Conversa com Mulheres apresenta Gisela Cury


Em live para o Poder Concept “Conversa com Mulheres” entrevista a empreendedora Gisela Cury que encara a vida como um desafio e com muita verdade.


Sonia Okita04.05.2021

A vida para Gisela Heizenreder Cury se chama desafio, e encara tudo com muita verdade. Nascida em Buenos Aires e criada em São Paulo, Gisela é casada com o fotógrafo Cesar Cury, e mãe da Luisa.

É formada em Letras, trabalhou na Microsoft como gerente administrativa e foi coordenadora geral de produção executiva do estúdio do fotógrafo Bob Wolfenson, em São Paulo. Criou a sua própria agência, a PH Produções, hoje Terra À Vista Produções e presta consultoria para projetos de responsabilidade social.

Em 1997, Gisela teve que fazer uma pausa em sua carreira após uma gravidez de risco e o nascimento prematuro de sua filha, que ficou internada em UTI neonatal por três meses, e dedicou-se integralmente à filha até completar 10 anos. Hoje ela é estudante de Jornalismo.

Gisela contou que sentia falta do trabalho, mas não quis voltar para o mundo corporativo e escolheu o terceiro setor. Capacitou-se em projetos de planejamento estratégico e captação de recursos pelo Senac e define-se como autodidata. Curiosa nata, aprendeu fazendo e acredita que este é o caminho para transformar o mundo, pela troca de saberes, para tornar a sociedade mais justa e solidária.

Engajada com as ONGs, iniciou na ONG Associação Viva e Deixe Viver e capacitou-se para contar histórias para crianças em hospitais. Na ONG Associação Cidade Escola Aprendiz foi coordenadora de comunicação institucional por 4 anos. Na ONG União de Moradores do Comércio de Paraisópolis organizou o evento Mostra Cultural da Comunidade. Criou o Instituto Rampa do qual hoje é presidente e é coordenador do projeto Sacola Tropical, que nasceu em outubro de 2016, reunindo costureiros da periferia paulista na fabricação de bolsas de feira em uma versão repaginada. Para o lançamento da marca no verão de 2017, fez apenas algumas postagens nas redes sociais e foi um sucesso imenso que não dava conta de tanta procura.

Respondendo à pergunta de como surgiu a ideia de criar a Sacola Tropical e quantos itens de produto produz hoje, Gisela disse que o projeto nasceu no final de 2016. Pelo Instituto Rampa já existiam vários projetos, inclusive o Olhares e Olhares, projeto de fotografia que já terminou, e então Gisela idealizou outro projeto que gerasse renda de forma a capacitar e dar autonomia a pessoas das comunidades, pensando nas mães e chefes de família, considerando que estas são mais de 60% das famílias. Ela se inspirou numa sacola parecida com sacola de feira que comprou de um camelô no centro do Rio, e uniu-se às costureiras da comunidade de Paraisópolis para começar com este item, desenvolvido em três tamanhos. Devido à larga aceitação com grande sucesso pela divulgação nas redes sociais, o trabalho foi intensificado com as costureiras de outras comunidades porque era época de final de ano e muitas encomendas eram para presentear, gerando uma produção de mais de mil sacolas em um mês. Hoje já conta com 40 produtos e foram desenvolvidos outros modelos, como sacola e mochila, necessaire, jogo americano, cesto multiúso, mala de viagem, aproveitando as sugestões do público das feiras e bazares, o principal canal de renda, ressalta que a troca de ideias com as pessoas são enriquecedora e enfrentar desafios é uma grande conquista para desenvolver novos produtos.

Em resposta à expectativa de crescimento, disse que nos anos de 2017 a 2019 o crescimento da marca foi significativo e conta com 17 costureiras de Paraisópolis, Campo Limpo, Capão Redondo e Taboão da Serra, e uma equipe para as redes sociais, mas ainda continua como única coordenadora até o produto final para comercializar já que não é fácil contratar auxiliares para quem trabalha no terceiro setor. Com a pandemia em 2020, houve uma desestruturação devido ao fechamento das feiras e eventos, sendo necessário transformar para iniciar vendas online uma gama de 400 estampas de 40 produtos, o que dificultou a adaptação a esta nova modalidade. Em contrapartida, as vendas pelas diversas redes sociais têm melhorado mesmo na pandemia, principalmente como brindes corporativos para empresas e influencers que precisam manter a conectividade com os clientes, com produtos personalizados e exclusivos.

