Toda quinta-feira, às cinco horas. Avisto-a ao sair do elevador. Avisto-a me esperando. A poltrona. A mesma poltrona, no mesmo lugar. No cantinho da parede. Ao lado esquerdo. Ela é minha companhia antes de eu ser chamada. Sou acolhida ali mesmo, antes de adentrar a sala. Às vezes, com um livro para nos fazer companhia. Outras vezes, só com meus pensamentos perambulando.
Na recepção, além da minha poltrona, existem mais três. Tem dias que faltam lugares. Levo além de meu corpo, minhas questões, minhas angústias, minhas pulsões, meus desejos, minhas lágrimas, minha alma. Nós todos - eu - aguardamos o chamado. Às vezes rola uma briga: quem vai falar primeiro? Outras vezes, ninguém quer falar. Mas, falamos, de um jeito ou de outro. Até no silêncio. As resistências já se aprontam todas quando avistam a poltrona. Já sabem onde estamos. Então… os assuntos fogem, são esquecidos, são selecionados. Queríamos falar sobre tais coisas… falamos de outra… e falamos do que queríamos falar, nas entrelinhas, nos atos falhos, com o corpo. Não tem como fugir, mesmo que em alguns momentos, ao avistar a poltrona, gostaríamos de dar meia volta.
Cinco horas. Somos chamadas. Vamos lá?! Vamos?! Tem como não ir? É possível não entrar? É porque sabemos que não vamos entrar somente na sala. A sala interna também se abre. Essa a gente não quer vasculhar. Mas vasculhamos. Com dor, choro, surpresa, espanto, medo, ânimo etc. Somos uma sala infinita. Até o que já conhecemos sobre os móveis que habitam ali, passamos a redescobrir mais. O ângulo muda. Há outra visão. Temos que ficar por aqui, tudo bem?! Tudo bem. Até semana que vem?! Até?!
Sempre voltamos. Toda quinta-feira. Às vezes, voltamos mais de uma vez. Às vezes, não queremos voltar. Mas voltamos. Voltamos porque não ficou por ali na sala o que foi trabalhado. Voltamos porque ecoou para fora. A poltrona nos espera. A mesma poltrona.
Mas não voltamos do mesmo jeito.
Revisão ortográfica: Leilaine Nogueira