Afinal, o que é religião?

por Malu de Alencar

16.08.2019

Essa é uma história que tenho que contar em capítulos.

Começa lá nos idos de 1950... e até hoje não terminou.

Resolvi escrever essa experiência depois da véspera do natal de 2006....

Foi assim que tudo começou: na véspera do natal de 2006 conversava banalidades com meus filhos esperando a hora da ceia, quando comecei a rir sozinha lembrando de uma passagem recente que tinha acontecido.

Bianca, Vicky e Lucas me pressionando para contar o motivo de meu riso:

- “Conta mami, conta...”

- Não posso, ainda é muito recente... deixa eu absorver um pouco mais, vocês vão rir de mim... Outro dia, ok?

- Ah não, você vai contar.

- O que você aprontou?

- Nada, mas não dá para contar, foi uma experiência...

- Arrumou namorado?

- Não, nãoooooooooooo nada disso...

- Então foi alguma roubada????

- Um dia eu conto...

- Ah! Não vale, tem que contar, senão vamos pensar o pior...

- Você está com jeito de quem aprontou alguma coisa. Só podemos pensar o pior “O que nossa mãe aprontou...”

A pressão foi tanta, e o jeito de falarem me convenceu.

- Não é nada do que estão pensando, foi uma experiência que tive numa igreja. Uma bobagem, mas foi surreal.

E assim comecei a contar:

"Era criança ainda e sonhava que um dia seria uma freira com aquela roupa preta, chapéu branco engomado e que seria também cantora... lembranças da "Noviça Rebelde"

Adolescente fui Luizinha de Marillac na paróquia de C.Mota, cuidava dos velhinhos antes do Asilo São Vicente do Frei Paulino ser inaugurado...

Já na juventude, vocês sabem, queria entrar para o Convento das Carmelitas.... mas Frei Paulino me fez desistir da idéia:

- Você nasceu para o mundo... vai rodar terras e mares... vai ter filhos, jamais será feliz num convento...

E assim foi acontecendo...

Fiquei sem uma religião fixa, acreditava num Deus, me dizia ecumênica...

Até que em 2002 quando Luiza partiu, sentia tanta saudades de minha mãe, que só de lembrar de seu nome, ou de sua voz as lágrimas corriam soltas, era incontrolável...

Num desses momentos, descendo no elevador do prédio que morava encontrei uma senhora vizinha que me disse:

- "Você está carregada, o espirito de sua mãe está te atrapalhando... você tem que tira-la de perto de você"

Fiquei muito brava: "Como minha mãe me atrapalhando? A vida toda só me ajudou... não será agora que vai me atrapalhar...

A senhora está muito enganada..." e sai do elevador com vontade de gritar, gritar a saudade que sentia de minha mãe.

Mas resolvi entrar numa igreja e conversar com alguém, com um padre, alguém que me explicasse o que estava sentindo.

Entrei em varias igrejas católicas das Perdizes... infelizmente não consegui falar com nenhum padre, ninguém que pudesse acalmar minha dor e angústia....

Continuei buscando algum templo... andando pela Rua das Palmeiras, perto da CBN vi uma fila de pessoas na calçada. Parei meu carro e perguntei o que acontecia... me disseram é a igreja Universal...

Busquei um estacionamento e ainda chorando entrei na fila.

Fui muito bem recebida por um senhor que depois soube que era o pastor.

E foi ele que acalmou minha dor...

Passei a frequentar a Universal até o pastor Walter ser transferido... nunca soube para onde tinha ido, me disseram que para fora do país.

Sem rumo, procurei outros locais: um centro espirita, um templo Seicho no ie, ene outras... até que encontrei uns amigos que frequentavam uma igreja evangélica

E foi nessa igreja que me disseram que tinha que ser batizada...

- Mas já? Batizada?

- Sim, você tem que ser batizada para salvar sua alma da dor...

E foi assim que pela segunda vez em minha vida fui batizada!

A primeira era um bebê, não me lembro, mas a segunda... jamais vou esquecer.

Fui para o local do batizado na madrugada de um domingo de dezembro de 2006... Cheguei por volta das 5horas da manhã, fiquei numa fila enorme, entrei numa sala para vestir um camisolão branco e fiquei esperando a minha vez...

Num corredor aguardava ser chamada, caminhava lentamente... por volta das dez da manhã chegou a minha hora...

Não dava para voltar... fui levada para uma piscina enorme, que dava para um salão onde existia uma plateia cantando e rezando louvores a Deus... meu deus!!!!

Pessoas de todos os tipos, com deficiências físicas e mentais, eram submersas na água... e lá fui eu entrar numa piscina de vidro com a água turva pelo uso desde o começo da madrugada onde os fiéis jovens, adultos e idosos eram batizados em nome de Deus!!!

Sai quase engasgada com a água turva... meu corpo pesado.

Tirei a bata branca, vesti minha roupa e sai pela porta dos fundos procurando um táxi para voltar para casa.

Assim que cheguei, quase meio dia... tomei um banho e joguei minha roupa no lixo e fiquei quieta, muda...

Por sorte a casa estava vazia...

Passei dias sem conseguir falar ou contar para alguém o que tinha vivido, só de pensar na cena, tinha desespero, sentia novamente meu corpo pesado, assim como cabelo, pele e a roupa... tudo pesava.

Foi isso que aconteceu... estou me sentindo ridícula"

Foi somente na véspera do Natal que me lembrei de toda minha trajetória em busca de um Deus que me desse paz e acalmasse minha alma, que sossegasse minha busca e comecei a rir e não parava e até hoje, anos depois me sinto ridícula pelo que passei...

Afinal, que religião é essa que busco?