversa é totalmente normal, mas a frequência que ela está acontecendo durante essa pandemia e com diversas pessoas quase chega a ser assustador, já que somente o primeiro trimestre de 2021 teve um aumento de 57,4% comparado à mesma época do ano anterior.
A rotina monótona, o trabalho e a educação que continuam por telas, não sair de casa... Todas essas coisas geram uma ansiedade em quem sente falta de viver como costumava, conhecendo nossos lugares, viajando, comendo em restaurantes aleatórios. Esse sentimento de liberdade que o passado nos lembra gera desânimo e ansiedade ruim, e uma das saídas (não tão saudável quanto se exercitar, nem tão maléfica quanto comer compulsivamente) tem sido comprar coisas.
Maquiagem, roupas, joias, qualquer bugiganga que esteja barata na internet e que não necessariamente seja útil para algo. Tudo que brilhe os olhos e que o limite do cartão permita. Coisas que seriam caras demais quando tudo voltar ao normal.
A felicidade de chegar um pacote é como um presente do eu do passado para o eu do presente, a animação de esperar por algo torna o dia-a-dia mais feliz, porque por mais ínfima que seja a compra, ela vai causar uma comoção em tempos tão cinzentos.
Eu e minha mãe, que também está em casa devido às restrições em seu trabalho, estamos esperando diversos pacotes, incluindo canetas, colheres de bambu, tapa mamilo... E apesar de serem compras que não vão fazer diferenças diretas, são coisas que nos empolgam a fazer algo, como cozinhar algo para usar as colheres, ou escrever as coisas da faculdade com canetas coloridas.
Tudo é válido para se fazer feliz em tempos de pandemia. O e-commerce se diverte em nos oferecer até coisas que não precisamos, assim como nos divertimos comprando coisas que vão apenas temporariamente suprir nosso desejo de estar fazendo algo, qualquer coisa que seja.
Sendo assim, o dinheiro que sobra porque não se sai de casa mais a vontade de comprar algo para se fazer feliz no tédio gera uma soma que resulta em comprar pela internet, promoções constantes e um falso sentimento de satisfação em meio a tempos de solidão.
Revisão ortográfica: Anne Preste