Santander/Espanha (Crédito: Márcio Silva)
A Década das Nações Unidas de Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável, ou A Década do Oceano, foi promovida pelas Nações Unidas em 2017 e deve acontecer de 2021 a 2030. Seu foco é conscientizar a sociedade sobre todos os benefícios e bem-estar que os oceanos trazem para a humanidade, e que possamos compreender o quanto é importante cuidar, preservar e usar suas riquezas de forma responsável e sustentável. Seu lema é “a ciência que precisamos para o oceano que queremos” e espera-se os seguintes resultados: “um oceano limpo, saudável e resiliente; previsível; seguro; sustentável e produtivo; transparente e acessível; e conhecido e valorizado por todos”. Em 08 de junho, num pronunciamento para lembrar o Dia Mundial do Oceano, o Secretário Geral da ONU, António Guterres alertou que “a segunda Avaliação Mundial do Oceano confirmou a importância dos mares para a humanidade e sobre como os oceanos estão sendo minados pelas ações dos próprios cidadãos”. Falou também, sobre “a preocupação da ONU com as emissões de dióxido de carbono que estão aquecendo os oceanos e os níveis de acidificação, destruindo ainda a biodiversidade e levando a subida do nível do mar, o que ameaça as áreas costeiras que são habitadas”. A implementação da Década do Oceano também é uma decisão que objetiva colaborar com o sucesso do ODS 14 da Agenda 2030, que tem como tema a “Vida na Água: Conservar e promover o uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável”.
Foto1: Gana/Costa do Marfim (Crédito: wiki commons/Malaki Photography) Foto2: Província de I’Est/Sri Lanka (Crédito: wiki commons/Pierre A. Lecrercq)
Vale lembrar que a Agenda 2030 é fruto do encontro de representantes de 195 países na sede da ONU, em Nova Iorque, em 2015, onde reconheceram como primordial a erradicação da pobreza e assumiram como desafio principal acabar com a pobreza extrema no mundo, num período de 15 anos. Durante o evento foi assinado o documento “Transformando o Nosso Mundo: A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável”, que tem como lema: “Não deixar ninguém para trás”. O plano contém 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, os ODS, e 169 metas. Sobre o ODS 14, o portal da Agenda 2030 aponta que “40% dos oceanos estão sendo afetados incisiva e diretamente por atividades humanas, como poluição e pesca predatória, o que resulta, principalmente, em perda de habitat, introdução de espécies invasoras e acidificação”. E aponta que, nos oceanos, há 13.000 pedaços de lixo plástico em cada quilômetro quadrado. Segundo Peter Haugan, presidente da Comissão Oceanográfica Intergovernamental — COI, a Década do Oceano “irá ajudar a construir um sistema de informações compartilhadas, fundamentado em dados científicos confiáveis, provenientes de todas as partes do oceano do planeta”. No Brasil, as ações para a implementação e desenvolvimento da década do oceano serão lideradas pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações — MCTI e pela (COI), da UNESCO. As informações sobre a Década da Ciência Oceânica para o desenvolvimento sustentável podem ser baixadas aqui em PDF.
Praia Vermelha, com destaque para o Pão-de-Açúcar, um dos pontos turísticos mais conhecidos do Rio de Janeiro e onde está localizado o Santuário Marinho da Paisagem Carioca (Crédito Projeto Verde Mar)
Caio Salles (jornalista) é responsável pelo Projeto Verde Mar e produz conteúdo ambiental para um canal do Youtube. Numa entrevista on-line, contou-nos um pouco sobre sua trajetória anterior, como jornalista esportivo, cobrindo pautas de esportes radicais, Olimpíadas e Copa do Mundo e como surgiu a ideia da criação do Projeto Verde Mar. Segundo ele, foi a sua necessidade de agir em prol de algo maior e deixar seu legado para colaborar com a sociedade, que o moveu a desenvolver e colocar em prática um projeto sobre preservação da fauna e flora marinhas. Praticante de mergulho desde a adolescência e preocupado com as questões ambientais, em 2014, concomitante com seu trabalho de jornalista esportivo, Caio aproveitou sua experiência junto a vida marinha e suas preocupações socioambientais para produzir uma série de documentários e divulgar trabalhos e iniciativas em preservação do meio ambiente, pelo mundo. Posteriormente, Caio começou a desenvolver seu trabalho, efetivamente, na Praia Vermelha, área protegida, localizada na zona Sul do Rio de Janeiro. Com alguns amigos começou a mergulhar para catar o lixo do mar, sistematicamente, produzindo relatórios, anotando o tipo de resíduo e sua origem. Em seguida integrou-se ao Programa Internacional de Combate ao Lixo no Mar, enviando mensalmente as informações para um banco de dados mundial.
