Breve história da maçonaria

por João Aranha

03.06.2020

A Maçonaria é uma das organizações secretas mais antigas da humanidade. Sua origem é controversa. Alguns acreditam que seu início se deve aos pedreiros que foram os construtores das grandes catedrais e igrejas da Europa medieval.

Outros afirmam que os precursores foram os cavaleiros templários e regridem ainda mais no tempo, creditando sua origem ao grande templo de Salomão construído em Jerusalém. Os que defendem essa última hipótese acrescentam que, hoje em dia, a maçonaria seria uma visão moderna e adaptada dos grandes segredos contidos no templo de Salomão, onde no Tabernáculo se encontrava a Arca da Aliança.

Há quem veja na maçonaria influência notória da sabedoria do Egito Antigo, do Judaísmo Bíblico e da Matemática Pitagórica.

Tudo leva a crer, no entanto, que sua representatividade pode ser uma mescla de todos esses conhecimentos.

Analisando-se os signos maçônicos, encontramos no principal deles, o esquadro e compasso, instrumentos fundamentais para os construtores da época medieval. O esquadro, com seus braços fixos, representaria a matéria. O compasso, com seus braços móveis e ajustáveis, diz respeito ao conhecimento ou à espiritualidade. O entrelaçamento entre os dois objetos significaria que ambos são realidades interdependentes.

Seus lemas iniciais eram a fraternidade, a integridade e a boa cidadania.

Embora não seja considerada uma religião, é requisito, para quem quiser se associar, crer na existência de um Ser Supremo.

A integração entre seus membros visa sobretudo uma melhora de cada um enquanto seres humanos, e para isso os integrantes passam por diversos graus de aprendizado até chegar ao ápice do conhecimento de si mesmo, culminando na compreensão dos segredos da natureza e dos elementos constituintes do Planeta.

Seguindo os preceitos dos grandes construtores da Antiguidade, a sociedade maçônica dividia-se em aprendizes, companheiros e três grandes mestres que seriam os guardiões dos segredos que os membros denominam “A Grande Obra”.

Os primeiros documentos históricos, conhecidos como os “Antigos Cargos” apareceram na Inglaterra por volta de 1390, contendo uma oração de abertura, um resumo das origens dos segredos maçônicos, iniciando-se ainda antes do Dilúvio, até chegar à Inglaterra do tempo dos saxões, além de uma coletânea de regras de comportamento para seus membros.

Embora os preceitos maçônicos tenham sempre se inspirado no amor fraternal, na nobreza da alma e em vários princípios cristãos, algumas religiões — notadamente a católica — se indispuseram com os maçons, considerando-os heréticos, o que levou a organização a cada vez mais se tornar secreta.

Com o advento do Classicismo e do Renascimento, com sua busca dos antigos conhecimentos, o movimento maçônico passou por transformações, advindas principalmente da Escócia e da Inglaterra, deixando de ser “funcional” para ser “intelectual”, o que levaria a maioria de seus membros a serem nobres, cientistas e burgueses emergentes.

Francis Bacon (1561/1626) — considerado o pai da ciência moderna — foi muito relacionado à maçonaria, dado o modelo alegórico que utilizou em sua obra A Nova Atlântida, chamada de a “Casa de Salomão”. Atribui-se também a Bacon a criação da “Universidade Invisível” que abrigava cientistas, geômetras e pesquisadores, que ali se instalaram clandestinamente, fugindo das perseguições aos que tinham crenças consideradas esotéricas.

Com o advento do Iluminismo, quatro lojas já haviam se unificado, formando, em 1721, a Grande Loja de Londres. Dez anos após, a maçonaria já fincava raízes nos Estados Unidos e se espalharia por boa parte da Europa.

Francis Bacon

Parcela significativa dos fundadores dos Estados Unidos, inclusive George Washington (1732/1799) e Benjamin Franklin (1706/1790) eram maçons.

O século XIX foi marcante na história da maçonaria. Conflitos de orientação entre França e Inglaterra, movimentos antimaçônicos nos Estados Unidos e na Europa católica e tentativas de juntar o antissemitismo com as perseguições aos maçons, acabaram por transformar a Organização numa sociedade cada vez mais apartada e secreta.

Com a irrupção dos regimes totalitários, a maçonaria passou por seu maior desafio, dada a grande repressão que ocorreu e que culminou com a morte de 200 mil maçons em campos de concentração nazistas.

No Brasil, a primeira loja maçônica se instalou em 1797 em Salvador, Bahia, mas sua maior participação ocorreu na campanha da independência brasileira, em 1822.

Tanto nossos dois imperadores, como os principais próceres da independência eram maçons.

As grandes conquistas sociais brasileiras sempre tiveram participação ativa dos maçons, destacando-se a libertação dos escravos e a campanha republicana.

Hoje estima-se que haja cerca de seis milhões de maçons no mundo, a maioria deles radicada nos Estados Unidos.

Tendo como base a Fraternidade, hoje em dia a Maçonaria atua em todos os ramos comerciais e profissionais, estimulando a ajuda mútua entre seus membros, visando o seu crescimento profissional e social.

Sendo uma sociedade iniciática, seus membros — apenas homens — são aceitos por convite originário de um de seus integrantes.


Revisado por Maitê Ribeiro
Nova Atlântida (New Atlantis), obra póstuma de Francis Bacon, capa da 2ª ed. de 1628, semelhante à 1ª de 1627.