Rio Tapajós com a cidade de Santarém ao fundo (Crédito: Facebook)
A cidade de Santarém, situada no Oeste do Pará e conhecida como a “Pérola do Tapajós”, está situada na confluência do Rio Tapajós com o Rio Amazonas e é uma das três maiores cidades do Pará, junto com Belém e Ananindeua. Está a uma distância de 1386 km de Belém, por estrada, e é possível chegar de avião ao seu aeroporto, saindo de Belém, Brasília e Manaus. Há quem prefira chegar de barco, numa viagem com duração de três dias saindo de Belém, e com o mesmo tempo, se a saída for do Porto de Manaus. Segundo o IBGE, atualmente, sua população está estimada em torno de 308 mil habitantes. A cidade se destaca por suas belezas naturais, por sua rica culinária e pelo calor humano de seu povo, considerado muito acolhedor.
Vila de Alter do Chão (Crédito: Claudio Dias)
O turismo teve uma considerável ascensão e fama internacional, depois que em 2009, o jornal inglês The Guardian considerou as praias da vila de Alter do Chão, distrito de Santarém, como as mais bonitas do Brasil, na frente de destinos bem mais famosos. Conhecida como “Caribe brasileiro”, Alter do Chão fica à uma distância de 38 km de Santarém. É de lá que saem os barcos e lanchas para visitar as comunidades tradicionais, a Floresta Nacional do Tapajós — Flona, os igarapés e igapós, o Canal do Jari e outros. A melhor época para desfrutar dos banhos de água doce, às margens do Rio Tapajós e Rio Arapiuns, com sua magnífica paisagem, além da infraestrutura oferecida pelos quiosques que servem peixes na brasa o tempo todo, é o período de agosto a dezembro, o verão amazônico.
A cidade de Santarém possui diversas universidades e faculdades, que atendem alunos da região e de todo o país. Entre as públicas estão a Universidade Federal do Oeste do Pará — UFOPA e a Universidade Estadual do Pará — UEPA. Criada em 2009, a UFOPA faz parte do programa de expansão das universidades federais do Ministério da Educação — MEC. Em Santarém, a Ufopa mantém suas atividades, atualmente, em duas unidades: Unidade Rondon, localizada no bairro Caranazal; e Unidade Tapajós, no bairro Salé. Além de um expressivo número de cursos de graduação, a universidade conta com um reconhecido programa de mestrado, pós-graduação e doutorado.
UFOPA — unidade Tapajós (Crédito: site da universidade )
No final do mês de setembro, realizei uma entrevista online, com a Profa. Dra. Maria Mirtes Cortinhas dos Santose e com a Profª Dra. Maria Francisca de Miranda Hadad, mais conhecida como Profª Cecita. A Profª Mirtes Cortinhas leciona Geografia na Universidade Federal do Oeste do Pará — UFOPA e trabalha no Programa de Pós Graduação Ambiente e Qualidade de Vida. Foi em 2006 que ela instituiu um grupo interdisciplinar de pesquisa sobre gestão e educação ambiental. O objetivo de trabalhar Educação Ambiental veio desde o mestrado numa universidade no Estado do Amazonas e concretizou-se durante o curso de doutorado quando realizou pesquisas em algumas escolas de Santarém.
O GEPEEA é coordenado pela Profa. Dra. Maria Mirtes Cortinhas dos Santos (ICED/UFOPA) e pela Vice Coordenadora, a Profa. Dra. Helionora da Silva Alves (Instituto de Biodiversidade e Florestas/UFOPA). É devidamente cadastrado no CNPQ e nos Órgãos de Pesquisa e Extensão da UFOPA.
