16 de março a 31 de maio / 2020

por Malu de Alencar

14.06.20

Se não fosse a quarentena não estaria olhando o calendário todos os dias, contando o tempo passar.

Mas não consigo deixar de parar em frente da bendita folhinha que pendurei na porta da geladeira, com várias bolinhas marcando datas. Como não tem nenhuma anotação tenho de ver na minha agenda o que significa cada uma.

Umas eu sei de cor e salteado:

04/04: aniversário de Francisco, sete anos.... como esse menino cresceu, já não é mais um bebê.

05/04: nasceu Alice, minha netinha, filha de Vicky e João. Só a vi por fotos. Não vou chorar, juro que não vou.

24/04: João veio me buscar para conhecer Alice. Fui paramentada com máscara e troquei de roupa no hall de entrada do apartamento; é preciso ter muito cuidado e seguir o protocolo.

25/04: segurei Alice no colo. Muita emoção.

Como não tinha nada para fazer na casa de minha filha, sentei na frente da televisão e fiquei buscando filmes, documentários, séries...

Assisti as duas temporadas de Shtisel, sobre a relação de uma família haredi, que vive num bairro ultraortodoxo em Jerusalém. Não consegui parar, assisti tudo de uma vez só. Comecei por volta das 13h e terminei no dia seguinte as 6h30 da manhã, quando minha filha viu a TV ligada e pensou que eu tinha dormido. Foi como começar a ler um livro e não conseguir parar... Revivi cenas de famílias judias com as quais convivi e ainda convivo, amigos para sempre. As relações com os avós, tios. Lógico que não são tão ortodoxos, mas têm traços da cultura que não se perdem, estão na base da célula familiar. Quero rever. Me lembrei de Sarinha, mãe de Clarice e de Fanny, mãe do Ari, ambas avós de Fezoca, minha filha do coração.

Nada Ortodoxa: outra série judia de uma jovem que, para sair de um casamento arranjado, foge do bairro do Brooklin de NY para Berlim e se junta com um grupo de músicos. Uma história bem atual. Revivi cenas que vivi em Berlim, entrei no cenário e me lembrei do Leo, um músico italiano que conheci nos idos de 1974 em Berlim, ficou meu amigo por longa data. Lembrei do Cyro Del Nero, que contava suas aventuras na cidade e de seu filho, que estudava regência em Berlim. Também está na lista para rever.

29/04: voltei para meu canto em Pinheiros.

De 29/04 a 08/05: só pude ver Francisco e Maria de longe... meus netinhos que moram no mesmo prédio.

Resolvi mudar o foco e me fixei nos programas de culinária. Alguns não me agradaram, não tinham o encantamento da velha cozinha, mas eram muito mais um programa de televisão para manter a grade e conseguir patrocinadores. Me encantou a simplicidade das receitas de Rita Lobo, me fez lembrar as deliciosas receitas de Luiza minha mãe, da delicadeza dos sabores... anotei algumas receitas e me ofereci para cozinhar para Francisco, Maria e Bianca.

09/05: aniversário de meu genro João, voltei para Vila Buarque, na casa de Alice.

10/05: Dia das Mães, o primeiro de Vicky. Tirei o espaço de João, excelente cozinheiro e dei de presente um prato que fazia parte do cardápio do "Cari Amici", meu restaurante em Campos do Jordão. Uma receita simples, mas uma delícia. Macarrão ao molho de mostarda com tiras de filé mignon. Pena que Alice só mama, ainda não pode comer...

Nova série de filmes e documentários, mas nada que fosse marcante.

12/05: voltei para Pinheiros.

Meditação foi a salvação. Passei horas sentada com olhos fechados e mentalizando o som do templo Zen: OmmOmm.

16/05 a 23/05: subi para o apartamento de Bianca para cuidar de Tomate e Bolacha, gatinhos de Francisco e Maria, enquanto viajavam para a casa da avó paterna em Piracaia.

É a segunda vez que sou convocada para cuidar de gatos, eu que nunca tive um.... A primeira foi na casa de Lucas, meu filho. Ele me pediu que cuidasse de Brina e Wladi, 2 gatinhos enquanto ia para o Chile acompanhar o nascimento de Salvador, filho de Catalina, meia-irmã dos filhos. Não tinha muito contato com eles, somente nos almoços, jantares em sua casa, nunca tinha ficado mais de 5 horas com os bichanos. Foram 15 dias. Aprendi a conviver com eles, impus as regras: nada de dormir na minha cama, fiz os horários de comida, troquei água, limpei a areia sanitária... ainda hoje, quando nos vemos, eles ficam parados me olhando e assim estabelecemos uma convivência amigável.

Mas Tomate e Bolacha chegaram pequenos, são irmãos. Tomate é macho e Bolacha é fêmea. Como os donos da casa não estavam, estabeleci as minhas regras. Mas o mais divertido é que Tomate tem os mesmos olhos verdes de Vicente, meu pai. Um dia me assustei, pois parecia que Vicente estava na janela olhando para mim. Fiquei arrepiada e fui logo perguntando: "Por que está me olhando? Está com saudades de mim?". Ele simplesmente pulou e saiu de mansinho para a cozinha. Bolacha só me olha e vem ronronando passando o rabo na barra de minha saia como se estivesse pedindo carinho. Passo a ponta da bengala em seu dorso e ela se esfrega toda e logo sai de perto.

O que uma mãe/avó não faz pelos seus?

Quem diria que eu um dia cuidaria de gatos? Luiza não ia acreditar, eu que nunca peguei num passarinho... agora até conversar com bichanos, converso.

Bianca chegou com os filhos, fui dispensada com palmas por Maria e Francisco:

- Dodó Malu, você cuidou tão bem dos meus gatinhos!

- Que bonitinhos...

22/05: Lilian Liang me ligou se poderia participar do Podcast Aptare dando dicas de filmes.

Combinamos para as 11h de 25/05. Mas exatamente nesse dia um acidente de um ônibus num poste de alta tensão fez a rede de energia cair, assim como internet, telefones.... nada feito. Ficou para o dia seguinte.

26/05: participei da gravação do Podcast Aptare com Lilian, Luciana Fleury e Renata Costa, eu que sempre fiquei na coxia, dessa vez fui para a telinha do celular...

27 a 31/05: os dias demoraram para passar. As noites foram longas.


Não vejo a hora de terminar o mês.

Amanhã será junho...

Junho? Já?!

Meu Deus, não vi o tempo passar...

Assim passo o tempo.

E você? O que fez desde março?


Revisão: Maitê Ribeiro