Recolhimento de lixo do mar e ações de conscientização sobre a preservação do meio ambiente-Projeto Verde Mar/Rio de Janeiro
Ao coletar os resíduos, Caio e seus amigos perceberam que mais de 70% era de resíduo proveniente de pesca recreativa local, como linhas, velas de ignição de carro, restos de rede, numa área que é proibida a pesca, por ser uma Unidade de Proteção Integral. Caio pontua que “o problema do lixo no mar, como o plástico, é um problema sistêmico, que deve ser discutido muito mais a fundo, não vai ser com os mergulhadores catando lixo no fundo do mar que será resolvido — o que buscamos de fato é conscientizar as pessoas. Mas talvez localmente, a gente tenha identificado uma questão bem pontual ali, que estava causando um impacto direto, numa área que é de atração de tartarugas, que tem um berçário de vida marinha de peixes e outras espécies”. Muitos pescadores não tinham conhecimento que estavam numa área de preservação e o porquê de ser proibida a pesca no local. O grupo de mergulhadores percebeu que, basicamente, o problema era de comunicação — não havia sinalização com placas naquele lugar. Em contato com a Secretaria do Meio Ambiente do Rio de Janeiro, Caio conseguiu que fosse criado um decreto, transformando o local num Santuário Marinho. A ação de criação do Santuário Marinho é uma das ações de comunicação proposta dentro do Projeto Verde Mar, para essa área. Segundo ele, “o objetivo principal do projeto é tornar conhecido e valorizado o ambiente marinho e os impactos a que são sujeitos”. Caio explica que o Projeto Verde Mar está baseado em cinco eixos principais: 1- seria o engajamento social, com mutirões de limpeza com os mergulhadores, para impactar as pessoas sobre a questão do lixo; 2- as ações de Educação Ambiental que envolvem as escolas e as comunidades do entorno; 3- a produção de comunicação; 4- a pesquisa científica e 5- a proposta que envolve as políticas públicas.
Parceiros do Projeto Verde Mar: Foto 1 : Projeto Ilhas do Rio — Foto 2: Projeto Aruanã — Foto 3: Projeto BG500 (Crédito: Facebook)
O Projeto Verde Mar conta com diversas parcerias, para realizar as ações de conscientização sobre a importância da preservação da vida marinha e Educação Ambiental. Entre os principais parceiros, Caio cita o Projeto Aruanã que estuda e trabalha com a conservação de tartarugas marinhas, na região da Baía de Guanabara, o Projeto BG500 que é ligado à Associação Brasileira de Combate ao Lixo no Mar - ABLM e o Projeto Ilhas do Rio, que faz parte do Instituto Mar Adentro. Caio explica que, de fato, o que realizam são sensibilizações para as questões ambientais, já que acredita que a Educação Ambiental deva acontecer de forma mais profunda e abrangente, por meio de políticas públicas, com as escolas trabalhando a cultura oceânica: “nós estamos na Década do Oceano, em que temos sete princípios para serem atingidos até 2030, e um deles é tornar o oceano conhecido e valorizado por todos. E dentro disso vem a questão da cultura oceânica, que é a gente entender a influência do oceano na nossa vida e a influência do nosso modo de vida no oceano. É entender a importância do oceano pra vida no planeta, como um todo. E, infelizmente, isso não consta da base curricular nacional. A ideia é propor a alfabetização oceânica para as escolas do Município do Rio de Janeiro”. Sobre a Década do Oceano e suas metas, Caio menciona a importância das metas, mesmo que muitos objetivos não sejam alcançados de imediato, pois é uma forma de discutir e chamar a atenção para vários problemas. Ele pontua que os indivíduos, em geral, têm sido responsabilizados por muitos problemas ambientais que destroem a natureza, mas que, na verdade, a cobrança sobre as indústrias e empresas deveriam ser bem mais duras, já que a culpa é muito mais delas. “Isso deveria ser uma das prioridades do poder público”. Ele dá exemplo das toneladas de plástico que chegam ao mar, vindo das indústrias. E conclui dizendo que a sociedade precisa refletir de forma mais crítica sobre o conceito de desenvolvimento sustentável, que é difundido indiscriminadamente pelas empresas para justificar muitas ações que, na verdade, nada tem de sustentável.
Vídeo referente ações de Educação Ambiental na Praia Vermelha/RJ (Crédito: Projeto Verde Mar)
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Unesco - Decada da ciencia oceanica o desenvolvimento sustentavel é lançada oficialmente
Revisão ortográfica: Leilaine Nogueira