Segundo a Profª Mirtes, “o GEPEEA executa Programa de Extensão em Educação Ambiental (PEEA), que visa estabelecer um estreitamento dos docentes e discentes da universidade com a sociedade do oeste paraense, por meio de desenvolvimento de ações de educação ambiental, que promovam a sensibilidade e consciência ambiental dos seres humanos para a obtenção da qualidade do meio ambiente amazônico, com destaque para a linha de ação/reflexão crítica-transformadora”. É um grupo aberto para receber os interessados na preservação do meio ambiente e é organizado em subgrupos. Mirtes frisou que o trabalho se estende para além de Santarém, como os Municípios de Afuá (cidade sobre palafitas), Mojuí dos Campos e Presidente Figueiredo (cidade turística, com muitas cachoeiras), no Amazonas. As ações acontecem na universidade em parceria com a Secretaria de Educação e Secretaria de Meio Ambiente dos municípios. “Nas escolas nós plantamos a semente e deixamos para que os educadores continuem desenvolvendo as ações. Mais tarde retornamos para observar se houve resultados. E muitas vezes as ações são bem positivas. Há ciclos de palestras, encontros de educadores com a participação de professores, coordenadores pedagógicos. A comunidade do entorno da escola também é convidada a participar, junto com os alunos e seus responsáveis. “Não adianta trabalhar a educação ambiental só com os alunos e a família não dar a continuidade”. A universidade apoia os trabalhos, na medida do possível, cedendo transporte para deslocamentos e a expedição de certificados. As escolas de Santarém, em sua maioria, já desenvolveram projetos com o GEPEEA. O que nos deixa muito felizes é quando voltamos na escola e vemos a transformação”. A lei 9795/99 direciona a política de Educação Ambiental e dá a segurança legal para o grupo de tabalho”.
Profª Mirtes Cortinhas coordenando as atividades de projetos que desenvolve na UFOPA (Crédito: Profª Mirtes Cortinhas)
Os maiores desafios estão relacionados com a falta de compreensão de algumas prefeituras, que não compreendem o alcance do trabalho para melhorar a qualidade de vida de suas populações e se negam a participar. Outro desafio está relacionado às distâncias e dificuldades de acesso a alguns municípios, onde só conseguem chegar de lancha ou de barco. A má qualidade das estradas também é um empecilho. Ter um contato mais próximo com outros campi da UFOPA, também é considerado um desafio a ser superado. Mirtes espera que a universidade dê mais apoio para os deslocamentos dos grupos, para chegarem aos municípios mais distantes. Segundo ela, o apoio deve atender não só ao GEPEEA, mas a todos os outros grupos de trabalho da Universidade. Segundo Mirtes, uma das questões trabalhadas nos grupos, quando visitam as escolas, é sobre a falta de saneamento básico na cidade. Ela lembra uma metáfora muito difundida na cidade, onde dizem que: “Santarém é uma menina bonita, porém, mal cuidada”. Sobre isso há uma preocupação com os moradores e também com os visitantes. Há perigo de doenças devido aos mosquitos e o precário tratamento da água. Na periferia, os resíduos sólidos são lançados a céu aberto. É necessário que os gestores públicos atuem para melhorar o saneamento básico, que pode, inclusive, impactar na economia da cidade. Nós, da universidade, apontamos as fragilidades, para que a gestão pública possa atuar a favor dos munícipes. Agora, no período da Covid-19 foram produzidas duas cartilhas sobre Educação Ambiental. O foco foi sobre o cuidado individual e coletivo, sobre o uso e descarte correto das máscaras e outros. Está previsto o lançamento de mais uma cartilha e de um livro: Educação Ambiental, nossas experiências na Amazônia”. Segundo Mirtes, em Santarém há dois polos de Educação Ambiental em escolas: a Escola da Floresta e a Escola do Parque. A Escola da Floresta tem alguns dificultadores, por ser mais distante e para levar grupos é necessário um micro-ônibus, o que só é possível com o apoio da universidade. A Escola do Parque é mais acessível e a parceria é mais constante. É nessa escola onde acontecem os encontros com os educadores. Essas escolas dão suporte para as escolas do município e do Estado. A Profª Mirtes encerrou a entrevista alertando que “nós fazemos parte desse ambiente e as pessoas precisam se conscientizar disso e ter mais responsabilidade com o planeta. Nós, os educadores, precisamos sensibilizar a todos sobre isso. Trabalhar a educação sobre a preservação do meio ambiente é de grande importância, para nós que vivemos neste século”.
