Leituras que nos salvam

por Eugenia Pickina

11.04.2020

“Livros não mudam o mundo,

quem muda o mundo são as pessoas.

Os livros só mudam as pessoas.” Mario Quintana

Amo a natureza e os livros. Pela leitura, desde criança, viajei pelo mundo, conheci lugares e culturas, fui cativada por um maravilhoso jardim secreto… Meu tio-avô, um austero agricultor, ao me ver tomada por um livro sob a sombra do grande ipê-amarelo, dizia categórico: “larga o livro, menina, senão perde a infância!”

Por culpa do coronavírus, quando me canso do trabalho remoto e sinto falta das árvores e das flores, corro para pegar um livro na estante, procurando eleger o que me ajudará a acolher o instante.

Reli “O Sol e o Peixe” de Virginia Woolf. “E as nossas memórias? Como se formam? São realidade ou ficção? Retratos ou borrões?” Virginia Woolf influenciou fortemente minha adolescência; em suas narrativas percebi meu temperamento introvertido, minha preferência pelas flores, minha afinidade com a solidão.

As boas leituras oferecem lições importantes. De felicidade e de infelicidade. De medo e de coragem. De egoísmo e de altruísmo. Revelam personagens que causam admiração e outros que provocam aversão, apontando-nos os tipos que nunca devemos nos tornar, porque é essencial saber viver com respeito e compaixão.

Por esses dias, voltei a reler mais um livro: é uma biografia na qual a escritora Andrea Wulf procura resgatar a memória de Alexander von Humboldt, um dos cientistas mais célebres do século XIX.

Ambientalista “avant la lettre”, Humboldt foi capaz de ver a natureza com a razão e o coração, avisando há 200 anos que iríamos destruir a natureza. Ele nos ensinou que tudo está ligado. Vivemos numa teia da vida. Se destruirmos nosso planeta, então vamos ser destruídos. Seu exemplo de viver a serviço dos outros e atender ao chamado da ciência nunca foi mais relevante.

Mas voltemos aos livros: a boa leitura nos ajuda a encarar de modo inteligente os dias da quarentena imposta. Sairemos, no mínimo, mais sábios.

Abraço imenso!

Notinhas

No texto, faço uma alusão à comovente história de O Jardim Secreto, de Frances Hodgson Burnett, e cito, na sequência, mais dois livros: Woolf, Virginia. “O sol e o peixe – prosas poéticas”. Seleção e trad. Tomaz Tadeu. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2016; Wulf, Andrea. “A invenção da natureza: a vida e as descobertas de Alexander von Humboldt”. Trad. Renato Marques. SP: Planeta do Brasil, 2019.

Humboldt morreu sendo um dos homens mais conhecidos e respeitados do mundo. Numerosos lugares e espécies levam seu nome (um pinguim, um rio no estado de Santa Catarina), sem esquecer, é claro, a corrente de Humboldt.


Revisão: Maitê Ribeiro