Positividade cotidiana

por Eugenia Pickina

20.07.2020

O otimismo é uma ferramenta com um conjunto claro de benefícios: combate a depressão, promove realizações e produz saúde melhor. M. Seligman

Se quisermos “colher o dia”, guiando-nos de acordo com o conselho do poeta romano Horácio, precisamos administrar nossas emoções diariamente. O desafio, portanto, tem início a cada despertar, lembrando, obviamente, que todo dia é “um novo dia”.

Emoções positivas são mais fugidias do que as negativas – a tristeza, por exemplo, exige atenção para ser diluída, dando lugar, outra vez, à bem-vinda alegria. Por isso é tão importante estimular as emoções que nos ajudam a viver bem, resilientes e criativos.

Considerando que o medo, por exemplo, é uma emoção que desativa facilmente o entusiasmo, a alegria, há atitudes que podemos insistir em praticar e com um objetivo simples: gerir com mais eficiência nosso estado emocional, e para que vivamos mais saudáveis, mais encorajados, mais disponíveis às pequenas alegrias da jornada, apesar das dificuldades que nos cercam, invariavelmente. Eis algumas:

Prestar atenção nos assuntos que escolhemos entabular no dia a dia

Nossas conversas orientam nossa rotina. Se estivermos sempre criticando, julgando, reclamando, criaremos um ambiente tenso, hostil, avinagrado. Ficar repetidamente ancorado na queixa esvazia-nos e, pior, aborrece aqueles que nos cercam. Além do mais, críticas e reclamações sufocam o surgimento de pensamentos de gratidão e de alegria.

De outro lado, repetir diariamente – e para nós mesmos – frases e palavras de incentivo, ou deixá-las visíveis em algum lugar da casa, é uma atitude recomendável e geradora de entusiasmo e determinação.

Evitar comparações

Em um mundo competitivo, o hábito da comparação ganha relevo em várias situações da rotina das pessoas.

O colega compra uma linda casa. As fotos de viagem do vizinho são incríveis. Os amigos das redes sociais parecem possuir o segredo da felicidade duradoura.

Você já se pegou se comparando com alguém?

Melhor evitar a comparação. Por quê? Comparar-se dificilmente serve a alguma causa nobre, despertando, na maioria das vezes, ora sentimentos de inferioridade, ora inveja, afetando sem trégua a autoestima. Afinal, a grama do vizinho sempre parece mais bonita.

Quando compreendemos quem somos, em vez de olhar para aquilo que os outros têm, naturalmente nos concentramos em nossos próprios aspectos positivos, que são valiosos, singulares, usando o autoexame sincero (e afável) como um recurso legítimo e que servirá ao próprio progresso.

No dia a dia, vale a pena substituir a comparação por admiração. Um indivíduo que admiramos poderá, por exemplo, ser uma referência inspiradora e positiva para nós, para a realização de nossas metas, profissão etc.

Por fim, tratar-se com carinho e respeito redireciona nossa atenção para nossos talentos e habilidades, ajudando-nos ainda a valorizar o que temos ou o que conquistamos.

Conectar-se com a natureza

Somos partes da natureza. Natureza faz bem. Doses de contato diário com a natureza são essenciais para o bem-estar do ser humano – e de todas as idades.

Estar em contato com a natureza gera um aumento de emoções positivas como deslumbramento, alegria, entusiasmo, satisfação.

De outro lado, quando desfrutamos de áreas verdes – parques, jardins, bosques etc. – há redução ou alívio de estados emocionais negativos, como nervosismo, ansiedade, estresse, cansaço, medo etc.

A natureza e o ar livre favorecem o relaxamento, a introspecção, a autoconsciência, melhorando a atenção e a concentração.

Assim, quando você precisar de um impulso emocional positivo, a forma mais fácil é passar alguns minutos em conexão com a natureza.

Como o contato com a natureza é benéfico para nossa saúde emocional, preservar nossos espaços naturais nas cidades, nos bairros, em nossas casas, é fundamental também para a saúde pública.

Colocar em prática a gratidão

A neurociência explica que a felicidade está diretamente ligada com a gratidão.

É uma boa prática habituar-se a agradecer no mínimo três coisas positivas que nos aconteceram ao longo do dia. Podemos exercitar isso durante o jantar, quando estamos com nossos filhos ou, se moramos sozinhos, é possível incorporar essa atitude sanadora realçando em um caderno essas três coisas positivas que foram experimentadas durante o dia – pode ser uma boa xícara de café, o entardecer, uma página de um livro que nos ajudou, um amigo que nos mandou uma mensagem e que nos fez sorrir, o abraço de um filho.

O objetivo desse exercício é simples: integrar à nossa realidade cotidiana o hábito de ver o copo “meio cheio” no lugar de “meio vazio”, concentrando-nos na abundância que a existência nos assegura todos os dias.

Notinhas

Carpe diem é uma frase em latim frequentemente traduzida como “Aproveite o dia”. A expressão foi cunhada pelo poeta romano Horácio no poema número 11 do primeiro livro de Odes. Dedicada a Leucônoe, a poesia é um conselho e seu último verso é “carpe diem quam minimum credula postero”, que pode ser traduzido como “colhe o dia quanto menos confia no amanhã”.

Há filmes que proporcionam excelentes reflexões acerca da inteligência emocional/da positividade: Extraordinário (Direção Stephen Chbosky, 2017); O Discurso do Rei (Direção Tom Hooper, 2010); À procura de Eric (Direção Ken Loach, 2009); Avatar (Direção James Cameron, 2009); O sorriso de Monalisa (Direção Mike Newell, 2003).

Revisão: Maitê Ribeiro