Se és capaz de manter tua calma, quando,
todo mundo ao redor já a perdeu e te culpa.
De crer em ti quando estão todos duvidando,
e para esses no entanto achar uma desculpa.
Se és capaz de esperar sem te desesperares,
ou, enganado, não mentir ao mentiroso,
Ou, sendo odiado, sempre ao ódio te esquivares,
e não parecer bom demais, nem pretensioso.
Se és capaz de pensar - sem que a isso só te atires,
de sonhar - sem fazer dos sonhos teus senhores.
Se, encontrando a Desgraça e o Triunfo, conseguires,
tratar da mesma forma a esses dois impostores.
Se és capaz de sofrer a dor de ver mudadas,
em armadilhas as verdades que disseste
E as coisas, por que deste a vida estraçalhadas,
e refazê-las com o bem pouco que te reste.
Se és capaz de arriscar numa única parada,
tudo quanto ganhaste em toda a tua vida.
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
resignado, tornar ao ponto de partida.
De forçar coração, nervos, músculos, tudo,
a dar seja o que for que neles ainda existe.
E a persistir assim quando, exausto, contudo,
resta a vontade em ti, que ainda te ordena: Persiste!
Se és capaz de, entre a plebe, não te corromperes,
e, entre Reis, não perder a naturalidade.
E de amigos, quer bons, quer maus, te defenderes,
se a todos podes ser de alguma utilidade.
Se és capaz de dar, segundo por segundo,
ao minuto fatal todo valor e brilho.
Tua é a Terra com tudo o que existe no mundo,
e - o que ainda é muito mais - és um Homem, meu filho!
Rudyard Kipling (1865/1936)
Poeta e escritor indo-britânico.
IF (SE) foi escrito em 1895 e publicado em 1910
Venceu o Prêmio Nobel de Literatura
E as pessoas ficaram em casa
E leram livros e ouviram
E descansaram e se exercitaram
E fizeram arte e brincaram
E aprenderam novas maneiras de ser
E pararam
E ouviram fundo
Alguém meditou
Alguém orou
Alguém dançou
Alguém conheceu sua sombra
E as pessoas começaram a pensar de forma diferente
E pessoas se curaram
E na ausência de pessoas que viviam de maneiras ignorantes,
Perigosas, sem sentido e sem coração,
Até a Terra começou a se curar
E quando o perigo terminou
E as pessoas se encontraram
Lamentaram pelas pessoas mortas
E fizeram novas escolhas
E sonharam com novas visões
E criaram novos modos de vida
E curaram a Terra completamente
Assim como eles estavam curados.
Kathleen O'Meara (1839/1888)
Escritora e biógrafa irlandesa-francesa da era vitoriana
Escreveu esse poema (1869) e outros com o pseudônimo de Grace Ramsay
Da obediência, da fé, do proselitismo:
enquanto eu me ponho de parte e olho,
há alguma coisa impressionante para mim
nas grandes massas de seres humanos
que vão atrás daqueles
que não têm fé nos seres humanos.
Da Igualdade - como se me incomodasse
dar a outros as mesmas oportunidades
e direitos que tenho,
como se para os meus próprios direitos
não fosse indispensável
que outros também os tivessem iguais.
Walt Whitman (1819/1892)
Pensamentos constantes no livro Folhas de Relva
Poeta norte-americano - Tradução de Geir Campos
Quem me dera eu fosse o pó da estrada
E que os pés dos pobres me estivessem pisando...
Quem me dera que eu fosse os rios que correm
E que as lavadeiras estivessem à minha beira...
Quem me dera eu fosse os choupos à margem do rio
E tivesse só o céu por cima e a água por baixo...
Quem me dera que eu fosse o burro do moleiro
E que ele me batesse e me estimasse...
Antes isso que ser o que atravessa a vida
Olhando para trás de si e tendo pena...
Alberto Caeiro - heterônimo do poeta português Fernando Pessoa (1888/1935)
Uma canção ao longe... É um mendigo. Se ele canta.
esse velhinho que jamais teve nada, por que gemes tu, tu
que possuis tão belas recordações?
Tu Fu (712/770) poeta itinerante chinês da dinastia Ming
(Tradução de Cecília Meireles)