Mudança de década

por Malu de Alencar

31.12.2019

Fim de uma década!

Uma crônica da vida vivida.

Os anos que terminam em 9 são significativos, pois sinalizam o fim de uma década.

Nunca imaginei que viveria tantas décadas e muito menos que atravessaria um século, menos ainda um milênio.

Sim, milênio, estamos no Terceiro Milênio do calendário gregoriano, pois atravessamos os 1000 e entramos nos anos 2000!

Século 21!

Uma mudança radical na maneira de escrever datas, de registrar na agenda, foi difícil para mim entender que tinha ultrapassado uma barreira do tempo... do meu tempo.

Nas vésperas de mudar de década, lembro-me da passagem de 1989 para 1990 ...

Em novembro, havia caído o Muro de Berlim e um casal de amigos chilenos estava lá - Gloria e Julio Zapata. Chegaram e me contaram toda a aventura que passaram na Alemanha, em Berlim ... participaram da quebra do Muro.

Na verdade, tinham de me contar, pois sabiam da minha experiência em Berlim, mais precisamente com o Muro, nos idos da década de 70.

Miguel e eu tínhamos programado passar o final de ano com amigos chilenos no Chile, uma homenagem de Alice Youngquist, que tinha partido em agosto daquele ano, uma sueca americana que amava o Chile e a avó de meus filhos com Miguel.

Estavamos na região de Temuco, na fazenda do casal de amigos Marguerita e Fernando La Torre.

Na fazenda não havia eletricidade, era um gerador que funcionava até as 22 horas, quando o sol se punha no verão e a temperatura baixava como se estivéssemos no outono! Com certeza deve continuar assim ...

Nossa ceia foi um assado de carneiro no deck do chalé de madeira bem rústico, mas muito charmoso, no meio de um pequeno bosque e um riacho que emitia o som de água caindo como se estivesse chovendo.

As crianças brincavam e cantavam, comiam "papas" assadas, lascas de carneiro e suco de cherimoya.

Fazia muito frio, estávamos enrolados em chales de lã e rodeando o fogo do assado.

Todos decidiram dormir, menos eu. Resolvi ficar no deck olhando o céu estrelado sem nenhuma interferência de luz elétrica, somente a escuridão da noite e a sombra das árvores. O fogo do assado ia aos poucos definhando, mas pelo menos esquentava o ambiente.

Não sei quanto permaneci olhando o céu, acho que fiquei hipnotizada, perdi a noção do tempo, só me lembro de olhar para o céu escuro, quase negro, com pontos brilhantes.

De repente fiquei paralisada, o céu caía em cima de mim. Eram estrelas e estrelas que choviam e caíam no ar e sumiam na escuridão da terra.

Nunca tinha visto uma chuva de meteoritos, nunca tinha visto tal espetáculo, acho que ninguém, nenhum mágico poderia fazer a magia da chuva de estrelas que vi na passagem de 1989 para 1990!

Não sei quanto tempo durou, mas fiquei olhando enrolada no chalé de lã, gelada de frio e de medo, mas não conseguia falar, gritar... só olhar. Naquele momento senti que alguma coisa aconteceria no planeta.

No dia seguinte, um vulcão que ficava na região entrou em erupção e tivemos que sair do local. Fomos para Pucon, região próxima onde hoje o vulcão Villarica que mantém chamas constantes. Dos chalés onde estávamos, víamos o fogo saindo da boca do Villarica,

Nunca imaginei que um dia veria um vulcão em erupção, e eu vi.

Nunca imaginei que um dia atravessaria um país dividido por ideologias tão distintas: e eu atravessei Alemanha Oriental e Ocidental!

Nunca imaginei que atravessaria um século, e eu atravessei....

Nunca imaginei que um dia poderia contar essa experiência de ver uma chuva de meteorito sozinha.

Nunca imaginei que um século não é nada. É simplesmente um século que registra o tempo de cada um de nós, simples mortais que não somos nada e somos tudo: somos os autores e mentores de mudanças, protagonistas e plateia.

Rezei por algum tempo que queria um mundo melhor, pois não sabia o que poderia me acontecer no amanhã ... E o amanhã chegou e se foi e continua indo e vindo e eu driblando esse tempo.

Que chegue o novo ano de 2020. Mas, por favor, esqueça os vulcões que entram em erupção, chuvas que inundam, raios que matam, tsunamis, terremotos, maremotos, tornados, incêndios em florestas e bosques que dizimam casas, animais e matam pessoas.

Queremos Paz!

Precisamos de Paz!

Bem-vindo o Novo Ano de 2020!