A cultura do cancelamento, para quem desconhece o termo, é uma forma moderna de exclusão e tratamento de silêncio, perda de patrocínios, entre outras coisas, com uma pessoa que fez algo que a maioria não concorda ou acha errado. Quase sempre essa cultura funciona com pessoas que têm influência, como famosos.
Claro que quando se olha para situações que beiram a criminalidade, a cultura do cancelamento desempenha um papel fundamental de estabelecer o que a sociedade consegue suportar e o que não consegue, deixando os alvos dessa cultura mais ponderados e diminuindo, pelo menos um pouco e por medo, comentários, por exemplo, homofóbicos, xenofóbicos...
Mas se engana quem pensa que só há lados positivos nesse ostracismo social. A ideia de que, enquanto pessoas e telespectadores, público que observa as atitudes, detemos o poder de decidir se alguém pode se inserir na sociedade ou não, gerando uma falsa sensação de justiça, mas que, na verdade é uma “vitória” conseguida a força, pois não oferece outra saída a não ser a do outro se retirar.
Essa ideia cria o sentimento de que é tudo possível de ser cancelado, gerando um ciclo interminável de intolerância até com o aprendizado que pode acontecer depois da exclusão, já que apesar de acontecer de modo on-line (considerando que as pessoas crucificam on-line) quem sofre, também sofre offline, já que o poder das redes sociais reverbera para fora da tela.
Então há um condenado e um que condena de maneira que se aproxima de um complexo de Deus, um punitivismo muitas vezes exacerbado decidido por alguns, explicado muitas vezes como educativo, mas que pouco educa.
É importante falar que a cultura do cancelamento traz questionamentos importantes, como a diminuição da impulsividade no que se diz respeito a falar do outro, no que se faz em relação ao outro, mas nem tudo é preto no branco, nem tudo é barbárie ou iluminação divina, as pessoas, enquanto seres humanos, possuem tons de cinza e diversas nuances.
Por que ao invés do ódio desmedido não se cria debate e mobilização a favor das causas? O boicote pode acontecer como meio de expressar sua opinião, já é sabido o poder da sociedade em pressionar empresas, o exemplo disso mais recente foi o da Karol Conká no BBB 21 (Big Brother Brasil, Rede Globo), em que em sua estadia no programa acabou gerando desconforto para outros participantes e mesmo sendo famosa teve diversos contratos cancelados.
Sendo assim, a cultura do cancelamento como cultura da exclusão nos faz esquecer que as pessoas que estão sendo julgadas pela sociedade são as mesmas que foram moldadas por ela, e que se pode estar criando problemas que outrora lutamos contra.
No entanto, é importante frisar aqui que em situações de crimes, não cabe a eu ir contra ao rancor da sociedade quando o judiciário não é eficiente, o que se está falando aqui são de atitudes que podem ser mal interpretadas ou que podem ser educadas.
Usando esse poder e pressão, mas sem o ódio, a “cultura do cancelamento” – utilizando esse termo pela falta de outro - pode construir um mundo menos permissivo em discursos que violem a dignidade de outra pessoa.
Revisão ortográfica: Anne Preste