Esta empreendedora acredita que o Sacola Tropical é um produto genuinamente brasileiro e pode ser levado para todo o Brasil, pois evoca a memória afetiva. Além disso, as costureiras trabalham em casa e podem gerenciar o próprio tempo, possuindo uma fonte de renda complementar e além de cuidar da casa e dos filhos. O trabalho das costureiras é pago conforme a produção, e é considerado muito importante que não haja conflito nem pressão neste relacionamento, respeitando a autonomia das costureiras que podem atender seus próprios clientes e agregar familiares para o trabalho de produção das sacolas. No princípio de capacitar essas mulheres, está também o de caminhar juntos pela autonomia, motivo de muita emoção de Gisela.

O processo de produção desde a seleção e compra de insumos até a entrega final demanda um tempo de trinta dias, e nas etapas iniciais do corte a laser é a parte de maior custo, feito por terceiros e por vezes em outro município. No futuro pretende-se agilizar esta etapa com a compra do equipamento de corte pelo próprio.

Gisela não se intimida em sofrer pressões para desenvolver novos produtos a pedido de clientes e acha um estímulo desafiador muito positivo. Considera uma tendência as empresas que buscam agregar ao brinde personalizado um valor social e artesanal que gere renda nas comunidades.

Sobre o Instituto Rampa, Gisela explicou que nasceu depois da vivência com sua filha hospitalizada e de sua experiência com cuidados especiais. Depois da alta hospitalar, sua filha necessitou de equipamento hospitalar em sua casa e sentiu muita dificuldade de adaptação. Espelhada nesta experiência, compartilhou com outros pais as preocupações de ter filhos com necessidades especiais. Assim nasceu o Rampa que se iniciou com troca de relatos e experiências, por mais de 5 anos. Depois disso, começou a trabalhar no Cidade Escola Aprendiz. Bastante emocionada, Gisela contou como sua filha Luisa foi determinante para que saísse do mundo corporativo e se envolvesse com o terceiro setor. Em sua grata convivência com Gilberto Dimenstein, o fundador da ONG Cidade Escola Aprendiz, o considera responsável por lhe ensinar um olhar humanista e dar maior sentido na vida, transformador para o que faz hoje. Como humanista e jornalista, ele deixou muitas sementes, declarou.

Depois que saiu da Escola Aprendiz foi trabalhar em outra ONG, a União de Moradores de Paraisópolis como assessora de Gilson Rodrigues, e então considera que na favela aprendeu o que é ser cidadã, como cobrar dos órgãos públicos, atenção às necessidades da cidade. Sua maior escola foi a escola da vida, de correr atrás e aprender fazendo, disse Gisela.

Sobre seu trabalho na empresa Microsoft, relatou ser muito exaustivo e na época não via possibilidade de ter filhos. Ponderou que hoje em dia as empresas são mais flexíveis neste assunto, mas naquela época isso não existia, falou. Pediu demissão e as pessoas acharam uma loucura se desligar de uma empresa desse porte para ter filhos. O único que apoiou e compreendeu sua atitude foi seu diretor que tinha mais de 50 anos, disse Gisela. Considera que a mulher precisa estar atenta ao relógio biológico para engravidar, mesmo em detrimento da carreira profissional. Assim começou sua trajetória voltada a projetos sociais que narra nesta entrevista.

Explicou que o nome Rampa foi escolhido devido ao sentido literal de acesso e o grupo de pais sentiam falta de uma rampa para crianças cadeirantes no local onde se reuniam. O significado simbólico deu nome ao projeto do Instituto Rampa como acesso à informação. O início deste projeto foi voltado para a saúde devido à relação com as histórias de vida pessoal.

Algum tempo após engavetado, o projeto ressurgiu com o objetivo de dar qualidade de vida aos participantes de forma abrangente na saúde, educação, cultura, esportes e demais segmentos nas comunidades. Surgiu então o projeto fotográfico Olhares e Olhares, reflexo do trabalho da família na arte da fotografia. A câmera de celular foi usada como instrumento de trabalho dos alunos para treinar o olhar no seu entorno e colheu frutos maravilhosos, explica Gisela, porquê de 20 alunos, 4 escolheram a fotografia para trabalhar.

