Heróis invisíveis

por Malu de Alencar

23.03.2020

Nos idos de minha infância, não me lembro da profissão lixeiro ou catador.

O lixo era mais orgânico, tinha cascas de legumes, frutas, bagaços, restos de comida que eram colocados em latões e uma carrocinha passava recolhendo tudo para alimentar animais de criação....

Não havia caixas de papelão ou plástico: o leite era colocado nos latões de alumínio que eram postos no portão das casa, e o leiteiro com sua carrocinha avisava sua chegada através de uma buzina de borracha.... fom fom fom...

O leite vinha diretamente das pequenas propriedades rurais.

Mas também era comprado em litros de vidro nas mercearias ou pequenos mercados; os litros eram devolvidos para serem reutilizados.

Como não havia sacola de plástico, as compras eram trazidas em sacos de papel ou em caixas de madeira ou papelão.

Lixo não existia no meu universo de criança... lixo era lixo que logo desaparecia: parte era levado pela carrocinha, parte era queimado no fundo do quintal e outra parte virava adubo para as plantas, flores e pomares.

Comecei a me preocupar com o lixo quando surgiram novas embalagens de plástico, papelão e outros materiais... quando foi lançado a mais revolucionária das embalagens: tetrapak!

Recentemente fiquei surpresa com a quantidade de lixo que produzo em casa!

Basta sair de casa no final da tarde e ver as calçadas repletas com enormes sacos pretos entulhados no chão ou em suportes de ferro em frente dos prédios comerciais, residenciais ou estabelecimentos comerciais.

Que lixo é esse que não acaba?

No começo da noite, de segunda a sexta, escuto o barulho dos motores dos caminhões de lixo parando no meio das ruas, fechando o trânsito, e os pobres lixeiros catando sacos e sacos, numa corrida desesperada para acabar com tudo rapidamente, trabalham silenciosamente, não os vejo falar alto, muito menos cantar e muitas vezes são ameaçados por estarem impedindo o trânsito...

É uma profissão que respeito, são anjos que mantém a cidade limpa.

De manhã cedinho, são os garis que varrem as calçadas, os meios fios, bueiros... enchem carrinhos de bitucas de cigarros, papéis pequenos, folhas secas, todo tipo de lixo que não precisava estar ali se as pessoas tivessem consciência de sua responsabilidade como cidadã.

E logo mais chegam os catadores com suas carrocinhas recolhendo papelão, ferro velho, latas, cadeiras, pequenos móveis, vidros e todo tipo de objetos que podem ser reaproveitados: os recicláveis... e com esse trabalho mantém filhos, sua família.

Para mim são os heróis invisíveis... trabalham silenciosamente e raramente olham para os lados ou para as pessoas que cruzam seus caminhos.

Todas as vezes que encontro um desses meus heróis, meu coração bate mais forte e não consigo deixar de dar um alô, agradecendo o trabalho que fazem com tanta dignidade.

Parabéns: lixeiros, garis, catadores...

Vocês são meus Heróis Invisíveis