Crônicas

Quando da morte de Paulo Gustavo, embora não fosse sua fã, observei a comoção que se instalou no país. O motivo, a covid 19, e sua fama como humorista e também sua demonstração de quebra de expectativa como homem, assumindo ser gay que se casa e tem filhos. Curioso como o país é conservador a ponto de ter problemas com estas questões. Enfim, parece ainda que é real a dificuldade de lidar com padrões diferentes da tradicional família brasileira.

É importante ressaltar que ele conseguiu número recorde de bilheteria no cinema com seus filmes ¨Minha mãe é uma peça¨ (1, 2, 3) desbancando a audiência de filme evangélico que teve números fake de bilheteria. Eu mesmo testemunhei uma sala vazia do shopping Frei Caneca. Que fora fechada para iniciar a sessão. O controlador respondeu que a igreja distribuiu ingressos gratuitos para os fiéis que não compareceram às sessões, porém eles eram obrigados a projetar o filme porque os ingressos foram pagos. Pasmem!!!

Quando acontecia uma morte trágica como esta de alguém jovem e aparentemente saudável, eu ouvia de minha mãe é “yakudoshi” crença milenar japonesa, que segundo ela uma idade vulnerável para o homem, por volta dos 42 anos e para a mulher aos 34 anos. A variação se devia porque se dizia que quando alguém nascia já teria provavelmente nove meses de vida. Havia cerimônias e peças de roupa utilizadas nessa fase da vida para afastar esses males.

Mais uma morte nesta idade ocorreu, a do prefeito de São Paulo que padeceu de doença tão temida por nós, o câncer.

Na cultura japonesa há uma noção de que a morte é uma etapa de um processo. Lembro-me do filme “Balada de Narayama” que retrata como é encarada a morte nesta cultura. O filho que leva sua mãe montanha acima, para sua última morada, é a expressão desta concepção. No filme “A partida” é também retratado o ritual antigo para se limpar, vestir e maquiar o morto para a cerimônia de sepultamento.

Nas vezes que tive que viver a morte de pessoas queridas não encontrei em mim, esta forma de senti-la.

Uma pesquisa revela que yakudoshi é a idade em que se concentram os males, segundo o ying/yang. Costuma-se segundo o budismo comparar alguns períodos da vida com os nós de um bambu. O nó duro e marcado é necessário para a continuidade do bambu, assim como representa uma etapa da vida do ser humano. As dificuldades que superamos na vida sem dúvida nos torna mais fortes para prosseguir. Neste sentido muitas outras idades são elencadas como 25 e 60 para o homem e 19 anos para a mulher. (2)

“A morte deveria ser assim: um céu que pouco a pouco anoitecesse e a gente nem soubesse que era o fim…” Mario Quintana

Revisão ortográfica: Anne Preste