Menos é mais

por Eugenia Pickina

23.03.2020

Felicidade se acha é em horinhas de descuido. J. Guimarães Rosa

Cresci ouvindo meu avô dizer – e de modo repetido – que é fundamental aprender a frear nossos desejos.

Muita gente é infeliz porque não consegue desfrutar do que tem – depois de adquirir uma coisa, deseja outras dez, querendo sempre mais. E uma vez tomada a pessoa por essa mentalidade de cobiça, ganha força a incapacidade para desfrutar da felicidade que tem à mão.

Claro! Há momentos nos quais queremos coisas de que precisamos. Não há nada de errado nisso. Mas quando nos organizamos para alcançar apenas aquilo de que precisamos, somos capazes de controlar nossos desejos e, por conta disso, capazes de experimentar estados de satisfação.

Querer sempre mais gera ansiedade, leva ao sofrimento. Além disso, tanto a beleza como a alegria habitam a simplicidade do estilo de vida. Por isso, adquirir muitas coisas não é sinal de felicidade, mas, quase sempre, razão de insatisfação crônica.

Meu avô contava que a alegria genuína pertence àqueles que sabem dizer para si mesmos: “Ah, isso para mim basta”.

Caso você se perceba mergulhado em um estado de insatisfação, faça uma pausa, respire fundo e se observe com atenção, analisando sem pressa aquilo que deseja. Então se pergunte: “eu realmente preciso disso?”

Às vezes esquecemos que a felicidade pode ser encontrada em coisas simples e banais, e que no geral não custam nada: andar na rua de mãos dadas com o filho, sujar as mãos na terra para replantar uma florzinha, contemplar o pôr do sol com o namorado, conversar sem pressa com um amigo, ouvir o canto de um passarinho…

E são essas coisas, singelas e ordinárias, que nos ajudam a entender o que é importante na vida.

Notinha

Vivemos em uma sociedade de consumo e, por isso, é bastante desafiador assumir um estilo de vida simples. No entanto, um passo importante para organizar a própria vida consiste em determinar se cada coisa que possuímos é de fato necessária e, caso seja, cuidar bem dela - pensemos, por exemplo, na caneca que usamos todos os dias para tomar café - ela deve ser bem cuidada e continuar tendo serventia por muito tempo. Ao agirmos desse modo, vivemos com o coração mais leve e nos relacionamos mais responsavelmente com o planeta.


Revisão: Maitê Ribeiro