2020 - Um ano histórico

por João Aranha

13.01.2021

Sofia, uma das mais brilhantes alunas, levantou a mão:

— Professor, algo importante aconteceu no ano de 2020 da Era Antiga. Eu não entendi bem; o senhor poderia nos explicar?

O velho professor ponderou por alguns instantes. Sabia que aquele longínquo ano fora um ano Exótico, ou seja, algo que aparentemente veio de fora dos seres humanos, que não podia ser observado pelo olho comum, e que, talvez por isso, não foi bem entendido.

— Sofia, o nosso planeta foi posto à prova naquele ano. Vivíamos a época do Holoceno da era Cenozóica, longo período de estabilidade climática, de equilíbrio da natureza. Já não havia vulcões e outros cataclismos muito destruidores. O povo daqueles tempos vivia o paradigma da abundância. Como vocês bem sabem, Sofia e caros alunos, a natureza provê tudo o que precisamos mas não tudo o que desejamos.

— Professor - disse Sofia - Não era época do que eles chamavam de Antropoceno?

— É verdade, tanto foi o descaso, a falta de amor ao planeta, a insensibilidade de reconhecer nossa Mãe Terra, que pessoas mais evoluídas tiveram que chamar à atenção para uma nova época que estava surgindo, o Antropoceno. Queriam alertar, demonstrando que a ação do homem junto à natureza levaria a atual geração a ser a primeira a sofrer os efeitos da mudança climática, causadas por nós mesmos, os seres humanos.

— Mas como o senhor mesmo disse - argumentou outro aluno - Havia pessoas que tinham consciência expandida e entendiam o quanto o MEIO AMBIENTE estava sendo agredido. Eles não reagiram?

— A soberba invadiu a mente de alguns mais capacitados e eles julgaram que tudo seria resolvido pelo então estágio do conhecimento tecnológico que acreditavam possuir. Era uma época DESAFIADORA, quase como se fosse uma guerra, e alguns sentiram que precisavam agir, procurando outros caminhos. Mostraram que o conhecimento científico não bastava. Era preciso dar voz ao coração e deixar de lado a arrogância. Entender a Terra como um ser vivo e pulsar no mesmo diapasão, na mesma sintonia e fazer do coração o eco do AMOR.

— Professor - disse um aluno, que era muito contestador - Mas eles já não haviam passado do ponto do não retorno?

— Vejam o caso das sementes. Caminhem um pouco até nosso laboratório da vida. Ali vocês encontram sementes. Algumas são tão antigas que se perderam na esteira do tempo. Há sementes de um povo muito desenvolvido, os egípcios, que se foram lançadas agora num terreno fértil, ainda germinam. Portanto, era preciso aprender com a natureza e renaturalizar o mundo.

— Professor - disse o aluno contestador - Não seria errado culpar aquele longínquo ano de 2020 da era antiga, já que esse processo, como sabemos, já vinha se desenrolando há tempo?

— Havia mais do que uma agressão à natureza. Sem que percebessem, estavam abrindo caminho para um inimigo interno, criado por eles mesmos. Os homens de então se tornaram o próprio vírus destruidor do planeta, vírus esse que das queimadas das florestas, do desmatamento, da extinção de inúmeras espécies, migrou para dentro do próprio ser humano. Aquela geração estava acostumada a se preocupar com ataques dos visíveis agentes externos. Temiam as guerras, a energia nuclear e julgavam-se capazes de dominar a natureza, submetendo-a aos seus caprichos. O mundo natural reagiu aos ataques que sofria e mandava constantes avisos através de inundações, furacões e cataclismos de toda ordem. Mas todos esses problemas eram pontuais. Alguns sofreram mais e outros menos. Havia uma terrível desigualdade social e econômica. Quando os vírus começaram a atacá-los, de forma indistinta, geraram comportamentos de fuga da realidade. Não havia líderes que pudessem conduzi-los adequadamente. Ações egoístas predominaram e o caos se implantou em todos os rincões do Planeta. Mesmo os que tinham um senso mínimo da realidade, começaram a se sentir INSEGUROS, com MEDO, num estado permanente de TENSÃO.

— Mesmo com tantos avisos, os antigos não foram capazes de entender o que se passava? - continuou o aluno.

