Prof. Me. Adriano dos Santos & Thayna Ribeiro (estudante de Mestrado em Ciências do Envelhecimento)
Pesquisadores do Laboratório do Movimento Humano31.05.2021Talvez você esteja lendo essa matéria através do seu smartphone, tablet ou computador. O que toda essa tecnologia tem em comum com a Ciência? Tudo! Toda a tecnologia da qual estamos acostumados a desfrutar, só existe devido ao avanço científico. Hoje temos a facilidade de conversar com amigos, realizar reuniões, enviar fotos instantaneamente, estabelecer conexões via videoconferência com pessoas do mundo inteiro. Contudo, isso só é possível devido à contribuição de um pesquisador indiano, chamado Nasir Ahmed, que inventou a Transformada Discreta de Cosseno. Sua descoberta continua sendo utilizada na tecnologia de comunicação digital e, sem ela, talvez não pudéssemos nos comunicar com outras pessoas virtualmente de forma instantânea.
O mundo que conhecemos muda constantemente, e os estudos científicos avançam em velocidade exorbitante. No entanto, o rigor da Ciência faz com que somente as pesquisas mais sérias e confiáveis cheguem às revistas de maior credibilidade, algo com o qual os pesquisadores estão habituados, mas o restante do público não.
Não compreender com profundidade a Ciência é algo comum, porém ignorar sua extrema relevância para o desenvolvimento humano e desacreditá-la, revela um grande problema da sociedade. Segundo Carl Sagan, em seu livro intitulado “O mundo assombrado pelos demônios: a ciência vista como uma vela no escuro”, a falta de conhecimento científico nos faz ter menos senso crítico.
“Preparamos uma civilização global em que os elementos mais cruciais – o transporte, as comunicações e todas as demais indústrias; a agricultura, a medicina, a educação, o ócio, o amparo do meio ambiente, e inclusive a instituição democrática chave das eleições – dependem profundamente da ciência e a tecnologia. Também dispusemos as coisas de modo que ninguém entenda a ciência e a tecnologia. Isso é uma garantia de desastre. Poderíamos seguir assim uma temporada, mas, antes ou depois, esta mescla combustível de ignorância e poder nos explodirá na face”
Esse cenário abre espaço para a disseminação excessiva de notícias falsas, competindo pela atenção do público com as notícias sobre importantes pesquisas veiculadas nas mais respeitadas e rigorosas revistas científicas do mundo. Por fim, esse comportamento em massa guiado por interesses em comum, geram ações coletivas para defender ideais, crenças e valores, fazendo desaparecer o sentido de responsabilidade sobre o ato de propagar informações de valor.
Um movimento subsidiado pela desinformação, que vem ganhando forças no Brasil nos últimos tempos, é o movimento antivacina. Integrantes do movimento possuem os mais variados argumentos para promover a não vacinação. Alegam, por exemplo, que as doses de vacina podem sobrecarregar o sistema imunológico, ou que podem ocasionar mudanças na composição de seu material genético, na tentativa de gerar pânico infundado na população acerca das vacinas. As proporções do movimento antivacina tomaram escala global, com grande influência na queda da taxa de vacinação em vários países. Tal fato, levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a considerar o movimento como uma das dez ameaças à saúde global em 2019.
Você deve estar se perguntando: como as chamadas “Fake News” se espalham de forma tão acelerada? A resposta é simples: preferências, identificação e respostas. Assim, os famosos algoritmos robôs atuam nos meios digitais. O algoritmo é pode criar o que chamamos de "bolha", ou seja, o leitor só irá acessar e consumir conteúdos de outros usuários pelos quais ele tem maior afinidade, formando compilados sociais de ideologias, e por fim, limitando a exposição a determinados pontos de vista. Logo, a disseminação dessas informações tomou tal proporção, que sequer é possível distingui-las da veracidade. Em tempos de pandemia, este é o cenário perfeito para a polarização de opiniões e deseducação da população.
Com um tom sarcástico e levantando questionamentos importantes que nos levam a uma crítica social, o documentário “O dilema das redes” dirigido por Jeff Orlowski (2020), explica como a tecnologia nem sempre está a favor da Ciência, atuando também como propagadora de informações falsas contribuindo para o negacionismo científico.
“Criamos um sistema que privilegia as informações falsas (...) porque as informações falsas rendem mais dinheiro às empresas do que a verdade”, diz um dos entrevistados.
Então qual é a conexão entre Ciência, conhecimento e fatos? A Ciência não é a verdade. Descobertas científicas são o começo, não são o fim, nem o término da busca pela verdade. Tornam-se, por consequência, o hábito mais prazeroso na vida de um cientista, em exercício de sua mente, que nunca para de examinar fenômenos especialmente complexos. A Ciência é assim, tão verdadeira quanto mais ela puder ser testada, colocada à prova. Na impossibilidade de ser testada, então ela deixa de ser tratada como um conhecimento científico. Isso faz da Ciência algo importante no exercício da democracia.
A Ciência avança com a resolução de problemas, como o encaixe das peças de um quebra cabeça. Para Thomas Kuhn, em seu livro intitulado “A Estrutura das Revoluções Cientificas”, não é papel do cientista realizar grandes descobertas, mas sim responder a perguntas que ainda não foram respondidas através de um método científico que já é estabelecido. Nesse método o pesquisador observa o fenômeno, procura assimilar o que já é sabido a respeito e se ocupa em responder o que ainda não sabemos. Por que as maçãs caem da macieira direto ao solo? Por que ao invés de irem ao encontro ao solo, elas não sobem ao céu? Essa pergunta realizada por Isaac Newton por volta de 1665-1667, levou ao conhecimento da Teoria da Gravidade Universal.
Divulgar a ciência de forma clara e simplificada deveria ser o papel de todo cientista. Um dos principais motores para o avanço da Ciência é a curiosidade humana, que está conosco desde a infância, quando ao tentar compreender a vida, queremos entender “os porquês” de tudo. Esta mesma curiosidade é o que rege o princípio científico. Incentivar e cativar os jovens e as crianças, para manifestarem perspicácia em relação à compreensão da Ciência, poderá impulsionar frutos positivos no futuro.
Referências consultadas:
KUHN, Thomas. A Estrutura das Revoluções Científicas. 5a ed. São Paulo: Perspectiva, 1998.
MARTINS, Roberto de Andrade. A maçã de Newton: História, lendas e tolices, [s.d.].
O DILEMA DAS REDES. Direção: Jeff Orlowski. EUA: Netflix, 2020.
SAGAN, Carl. O mundo assombrado pelos demônios: a ciência vista como uma vela no escuro. 1a ed. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 1996.
WIKIPEDIA. Nasir Ahmed. 2021. Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Nasir_Ahmed_(engineer). Acesso em: 25 maio. 2021.
Imagem fornecida pelo Laboratório do Movimento Humano
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Revisão ortográfica: Anne Preste