COP26: Brasil fracassa em tentativa de recuperar imagem negativa


Depois de 12 dias de evento, o país não avança em propostas e não consegue recuperar liderança em discussões sobre questões climáticas


Heloisa Araujo

19.11.2021

Na imagem, Joaquim Leite, ministro do Meio Ambiente, discursa na COP 26. Foto: Antonio Cruz/Arquivo Agência Brasil

A Conferência do Clima, também conhecida como COP26, que ocorreu na cidade de Glasgow, na Escócia, terminou na última sexta-feira (12). O evento reuniu mais de 200 países para discutir ações que pudessem combater o desmatamento e conter as emissões de gases poluentes.

A Conferência conseguiu com a ação de líderes e presidentes avançar em acordos que abrangem temas como o desmatamento e a emissão do gás metano, que contam com a adesão de mais de 90 países.

Entretanto, o avanço nas discussões não necessariamente será convertido em ações efetivas. É o que diz Luís Fernando Guedes Pinto, diretor de Conhecimento da Fundação SOS Mata Atlântica, em entrevista à Rede TVT.

“Por um lado houve um reconhecimento cada vez maior do aquecimento global. Mas, na prática, os compromissos que temos assinados no papel, de cada país, se juntar tudo, a conta não fecha. E, infelizmente, nós passaremos do limiar de aquecimento global seguro para o planeta” disse o diretor, que também é professor da Escola Superior de Sustentabilidade e Conservação, a ESCAS-Ipê.

Joaquim Leite, ministro do Meio Ambiente, foi criticado durante sua presença por algumas falas como, por exemplo, associar a Floresta Amazônica à pobreza ao apresentar o projeto Floresta+, relação que não é cientificamente aprovada. O Brasil chegou à COP 26 com elevação de 9,5% na emissão de gases em relação ao ano de 2020, de acordo com dados do Seeg (Sistema de Estômago as de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa), divulgado em outubro deste ano.

O deputado federal Zé Silva (Solidariedade-SP), que integra a Frente Parlamentar da Agropecuária, diz que “o mundo viu o Brasil nessa COP com melhores olhos” em relação às causas ambientais.

“O Brasil reconheceu que temos problemas a serem resolvidos e que o principal deles é o desmatamento. O país não é protagonista, como já chegamos a ser, mas cumpriu o dever de casa tecnicamente”, disse o deputado ao portal da Câmara dos Deputados.

O Brasil chega à Conferência como um dos cinco países com acréscimo de emissões de gases poluentes em 2020. Foto: Andre Penner/AP

Entretanto, Luís Fernando Pinto não concorda com o deputado. Segundo o diretor, o Brasil perdeu o protagonismo nas discussões sobre a questão climática e ambiental no mundo e sai da COP26 “com essa imagem ainda pior”.

“Primeiro, o nosso presidente não foi à COP, e tem um significado muito grande ele não estar lá, politicamente. E uma das razões era por não estar vacinado. Tinha o Biden, tinha a Merkel, o próprio Obama estava lá. A postura do Brasil, de maneira geral, foi reativa. Fomos cedendo e assinando os principais acordos e compromissos, mas com uma postura reativa, nós costumávamos ter uma postura reativa”, comentou Luís Fernando Pinto.

Concretamente, houve poucos avanços práticos para que as metas do Acordo de Paris, tratado assinado em 2015, possam ser atingidas.

A COP 26 avançou na regulamentação do mercado de carbono, por exemplo, mas questões como o financiamento de preservação em países em desenvolvimento — que partirá dos países desenvolvidos – não foram suficientemente definidas na Conferência.

O Brasil reajustou em 7% a meta de emissões para 2030, prometendo cortar 50% (antes 43%) das emissões de gases lançadas na atmosfera pelo país.

Conter o aumento da temperatura do planeta, é uma das principais metas do Acordo de Paris. Secas, enchentes, ondas de calor e de frio poderão ser mais frequentes e catastróficas e os riscos de um aumento exponencial na temperatura do planeta poderão ser sentidos por todos, sem exceção.

“A questão climática, falando de gases na atmosfera, o que um país faz ou deixa de fazer impacta todo mundo. Não impacta só o seu próprio país. Por isso, precisamos de um acordo em que todos os países assinem. Se a China não parar de queimar carvão, acabará com a população de quem vive em uma ilha no Pacífico. Essa é a consequência. A mesma coisa é o desmatamento para o Brasil”, finaliza Luís Fernando Pinto.


Revisão ortográfica: Anne Preste


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