Pelas árvores

por Eugenia Pickina

25.08.2020

“Árvores são poemas que a terra escreve para o céu.” - K. Gibran - poeta e filósofo

Estava eu na calçada conversando com o porteiro, quando, de repente, apareceu a dona Hilda, vizinha do décimo andar, farmacêutica aposentada. Depois dos cumprimentos de praxe, sem titubeio ela nos contou irritada:

— Na rua de baixo, no terreno em frente à padaria, havia um jacarandá, árvore velha, que anualmente nos oferecia uma floração azul-violácea exuberante e para a alegria de todos. Pois, sem maiores avisos, o dono do terreno vendeu o imóvel e o atual proprietário cortou o jacarandá. Fiquei profundamente estarrecida. Que impressão negativa teria causado ao novo proprietário aquela frondosa árvore? E ele me explicou que o jacarandá estava obstruindo a fachada do sobrado, e isso dificultaria a locação do imóvel comercial. Ora. Uma árvore leva anos para crescer e de graça produz beleza! Aí disse a ele: sem o jacarandá o seu imóvel perdeu o encanto.

E, com cara de tristeza, lançou-nos uma pergunta: por que tem gente que não sabe amar uma árvore?

Tive uma reação desanimada. Como sensibilizar um vizinho no bairro a apreciar mais um jacarandá do que uma fachada de cimento e vidro? Claro que o que eu valorizo – as árvores – só gera ressonância nas pessoas que têm um mínimo de respeito pelas árvores. No entanto, considerando o futuro da Casa comum (a Terra), entendi importante vencer o desânimo e prosseguir amando e plantando árvores.

Visitando esses dias um casal de amigos no Rio Grande do Sul, experimentei serenidade e alegria desfrutando de várias árvores na casa deles – santa bárbara, uma magnífica amoreira, ... um velho jacarandá, pessegueiros em flor – e uma festa para pássaros e abelhas, sem esquecer as quietas borboletas.

Voltei para casa e de novo me entristeci. Em frente a um hospital vizinho do meu bairro, os proprietários de uma casa mandaram cortar os galhos de um acolhedor chapéu-de-sol, que ficou reduzido a tocos, aludindo certamente à invencível rudeza dos proprietários.

Na época da faculdade, sofri profundamente quando, no meu centro de estudos, optaram por cortar algumas árvores para construir, no local, um auditório. Houve uma onda de indignação e, nós, os alunos, expirados os recursos burocráticos, decidimos nos amarrar nas árvores, mas, apesar do protesto pacífico, o machado venceu.

Não sei, mas até hoje considero que o ato de cortar árvores está associado a uma obscura inépcia e, por isso, concordo com Goethe quando ele afirma que “nada no mundo é mais assustador que a ignorância em ação”.

De outro lado, felizmente, minha vida e memórias estão cheias de árvores. Araucárias e pessegueiros na infância, cerejeira e cameleira no quintal da melhor amiga no ensino médio, ipês para a vida inteira…

Finalmente um pedido: esqueçamos depressa aqueles que não sabem amar as árvores e nos concentremos em plantá-las e preservá-las. Plantar árvores para os vivos e os que virão. E isso é tudo.



Revisão: Maitê Ribeiro