Pandemia e o cisne negro no mercado financeiro

por Lala Évan

27.07.2020

Os países deveriam tratar seus empreendedores como soldados. Nassim Taleb

No último dia 17 de julho no evento Expert XP 2020, voltamos a ouvir a expressão “cisne negro”, no contexto de eventos imprevisíveis, que foi popularizada por Nassim Taleb, mas não foi criada por ele. A origem da expressão é incerta, mas o primeiro “popularizador” dela (antes de Taleb) foi o filósofo Inglês John Stuart Mill, no século XIX.

Na Inglaterra do século XVII, acreditava-se que todos os cisnes eram brancos, pois nunca ninguém havia visto um cisne preto. A lógica era que “se ninguém nunca viu, é por que não deve existir”. Esse falso raciocínio é conhecido também como “problema da indução” ou, como se diz popularmente, em muitos círculos científicos e filosóficos: “Ausência de evidência não é evidência de ausência”.

A crença na “impossibilidade” da existência de cisnes negros caiu por terra quando o primeiro cisne dessa cor foi avistado, no século XVIII, na Austrália.

Considerado um dos maiores pensadores do setor financeiro, Nassim Taded nos diz que não só no universo dos investimentos, temos o cisne negro e o cisne branco também podem estar afetando as suas finanças pessoais e a sua estratégia como investidor.

Ou seja, basta UMA ÚNICA observação em contrário, de uma tese qualquer, para que ela “desmorone”. “Depende do observador.” Segundo ele, pandemias acontecem desde sempre, são parte da história econômica. “Como, então, podem ser um cisne negro?”

Hoje em dia, ele afirma, ainda que é ainda mais provável que aconteça uma pandemia, porque é mais fácil viajar de um país a outro. “Se você tem um evento em São Paulo, vem gente do mundo todo e, depois de quatro dias, tudo que essas pessoas aprenderam ali viaja o mundo.”

Taleb reitera que as pandemias são previsíveis. “Você sabe que vão acontecer, mas não sabe quando e onde”, diz. E, na visão dele, havia mecanismos para lidar com o novo coronavírus antecipadamente – o que não foi feito.

O evento foi um cisne negro não pela pandemia em si, mas pela reação dos governos e das autoridades sanitárias, que geraram total descompasso ao decretarem lockdowns e quarentenas em larga escala em várias cidades, sem visões sistêmicas “congelando” e causando “retrocesso” nas atividades econômicas.

Segundo Nassim Taleb, o que precisamos é desenvolver “robustez” (num nível pessoal e organizacional) para conseguirmos absorver os impactos desses eventos. Posteriormente, Taleb cunhou o conceito de “antifragilidade”, que seria a evolução da robustez.

Se robustez é a propriedade de “aguentar impactos”, a antifragilidade (que é explorada em seu livro “Antifrágil”) seria a propriedade de se beneficiar desses impactos – de “prosperar com o caos”.

Sendo bem generalista, muita coisa estava pensada e planejada para ser mudada nos mercados antes de a pandemia cruzar oceanos em velocidade nunca vista; o vírus só colocou uma turbina no processo.

Uma das formas de se tentar obter benefício de eventos de alto impacto é desenvolvendo opcionalidades, nome que ele dá a pequenas “apostas” de baixo custo e com baixa probabilidade de ocorrência. Porém, caso um evento de grande magnitude ocorra, o ganho daquela “aposta” será muito maior que o custo dela.

No fim de sua palestra, ainda falou um pouco sobre empreendedorismo, e defendeu que os governos estimulem as pessoas a empreender. Para isso, afirma que “as falhas devem ser mais bem aceitas, apoiando-os a fazerem seus trabalhos. Precisamos de pessoas que fracassem cedo”, conclui, dizendo que o empreendedorismo deve ser estimulado.

Como exemplo, ele cita o estado americano da Califórnia – local com maior índice de falências de empresas no país, mas também sede do Vale do Silício, o berço das startups mais inovadores do planeta.

Enfatizou que 98% dos produtos à venda no mercado não estão à venda para suas funções originais. “As coisas são apresentadas como resultado de pesquisas, mas são na verdade fruto de tentativa e erro, é isso que dá dinheiro”, diz. Ele também cita como exemplo as farmacêuticas, que desenvolvem um remédio para uma doença e ele acaba sendo útil para outra.

O evento da XP trouxe o conhecimento ao nosso alcance, com muitas alternativas a serem analisadas e nos próximos artigos vou contar um pouco mais das estratégias sensacionais que passei a avaliar. Bora ler o próximo.



Revisão: Maitê Ribeiro
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