Chegando na grande cidade

por Malu de Alencar

04.10.2019

Vim para São Paulo em 1966 para estudar.

Morava no pensionato da Casa da Universitária da Abílio Soares.

Andava 3 quarteirões e já estava na Bernardino de Campos, Pça Oswaldo Cruz e Avenida Paulista....

Precisava conhecer a cidade que estava morando, descobri que o melhor jeito era andar de ônibus, conversar com as pessoas.

Mas como conversar com pessoas que não conhecia?

Mesmo assim decidi me aventurar num ônibus que passava pela Paulista, descia a Consolação e me deixava no centro, ali no miolo: Anhangabaú, Xavier de Toledo, Teatro Municipal, Biblioteca Mario de Andrade, 7 de Abril.

Ficava horas andando por essas bandas, parava em frente do Teatro Municipal e embarcava na ponte do Anhangabaú; ficava olhando para os carros que passavam em baixo e observava as pessoas que caminhavam com uma pressa que desconhecia, correndo de lá para cá.

Como uma cidade podia abrigar tanta gente?

De onde vinham? Quem eram?

Para ir para a USP pegava o ônibus Fábrica que cortava toda Paulista, descia a Rebouças e parava no começo da Eusébio Matoso, ali na Praça que tinha uma Paineira enorme. De lá ia a pé ou de carona até a Cidade Universitária.

Meu Deus, como minha cidade era pequena, nem por cem anos veria tanta gente como nesse pouco tempo de São Paulo.

Um dia peguei um ônibus e não percebi que fazia outro trajeto, embalada pelos pensamentos, quando dei por mim estava perto da Represa Billings, num lugar chamado Eldorado.

Tive vontade de chorar, mas me contive, me lembrei do que Luiza minha mãe, tinha me aconselhado: "não converse com estranhos, não pergunte nada para pessoas que não conheça, procure um guarda".

Resolvi falar com o motorista e ele me orientou que poderia voltar pelo mesmo carro, que me deixaria ali na Praça Oswaldo Cruz!

Nesse dia "cabulei" a aula por justa causa.

Nunca mais subi em ônibus sem saber qual a direção!

Uma das tardes na volta da faculdade, percebi que saia uma fumaça enorme justo na direção do pensionato onde amigos meus de Cândido Mota moravam, pensei: "está pegando fogo, é um incêndio".

Desci do ônibus apavorada e comecei a falar: "Incêndio, temos que chamar os bombeiros".

Mas logo percebi o engano, me avisaram que eram as chaminés da cervejaria Brahma que ficava ali no Paraíso...

Que vergonha! Foi a primeira vez que me senti "caipira".

Continuo passando pela Avenida Paulista, Rebouças, mas tudo mudou.

Não tem mais a linha do ônibus Fábrica, a paineira que era meu ponto de referencia foi cortada nos idos de 70, as chaminés da cervejaria pararam de fumegar, a Casa da Universitária foi demolida e hoje uma grande empresa.

A cidade cresceu vertiginosamente.

Continuo passando pela Paulista, as pessoas continuam apressadas, muito mais veículos cortando a longa avenida, bicicletas, patinetes, motos, carros, ônibus e pedestres! Barracas de artesanato e de comidas, pessoas cantando ou tocando instrumentos preenchem as largas calçadas, além de jovens com skates cortando entre os transeuntes.

O vão do MASP, que adorava sentar para olhar a 9 de Julho, é o ponto de encontro para manifestações da população.

São Paulo a cidade que tem um "coração de mãe",que acolheu e acolhe pessoas de todas as partes do mundo, todas as etnias, raças, crenças, merece ser amada e respeitada e cuidada, pois é a maquina que movimenta o nosso país!

São Paulo continua sendo o coração do Brasil!