Polônia e Israel – Sanção de nova lei reacende debates sobre o holocausto e o antissemitismo na Polônia

Promulgação da legislação marca nova fase na crise diplomática envolvendo os dois países.

Rafael Isenof

24.08.2021

Imagem: Arabnews.com

É incontestável que a Polônia foi um dos países mais atingidos pelas mazelas do holocausto. Durante a ocupação nazista, cerca de 3 (três) milhões de judeus foram mortos e outros milhares foram submetidos a trabalhos forçados em campos de concentração, a exemplo de Auschwitz-Birkenau e Treblinka, ambos localizados em território polonês.

Como se não bastassem todas as feridas históricas, acusações recentes do governo israelense, principal nação judia, consideram uma recém-sancionada lei polonesa como “antissemita”, causando uma crise diplomática entre os dois países. Em resposta à nova legislação, Israel retirou, imediatamente, seu enviado diplomático de Varsóvia, capital da Polônia.

O PM polonês Mateusz Morawiecki assinou a declaração conjunta polonês-israelense em 27 de junho. Foto: PAP / Leszek Szymański

Sob o pretexto de restaurar a segurança jurídica, referida lei define o prazo limite de 30 anos para que propriedades confiscadas/tomadas por nazistas, à época da Segunda Grande Guerra, e pelo próprio governo do país durante a vigência do regime comunista, possam ser reivindicadas e recuperadas pelos legítimos sucessores/herdeiros. Tal prazo, todavia, vem sendo duramente criticado internacionalmente, vez que a ocupação nazista se findou em 1945, há 76 (setenta e seis) anos.

Andrzej Duda, atual presidente da Polônia, ao sancionar a lei, defendeu que ela daria um filme ao “caos jurídico” envolvendo tais propriedades, reiterando a ideia de que elas estariam em uma espécie de limbo jurídico, sem terem os proprietários definidos.

A aprovação da legislação reacende uma discussão recente e “azeda” a relação com Israel, que tentava se recuperar da sanção de outra lei, esta de 2018, que desassociava os poloneses dos crimes do holocausto. Daquela vez, a tensão, mesmo que existente, durou pouco e parecia existir um esforço conjunto para abafar ocorrido, tanto que os países assinaram uma declaração conjunta ratificando os termos da lei, diferente do que está ocorrendo no momento, como se pode observar pelo tom da fala do Ministro das Relações Exteriores de Israel, Yair Lapid:

"A Polônia aprovou hoje (e não é a primeira vez) uma lei imoral e antissemita". O Ministro anunciou, ainda, a decisão de revisar a declaração de 2018 que “limpava” a imagem da Polônia diante ocorrido na Segunda Guerra.

O primeiro-ministro israelense Naftali Bennett fala na reunião de gabinete semanal no Ministério das Relações Exteriores em Jerusalém, domingo, 8 de agosto de 2021. (Ronen Zvulun / Pool via AP)

No mesmo sentido, Naftali Bennet, primeiro-ministro de Israel, aponta que a medida demonsra "desprezo pela memória do Holocausto", além de ser “vergonhosa”, críticas que também foram endossadas pelo governo estadunidense.

Como contramedida à retirada do diplomata israelense de Varsóvia, o governo polonês também convocou seu embaixador em Jerusalém de volta, evidenciando que, pelo menos a princípio, a Polônia não pretende estancar o caso ou prestar esclarecimentos. Diante disso, a tensão tende a aumentar nas próximas semanas.

Revisão ortográfica: Anne Preste

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