Conversa com Mulheres apresenta a Dra. Glória Brunetti


Dra. Glória Brunetti e sua visão empreendedora

Ela fez parte do evento Poder Concept “CONVERSA COM MULHERES”, realizado na semana que comemoramos o Dia Internacional da Mulher trazendo e inspirando pessoas.


Sonia Okita

19.03.2021

No dia 12 de março, na semana da comemoração do Dia Internacional da Mulher, a Dra. Glória Brunetti falou de sua vida no trabalho no Hospital Emílio Ribas e de seu voluntariado como fundadora e participante; é médica infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, médica paliativista pelo Instituto Pallium na Argentina, fundadora do VER (Voluntariado Emílio Ribas), e da Fundação Poder Jovem e é líder do Comitê de Saúde do Grupo Mulheres do Brasil; sinônimo de altruísmo e amor ao próximo, sua vida profissional se completa como mentora de trabalho voluntário em ações sociais a favor de pessoas em situação de vulnerabilidade.

No início de sua carreira como médica infectologista no Hospital Emílio Ribas, nos anos 80, percebeu o distanciamento com que o paciente soropositivo (referindo-se à AIDS) era tratado, estigmatizado pela grave doença ainda em estudo. Movida pela percepção da necessidade de conectar o paciente com a sociedade para uma vida digna, Dra Glória batalhou para que o VER , um trabalho inédito de voluntariado, fosse implantado no Hospital. Inicialmente, seu projeto considerado inviável e controverso, foi negado várias vezes pelos seus superiores, mas devido à sua obstinada persistência este projeto se realizou. Vitoriosa, sua atitude revolucionária desencadeou uma série de outros projetos de voluntariado relacionados a pacientes soropositivos, como também a outros grupos de necessitados e destacou como foi difícil vencer a barreira que o novo e o desconhecido representam.

Hoje o VER conta com mais 2800 pessoas capacitadas e 230 voluntários, além de 25 mil pacientes atendidos por ano. Há também distribuição de 200 cestas básicas para mães de crianças soropositivas. Para ela o VER é motivo de muito orgulho e realização pessoal ao poder ver os resultados daquele sonho que começou há décadas.

Dra. Glória apresentou outro projeto inovador chamado Mãos Que Cuidam no ano de 2014, com o objetivo de fazer massoterapia em pacientes internados. Novamente foi considerado muito controverso e rejeitado por seus pares, quase a ponto de ser punida por prática médica inadequada, mas já era conhecida em outros países. Graças à sua inabalável perseverança e a boa receptividade por parte dos pacientes, prosseguiu seu projeto que se materializou superando todos os obstáculos sem nunca se distanciar de seus propósitos. Considera que “os melhores sonhos são coletivos e não individuais” e como exemplo do bom coletivismo citou o aplicativo Waze que funciona bem porque todos colaboram.

Como um modo de medir a receptividade de seus projetos realizou uma pesquisa prévia entre os pacientes e descobriu com surpresa que o que eles queriam era apenas ter alguém por perto para confortá-los, e nada mais do que suprir esta carência tão simples e básica.

Para responder o questionamento sobre a Fundação Poder Jovem, um segmento do VER , Dra. Glória contou que esta surgiu com a observação da falta de interação dos jovens adolescentes no setor infantil na brinquedoteca do Hospital, um local criado para atividades lúdicas. Os adolescentes colocados neste ambiente se sentiam deslocados, o que os mantinha reclusos. Graças a presença de professores do Estado que davam aulas regulares às crianças internadas, estes jovens foram estimulados a interagir entre eles e ganharam espaço próprio, inclusive para conversar abertamente sobre o estigma da doença. Nos finais de semana foi permitido que se usasse o anfiteatro do Hospital para desenvolver atividades artísticas, em particular o teatro como um canal de importante interação entre arte e saúde, segundo o pensamento da Dra. Glória. Para estas atividades eram trazidos profissionais de fora que serviram de estímulo a estes jovens, e em 2007 surgiu a primeira peça de teatro. A atenção ao adolescente foi sendo incrementada até que em 2010 foi criada uma associação, que mais tarde gerou uma fundação com sede própria fora do hospital. Para a Dra. Glória, mesmo com todos os trâmites burocráticos e financeiros para regularizar, este projeto teve uma ajuda inestimável do Dr. Ailton Grazioli (referindo -se a um importante advogado e promotor de Justiça de São Paulo). Por estar em sede fora do Hospital, foi possível encaminhar vários projetos a organismos internacionais como a ONU e UNAIDS, e atualmente 6 projetos estão à espera de aprovação, mesmo na pandemia.

