Conversa com Mulheres apresenta Cicera Nunes


Em live para o Poder Concept “Conversa com Mulheres” entrevista a empreendedora Cicera Nunes que fala sobre sua garra e paixão pelo que faz.


Cleo Brito08.05.2021

Cícera Nunes da Cruz, presidenta da FETAPE - Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado de Pernambuco; natural de Serra Talhada, PE, da comunidade de Pilãozinho. Agricultora familiar, assentada da reforma agrária no assentamento Poço do Serrote, localizado na zona rural. É formada em Serviço Social, com pós-graduação em Gestão da Capacidade Humana.

Originária de uma família numerosa de dez irmãos. Quando a mãe faleceu, Cícera tinha 11 anos. As dificuldades pela sobrevivência eram muitas, tudo era muito longe. Mesmo assim, aos 12 anos, convenceu o pai deixá-la estudar em uma escola distante há 12 km de sua casa. Aos 20 anos completou o ensino fundamental. Um passo para sua formação.

Quando conheceu a cidade e ao avistar casas de andares se sentiu impactada com aquela visão urbana, pois viveu sempre na roça e nem televisão possuía, era como se fosse uma fantasia da mente e, ao mesmo tempo, apreensiva, pois se sentia estranha naquele mundo. Embora, com o desejo latente de retornar às suas raízes, essa vivência foi o despertar para a luta em prol de um mundo melhor para os ruralistas.

Atuou, simultaneamente, em vários projetos sociais como: coordenação municipal da Pastoral da Juventude, pela Diocese de Afogados da Ingazeira, no Movimento Sindical Rural, junto ao Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais do Nordeste (MMTR/NE) e, por um período de dois anos, esteve como Agente de Desenvolvimento Rural (ADR), pela Ebape, que hoje é o IPA.

Em 2006, iniciou seu mandato na Diretoria de Política para a Juventude da FETAPE. Em 2010, foi eleita diretora de Finanças e Administração da Federação, cargo para o qual foi reeleita em 2014 e seguiu até 2018. Atualmente preside a FETAPE, sendo a primeira mulher a assumir este cargo.

Hoje, às entidades sindicais agregam cerca de 50% de mulheres nas lideranças. Todo esse movimento iniciou-se nos anos de 1980, por ocasião da grande seca do Nordeste, que durou cerca de seis anos. A maioria dos homens emigrou para o Sul, onde acabaram ficando, em busca de sobrevivência, o que tornou imperativo às mulheres a luta para levar o alimento à família. Naquela época, as mulheres não tinham direito a voz e nem podiam ser sindicalizadas, mas pela necessidade, se organizaram e foram denominadas as “Viúvas da Seca”. A luta continuou, se fortaleceu e nos anos de 1990 foi embalada pelas expressões: Olê Mariê, Olê Mariá / Mulher sai dessa cozinha / Venha ocupar o seu lugar (Trecho da canção “Olê Mariê, Olê Mariá”, de Nazaré Flor).

A vida sempre nos coloca frente a conflitos, diz Cícera, e temos que estar preparados para administrar. Quando se trata de movimentos sindicais, seja rural ou urbano, a luta pelos direitos é desafiante. A sociedade de maneira geral não compreende o significado das reivindicações, que não são aceitas ou entendidas, principalmente, no sindicalismo rural que se depara com muita discriminação. O conflito de gêneros também é um desafio, que enfrenta às vezes violências psicológicas e até físicas.

Tendo uma forte ligação com a natureza, pelas suas raízes, Cícera concilia a vida pessoal transitando da melhor maneira possível entre os campos urbano e rural, pois o seu lema é lutar pela agricultura familiar. O Estado de Pernambuco tem hoje cerca de 200 mil estabelecimentos de terra, com alternativas apenas para a subsistência, é necessário, contudo, apoio e investimentos técnicos para expansão neste segmento. Conforme dados do IBGE, 70% do consumo da mesa do brasileiro vem da agricultura familiar. Os governos têm que se preocupar com a qualidade e a quantidade de alimentação. O campo e o urbano têm que se unir.

Os sindicatos rurais geralmente estão aptos para orientar e colaborar com a capacitação tanto para o campo rural como para o urbano, sempre visando o agroecológico. Existem várias iniciativas privadas, nacionais e internacionais que incentivam, financeira e tecnologicamente para o crescimento da agricultura familiar, incrementando e estimulando a auto alimentação, além da distribuição para as redes comerciais, proporcionando um crescimento de novos postos de trabalho.

Para amenizar o momento delicado com o advento da pandemia, quando diversos fatores fogem do controle, em 19 de abril último, Cícera liderou a sétima edição do movimento Um Grito da Terra, com intuito de reivindicar, junto ao poder público, alternativas para obtenção de recursos aos agricultores familiares, que estão sem vender a sua produção. A grande preocupação é o avanço da fome e, em consequência, também da violência A campanha, um evento online, registrou a presença de mais de mil participantes e contou com o apoio de vários artistas. Nessa mesma data, em continuidade a campanha Agricultura familiar cuida da terra e alimenta o mundo, várias famílias foram beneficiadas com a distribuição de 3000 toneladas de alimentos em vários municípios de Pernambuco. Ressaltando que movimentos como esses são ecoados em todo o Brasil.

Cícera busca motivação no estudo, sempre se atualizando, viaja pelo Brasil e o mundo ensinando e aprendendo. Mas a maior motivação é através da vivência coletiva, seja com jovens ou mais velhos, pois esta troca de experiências só acrescenta e estimula a lutar por pessoas que não têm força para falar por si. Trabalhando tanto no associativismo como no cooperativismo, com ética, respeitando sempre o Estado e a Constituição.

Mensagem final de Cícera Nunes: é surpreendente como somos capazes de iniciativas; empreender em um produto agroecológico não é tão difícil, principalmente quando envolvemos e articulamos com a família. Para a conquista de um Brasil melhor é importante ensinar e orientar as crianças quanto ao respeito e a importância do agroecológico. A alimentação é responsabilidade de todos e de todas.



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A Poder Concept, tem por objetivo ajudar mulheres e empresas a mudarem mindsets, seus pensamentos e inovarem suas atitudes; acreditamos em um mundo em que todos sejam capazes de seguir seus sonhos e realizá-los.

Os aspectos envolvidos na criação e operação serão de capacitação, assessoria e consultoria, que terá como foco inicial voltado para jornada empreendedora, preparando mulheres a serem consultoras para atenderem os clientes-alvo. Inicialmente serão empresas do setor privado; sendo micro, pequenos e médio portes, provendo conhecimento para que possam atuar como grandes geradores de novos empregos.

Revisão ortográfica: Anne Preste


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