Instigada por Myrian Dimenstein, irmã de Gilberto e participante da audiência, citada como diretora pedagógica do Rampa, Gisela falou das reformas nas humildes casas das crianças provenientes do HU (Hospital Universitário) onde moravam, que precisavam de um lugar com quarto mobiliado e com acesso adaptado para cadeira de rodas. Através do projeto foi possível fazer as reformas com fundo arrecadado de doações e levar as crianças de volta para casa.

Esta mulher empreendedora conseguiu uma emenda parlamentar através de um vereador para o projeto Olhares se realizar, que agora está inscrito nas leis de incentivo municipal, estadual e federal. Além disso, Gisela contou que a Sacola Tropical nasceu de investimento próprio, com trabalho intenso por dois anos investindo tempo e dinheiro, mas atualmente gera uma fonte de renda para sua subsistência. Gisela ainda tem em mente uma pequena oficina, num galpão para trabalhar com os brindes corporativos que tem muita demanda, e reconhece que no momento de crise e instabilidade em que o país se encontra qualquer novo empreendimento se tornou praticamente inviável. No entanto, falou de um projeto que está desenvolvendo com uma empresa e busca patrocínio para capacitar pessoas para a área da cultura. Relata que no terceiro setor os projetos não são autossustentáveis e o patrocinador é fundamental, um gargalo deste segmento, visto que as empresas patrocinadoras tiveram faturamento reduzido e não pagaram impostos, que anteriormente eram direcionados para os projetos sociais.

Gisela falou de um importante acontecimento no ano passado, o lockdown que atemorizou a continuidade de projetos sociais, felizmente reverteu em produção de máscaras nas comunidades da periferia, como Paraisópolis e Jardim Karla em São Bernardo do Campo, para empresas que contrataram a produção para doação de máscaras e foi possível fabricar 400 mil unidades. Apesar do trabalho intenso, foi gratificante e conseguiu manter a arrecadação.

Hoje em dia, na pandemia, a cesta básica é muito importante, mas é preciso repensar no planejamento estratégico pós-pandemia, inclusive na ideia de dois anos atrás, da oficina num galpão. Foram convidadas várias pessoas engajadas no social para se tornarem membros do Instituto Rampa, e participarem do crescimento num futuro próximo. Gisela está muito confiante no sucesso dessa iniciativa.

No final da entrevista, Gisela deixa uma mensagem para as pessoas que acham um caminho e alternativas que devem seguir e acreditar. Para ser um bom empreendedor é preciso perseverança e ter um perfil multitarefa, se dedicar e investir apesar de todos os percalços. A sensação de realização não tem preço, resultado do próprio esforço. Gisela conta com muito entusiasmo sobre o grupo que participa formado por expositores de feiras, que se uniram na pandemia e criaram os eventos online pelo WhatsApp e Telegram, chamado Mercado Conecta. Neste grupo os expositores se ajudam uns aos outros, os nano empreendedores. O Mercado Conecta substitui o canal de vendas que eram as feiras, e Gisela definiu como extremamente prazerosa sua participação. Deixou um convite para o próximo evento do Mercado Conecta que será focado no Dia das Mães, com apresentação de diversas marcas autorais.


Redes sociais:


Instituto Rampa:

Facebook

Instagram

Twitter


Sacola Tropical:

Facebook

Instagram

A Poder Concept, tem por objetivo ajudar mulheres e empresas a mudarem mindsets, seus pensamentos e inovarem suas atitudes; acreditamos em um mundo em que todos sejam capazes de seguir seus sonhos e realizá-los.

Os aspectos envolvidos na criação e operação serão de capacitação, assessoria e consultoria, que terá como foco inicial voltado para jornada empreendedora, preparando mulheres a serem consultoras para atenderem os clientes-alvo. Inicialmente serão empresas do setor privado; sendo micro, pequenos e médio portes, provendo conhecimento para que possam atuar como grandes geradores de novos empregos.

Revisão ortográfica: Anne Preste


Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade exclusiva de seus autores e pode não ser necessariamente a opinião do Cidadão e Repórter.Sua publicação têm o propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.