Reunião da Profª Cecita e seus alunos com a comunidade, numa igreja local (Crédito: Profª Cecita)
A Profª Dra. Maria Francisca de Miranda Hadad (Profª Cecita) é economista, Mestre em Sistema de Gestão do Meio Ambiente e Doutora em Sociedade, Natureza e Desenvolvimento. Há um ano aposentou-se como professora da UFOPA, mas continua no grupo de trabalhos do GEPEEA. Ela começou a entrevista contando sobre um projeto de pesquisa que desenvolveu por meio do Instituto Esperança de Ensino Superior - IESPES com a Companhia Docas do Pará - CDP. Inicialmente realizou o projeto no Porto de Santarém, para trabalhar sobre os resíduos sólidos e coleta seletiva. O público-alvo eram os frequentadores do espaço, como os estivadores, as prostitutas, os taxistas e outros. Depois o projeto foi desenvolvido em todas as Docas do Pará.
Abaixo, temos a amostra de um projeto de pesquisa que a Profª Cecita desenvolveu com seus alunos, numa comunidade em Santarém.
Foto 1: Palestra com moradores — Foto 2: Recolhimento de resíduos de informática — Foto 3: Jardim suspenso com garrafas PET (Crédito: Profª Cecita)
Foto 1: Resíduos recolhidos na comunidade — Foto 2:Participantes das oficinas confeccionando brincos — Foto 3: Oficina de artesanatos (Crédito Profª Cecita)
Como estudo de caso do projeto de pesquisa “Um Modelo Eficiente de Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos em Santarém, Pará, foi escolhido o Residencial Salvação. O objetivo era “perceber o papel da Educação Ambiental na mudança de comportamentos e atitudes da população no que se refere à Gestão de Resíduos Sólidos Domésticos”. Inicialmente partiu-se para perceber “a caracterização da problemática do descarte dos resíduos no bairro e o grave problema da disposição incorreta dos mesmos, tanto por parte dos moradores, como por pequenos comerciantes”. Segundo a Professora, em seguida, foi realizado um levantamento fotográfico, em parceria com a Igreja Católica local. Num evento com a participação da comunidade, foram ministradas palestras, oficinas e tempestade de ideias para apresentar a situação do bairro, buscando a reflexão sobre a responsabilidade de cada um. No final, colheram-se as sugestões de ações práticas de educação ambiental no bairro. Ela contou que “em dois anos de atuação, os resultados foram surpreendentes tanto no tocante à melhoria das condições de descarte, como pela participação das diversas oficinas desenvolvidas no local (aproveitamento de resíduos eletrônicos, montagem de jardins suspensos com garrafas pet, organização do pelotão ambiental na escola de ensino fundamental do bairro, decoração de Natal da área da Igreja Cristo Salvador etc”.
A Profª Cecita mencionou que o embrião de sua pesquisa sobre a gestão de resíduos sólidos, aconteceu antes do seu curso de doutorado. Foi a criação da primeira cooperativa de Santarém. Foi uma ação da prefeitura da cidade que ao desmontar uma carvoaria, na cidade, conversou com ela para incluir o grupo que era de 12 trabalhadores em algum projeto na universidade. A professora convidou seus alunos do Curso de Ciências Econômicas e realizou uma reunião na Secretaria do Meio Ambiente, onde os antigos carvoeiros receberam toda a formação necessária de como montar uma cooperativa de reaproveitamento de resíduos sólidos. Ao perguntar se os trabalhadores conseguiam sustentar suas famílias, apenas, com o que vendiam na cooperativa, ela disse que “ não dá não, inclusive, esse foi um dos objetos de estudo do meu doutorado. Eles não conseguem ter independência, porque a prefeitura ainda não tem um programa de coleta seletiva. Eles separam o lixo, higienizam, mas não conseguem ter o aproveitamento, com padrão industrial”. A Professora citou um outro projeto que efetivou com os alunos da UFOPA. Segundo ela, existia um trabalho social dentro de um grande supermercado da cidade. Com sua orientação e a de seus alunos, foi montada uma cooperativa, onde os trabalhadores passaram a receber as garrafas PET, para reciclagem, por meio de várias parcerias com shoppings e redes de supermercados. A cooperativa teve sucesso e os participantes conseguem obter uma renda para manter suas famílias, só com esse trabalho. A professora afirmou que não gosta muito de trabalho burocrático, “eu gosto de mudar a vida das pessoas. A universidade tem que transformar a sociedade. Precisa sair de dentro dos seus muros e vencer as resistências, apesar da gente saber que dá muito trabalho”.
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Melhores Destinos - Alter do chão - Pará
Revisão ortográfica: Leilaine Nogueira