Redescobrir a vida?

por Eugenia Pickina

09.05.2020

O pássaro não canta porque está feliz, mas sim está feliz porque canta. William James

Reconheçamos: procuramos felicidade, projetando-nos no mundo, mas vivemos insatisfeitos, incapazes de qualidade de julgamento e de atenção.

A psicanálise afirma que o projeto inconsciente do ego diz respeito a escolhas que convêm à nossa natureza particular: rouxinol tem vocação para o canto, já o urubu… Por que então somos impelidos por esse impulso que vai nos empurrando pela vida afora, dominados por atitudes e papéis inadequados, sofrendo de uma infelicidade indefinível e que, muitas vezes, ganha tons de ansiedade, depressão, pânico? Alguns, de forma brutal. Outros, de forma delicada. Mas em todos eles se encontra a ênfase na tendência a complicar a existência, tornando-a dolorosa.

Lembrei-me da Rita, de quem tenho a felicidade de ser amiga. Ela é flautista e o prazer dela é ensinar para crianças. Contou-me que um dia, cansada das viagens pelo Brasil com a sinfônica, perguntou a si mesma: “o que é realmente bom para mim?” Sua decisão emergiu de uma experiência particular que a emociona – combinar música e infância. Definitivamente, enfrentou o protesto da mãe, venceu dilemas financeiros, dedicando-se com afinco a ensinar um tipo de conhecimento que ajudará a criança a desenvolver-se alegre e criativa. Tocar faz bem à imaginação…

Redescobrir a vida?

Fritz Perls diz que “cada um tem a responsabilidade de dirigir a vida como quer” … Entretanto, o modo como dirigimos nossa vida funde-se à maneira como conhecemos a nós mesmos, realizando-nos em harmonia com o que a realidade nos oferece. Porque quem se conhece, não vive ou não age em detrimento de si; mais facilmente se esquiva de todo sofrimento evitável e suporta com (mais) paciência as provas inevitáveis. E entre os múltiplos compromissos diários, esforça-se para galvanizar as forças que sabemos vitais: amor, alegria, bondade, compaixão, tolerância, coragem, estima por si, confiança…

Sem negar o exterior, apenas o trabalho interior nos impele a viver alegres, inspirados, pois de acordo com nosso ser profundo. Afinal, o sentimento de felicidade ou de infelicidade provém do espírito.

Abraço imenso!


Revisão: Maitê Ribeiro