Seguindo adiante na entrevista, a Dra. Glória mais uma vez mostra uma personalidade forte e madura em reconhecer as dificuldades e pedir ajuda aos outros, sem nunca desistir. Como médica de Pronto Socorro, em plantões exaustivos por anos a fio, sente que o desgaste físico é inevitável e que a idade é um fator limitante chegando nos 60+, disse. Por outro lado, permanece com a mente plenamente ativa e a exemplo de Oscar Niemeyer, quer morrer velha com mais de 100 anos e com a mente jovem. Dito isto, com tanta energia e força de vontade imbatíveis, planeja estudar MBA em gestão de serviços de saúde, na FGV, online em tempos de pandemia. Em sua visão, sempre é possível alcançar novos objetivos, adaptando-se às mudanças na vida com o passar do tempo. Este pensamento alinha-se com os das entrevistadoras, enfatizando que a idade depois dos 60 anos não impede de realizar tarefas e alcançar metas a longo prazo.

Respondendo à questão relativa a mais um grupo ao qual pertence, o Mulheres do Brasil, Dra. Glória disse que conheceu a fundadora Luiza Trajano em uma palestra no VER em 2014. Ainda nos primórdios deste projeto, com aproximadamente 60 mulheres, Dra. Glória foi convidada a participar para organizar o Comitê de Saúde, no ano seguinte. Na época havia poucos profissionais da área da saúde, mas o grupo foi formado com pessoas de todos os segmentos da comunidade, como donas de casa e profissionais de outros setores não ligados à saúde, uma vez que a Dra. Glória apostou na ideia de que todas as pessoas possuem capacidade de saber o que é saúde. Era fundamental que os trabalhos deste comitê estivessem ligados a uma escola como base de conexão entre as pessoas. Foi escolhida uma escola da periferia pobre de São Paulo, que funcionava dentro de um container, a Escola Odair Martiniano também conhecida como Mandela, na Cohab Raposo Tavares. Foi feito um diagnóstico das necessidades da região e foram escolhidos alguns projetos para dar início. Todos os alunos da escola receberam atenção médica e foram examinados em testes de fonoaudiologia para diagnosticar dificuldades de audição como também exame oftalmológico pela Fundação Rubem Cunha (de oftalmologia). Atualmente neste local se desenvolve um projeto online de Jamile Coelho (educadora) que ensina alfabetização emocional aos professores para lidar com sentimentos como raiva, tristeza e afeto. Para a Dra. Glória a escola é um templo de transformação, e uma referência para a vida toda, falando das lembranças de sua vida escolar.

Dra. Glória deixou um convite para que todos participem do grupo Mulheres do Brasil composto de diversos comitês, inclusive com núcleos até no exterior.

Esta incansável mulher, ainda participa do grupo Unidos pela Vacina (formado por um grupo de empresários e liderados por Luiza Trajano em favor da vacinação em massa), que considera um grande influenciador das boas práticas de saúde e acha importante seguir as recomendações contra a pandemia, inclusive não espalhar fake news.

Respondendo a questões pessoais e familiares, a Dra. Glória relatou que é preciso estar totalmente envolvida nas atividades que se propõe a fazer independente de quais sejam. Como exemplo, contou que, devido à sua grande paixão por museus, durante alguns anos programou visitas educativas semanais com seus dois filhos quando eram pequenos, e estes momentos de lazer que pôde desfrutar da companhia deles são memoráveis. Por isso acha importante equilibrar e gerenciar a divisão do tempo para todas as tarefas sem deixar de descansar com um sono adequado que recomponha o cérebro. Recomenda-se que é preciso avaliar e dar o devido valor a tudo, ser flexível para reformular e mudar os objetivos se necessário no decorrer da vida.

Perguntada sobre a atual situação na crise, acredita que a liderança é fundamental para que qualquer projeto seja bem-sucedido, assim como para traçar as diretrizes a serem seguidas. A dificuldade de aceitar um problema é até normal, e prejudicial num panorama incerto, mas é muito otimista porque acredita que o Brasil é uma grande nação que inspira muita esperança e confiança. Disse que “o mal é pequeno e ruidoso e o bem é grande e silencioso, e é preciso inverter”.

Voltando a falar sobre trabalho profissional e voluntariado, Dra. Glória acredita que para certo tipo de trabalho não há dinheiro que pague, e ser voluntário faz parte de seu propósito na vida para sempre, que errar é um grande aprendizado e que momentos difíceis sempre acontecerão. É preciso estar preparado pois o imprevisível acontece.

No final da entrevista deixou mensagens inspiradoras de suas lembranças nas grandes questões da vida: “quando valorizamos uma vida valorizamos toda a humanidade” e “nada grande se faz sem alegria”.


Site: versocial

Referências:

A Poder Concept, tem por objetivo ajudar mulheres e empresas a mudarem mindsets, seus pensamentos e inovarem suas atitudes; acreditamos em um mundo em que todos sejam capazes de seguir seus sonhos e realizá-los.

Os aspectos envolvidos na criação e operação serão de capacitação, assessoria e consultoria, que terá como foco inicial voltado para jornada empreendedora, preparando mulheres a serem consultoras para atenderem os clientes-alvo. Inicialmente serão empresas do setor privado; sendo micro, pequenos e médio portes, provendo conhecimento para que possam atuar como grandes geradores de novos empregos.

Revisão ortográfica: Geyse Tavares



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