ECONOMIA ‣ Empreender

Se conheceram no ambiente corporativo, trabalharam como colunistas nas revistas "Época Negócios", "Pequenas empresas & grandes negócios" e como convidadas em outros veículos. O ser humano está sempre em busca de novas motivações, assim, as duas, sentiram a necessidade de novas inspirações.

Partiram juntas em busca de novos conhecimentos, embora com objetivos aparentemente distintos. Em 2013, se mudaram para os EUA, próximo ao Vale do Silício, até pela atração romântica de encontrar grandes e novas oportunidades.

Participando de eventos na área de empreendedorismo, constataram que, mesmo nos Estados Unidos, a maioria das empresas de startups eram fundadas por homens, isso causou estranheza pela desigualdade, principalmente, por relatórios divulgados de ser o país mais empreendedor do mundo, com oportunidades tanto para mulheres como para homens. Estatísticas indicam a importância da participação da mulher para o crescimento econômico de qualquer país.

Surgiu então a curiosidade de saber como seria esse tema ao redor do mundo. A perspectiva de se enveredar pelo empreendedorismo nem sempre fez parte de suas vidas, mas com essa curiosa experiência se apaixonaram pelo tema. Aliadas ao desejo de explorarem o mundo, estruturaram um projeto que pudesse dar uma visão global às diversas culturas, focando as atividades à independência econômica feminina. O projeto The Girls on the Road nasceu da vontade de contar histórias, compartilhar experiências, aprender e inspirar através de exemplos, referências, trajetórias e realizações de mulheres de todas as partes do mundo e de todas as idades.

O projeto se consolidou em 15 meses - de julho de 2016 a outubro de 2017, passando por 24 países e realizando mais de 300 entrevistas o que gerou a produção do livro “Do jeito delas” - lançado em outubro de 2018 - que traz mais de 100 histórias, além de um relato sobre o ecossistema empreendedor nesses países. Posteriormente, após um processo de amadurecimento, produziram o documentário “Do nosso jeito” - com estreia em março de 2021 - uma narrativa que mescla o protagonismo de dez mulheres empreendedoras, inclusive as autoras.

O caminho percorrido foi o mais variado possível, passaram por todos os modais - utilizando sempre os mais baratos - até mototáxi e caronas. Tudo foi muito planejado, através de uma curadoria considerando países com representatividade de diversidade geográfica, de desenvolvimento econômico e, fundamentalmente, países que não constam em nenhum relatório de empreendedorismo.

Mesmo com poucos recursos, acreditaram no projeto que foi basicamente financiado pelas duas, sem apoio financeiro, até por não acreditarem num projeto dessa envergadura e principalmente feminino. Conseguiram apoio de alguns amigos e captação de recursos em troca de prestação de serviços.

Relatam que compartilhar essa experiência e conhecimento, contribuir com a trajetória de profissionais que buscam o protagonismo nas suas carreiras é inspirador e reforça a autoconfiança. Cada história tem algo único que mostra ser possível começar um negócio, transformar uma atitude ou um projeto de vida.

Segundo elas, as mulheres têm interesse em empreender, independente do país, mas elas encontram várias dificuldades: investimentos, a questão da autoconfiança e mulheres que estão em ambientes que têm menos modelos femininos tendem a empreender menos. É importante trazer histórias de países nos quais a cultura do empreendedorismo quase não existe.

Em tempos de crise, é quase impossível não pensar no empreendedorismo como alternativa. Transformar um passatempo em renda, fazer cursos para seguir outros rumos em outra carreira ou começar um projeto novo, talvez um sonho antigo. Foi bom constatar que hoje, no Brasil, o estigma é por oportunidade e não por necessidade.

Quando saíram do país, em 2013, a realidade era outra em iniciativas de empreendedorismo. Atualmente, existem importantes empresas que prestam orientações sobre o assunto, embora o SEBRAE ainda seja uma referência. Na América Latina, o Chile apresenta o ambiente mais avançado e se destaca no que se refere ao apoio focado ao empreendedorismo feminino, oferecendo programas de formação, linhas de crédito com financiamento de até 100%.

Ressaltam que os contatos marcantes vão inspirá-las sempre, além do empreendedorismo, pela riqueza descoberta, a troca e o acolhimento. Essas diferenças culturais são importantes, pois cada lugar apresenta suas características empreendedoras. O Brasil é um país extremamente empreendedor, que chega quase ao equilíbrio dos gêneros, mas é motivado, em sua grande maioria, pela necessidade. No Japão, por exemplo, você pode ter uma vida útil de trabalho até você casar ou engravidar.

Após toda vivência inspiradora, o desejo das The Girl on the Road, é disseminar o trabalho realizado, na expectativa de impulsionar quem quer começar seu negócio naquele lugar ou cidade que é retratada. Esperam que essas mulheres ao lerem o livro e ao assistirem o documentário se identifiquem com as dificuldades, com as histórias e também com o país, se tornando verdadeiras protagonistas.

A mensagem que fica: Empreendedorismo não é para todos, isto, não configura em hipótese alguma, um fator negativo. Foque no que quer fazer, não no que as pessoas queiram que faça. O medo faz parte, a dúvida faz parte, divida a sua ideia e tome a decisão de começar.

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Revisão ortográfica: Anne Preste