Podemos ser felizes sem os outros?

por Eugenia Pickina

28.04.2020

O amor que damos é o único que preservamos. Elbert Hubbard

Conflitos nas relações pessoais surgem com mais intensidade quando se convive em casas pequenas e sem a possibilidade de sair à rua.

Mas as histórias felizes avisam que, para alcançarmos harmonia em uma casa, cada um de seus membros necessita se sentir reconhecido.

Ando questionando muito sobre possíveis mudanças que acontecerão no modo de ser e de relacionar-se das pessoas após a pandemia. Por isso, de manhã cedo, depois de meditar e fazer minhas orações, aproveito para ler e refletir sobre prováveis transformações que nos tornarão mais altruístas, menos egocêntricos, focados nos próprios desejos e interesses.

Muitos de nós perceberam que somos frágeis e ao mesmo tempo largamente capazes de manter nossos relacionamentos a distância. Uma lição valiosa deste período diz respeito a cada um de nós conseguir reconhecer claramente as pessoas que estão de fato dentro de nossa vida, porque no processo do amor e da amizade, é essencial querer a presença do outro – e é isso que dá qualidade à confiança, à intimidade.

Outra lição importante é termos assumido o quão resistentes somos à mudança de hábitos, ainda que pressionados pela inequívoca condição da morte como igualadora de classes sociais...

É um fato: padecemos coletivamente do medo do contágio, ainda que o temor contínuo da doença conviva, felizmente, com os cuidados médicos e os fenômenos de solidariedade social, e em todas as partes do mundo.

Li várias escritos em jornais (e blogs e sites) definirem a desconfiança como um resíduo que estará fortemente presente na existência das pessoas após o fim da pandemia. Mas, a sós comigo, eu me pergunto: nossa forma de ser mudará tão drasticamente assim após a pandemia?

Somos animais sociais, sujeitos gregários. Desde o nascimento, os relacionamentos se vão gravando em nosso coração. E tanto a amizade como o amor supõem um vínculo, dependem da reciprocidade, da confiança. Vencida a pandemia (e o fim das restrições impostas pelas autoridades/médicos), penso que o temor passará e as pessoas resgatarão naturalmente a confiança e o desejo pelo contato físico. Até porque, no contato online, tenho escutado de muita gente que não vê a hora de comemorar o fim deste pesadelo com a família e os amigos – o que nos leva rapidamente a reconhecer a importância dos laços.

Afinal, o que seria uma vida, breve ou longa, sem os relacionamentos, sem a força do amor e da amizade? A pandemia certamente terá favorecido este (re)descobrimento.

Abraço imenso!


Revisão: Maitê Ribeiro