— Sim, meu caro aluno, antiquíssimas civilizações já diziam que em toda crise há um prenúncio de oportunidade. Cabe ser RESILIENTE, adaptar-se, num primeiro momento às circunstâncias, e então REAGIR. Nosso Criador nos ensinou que sempre há solução para todos nossos problemas. Mas deu também o Livre Arbítrio, para que não houvesse obrigação e sim a existência da possibilidade de optarmos. Alguns entenderam, ao ampliar a consciência, que somos seres interdependentes.

— Como reagiram então nossos ancestrais? - perguntou Sofia.

— Houve então o que poderíamos chamar de um confronto. De um lado havia alguns que valorizavam sua VIVÊNCIA, respeitavam e admiravam a vida, entendiam sua passagem no planeta como um processo de aprendizado, permitido para se adquirir o verdadeiro conhecimento.

— E como terminou essa guerra? - perguntou o contestador.

— Enquanto alguns ainda se contentavam em poder RESPIRAR, comer, beber, outros diziam que talvez a solução estivesse dentro de quem estava sendo atacado, ou seja, nosso próprio corpo.

— Como assim? - Reagiu um grupo de alunos.

— Havia uma supervalorização dos aspectos intelectuais. E, como já disse, o intelecto nem sempre têm conexão com o coração. O coração é a casa do SENTIR, casa do AMOR. O verdadeiro sábio fala para o coração não para o intelecto.

As pessoas daqueles tempos não entendiam, usando apenas o cérebro, que elas mesmo eram a causa daqueles vírus e, pior, querem apenas se livrar dele, sem atentar para a causa-mater.

— E qual era essa causa-mater? - perguntou um aluno que não costumava se manifestar.

— O EGOÍSMO - respondeu prontamente o professor - As pessoas presas à arrogância e à prepotência, não conseguiam, apesar de terem muitos espelhos, olhar para si mesmas. Evitavam se auto reconhecer. Não aproveitaram o momento obrigatório de reclusão, de isolamento, para conviver consigo próprio - e muitos achavam isso insuportável - de atentar para a família, para as crianças. Voltar aos tempos imemoriais quando os pais não só conviviam com as crianças como também as ensinavam. Era um momento que exigia REFLEXÃO, ir mais além, CUIDAR, dos necessitados, AJUDAR, dando EXEMPLO.

— E as forças contrárias como reagiram? - perguntou uma aluna que parecia demonstrar muito interesse no assunto.

— Como todas as bactérias nocivas que circulam por aí. Presas no seu egocentrismo, as pessoas - e o que é pior - os seus próprios dirigentes - nem sequer sabiam o que é ALTRUÍSMO, o contrário de egoísmo, que só gera angústia e depressão.

—Está me parecendo uma luta do Bem contra o Mal - disse Sofia.

— É isso, Sofia - disse o professor - É o conhecimento que vem de tempos remotos, de nossos ancestrais, que dizem ter aprendido com os espíritos da floresta, naquilo que hoje conhecemos como fábulas, que na simplicidade de linguagem falam direto aos nossos corações e invadem nossos organismos com os hormônios da FELICIDADE.

— Mas quem ganhou afinal? - quiz saber o aluno contestador.

— Lamento desapontá-los, caros alunos, mas não tivemos vencedores nem derrotados. Foram séculos de sofrimento e alguns poucos lançaram as SEMENTES da ESPERANÇA, plantando milhões de árvores dando exemplos de respeito com o meio que nos cerca e como nossos semelhantes, e a humanidade, assim como a Terra, sobreviveu. Foi uma reação vigorosa, um esforço coletivo, que aos poucos fortaleceu o sistema imune do nosso corpo, tirando as células egoístas.

Nós estamos aqui hoje graças a esses heróis do passado que deixaram sua marca na história, no distante ano 2020 da época antiga.

Observação: O presente artigo foi inspirado pelas palavras que sintetizam o ano de 2020 ditas pelos colaboradores do Cidadão e Repórter 60+ (em azul) e pela entrevista dada pelo cientista Dr. Antonio Donato Nobre - Um Novo Olhar sobre a Vida na Terra - disponível no YouTube.