Cecilia Borelli

por Malu de Alencar

20.05.2020

Cecília Borelli é uma cidadã preocupada com a Mãe Natureza, o Planeta Terra e com o Ser Humano. Formada em Psicologia, desde o início de sua carreira partiu para trabalhar com Arte Educação ministrando oficinas ligadas ao meio ambiente para Educadores e Agentes Comunitários, assim como crianças e adolescentes. Afinal de contas, o nosso planeta faz tempo que pede SOS.

Por esse motivo, pelo empenho em educar crianças, adolescentes e adultos a respeitar a Natureza, num momento em que se discute o destino do nosso planeta, fui procurar Cecília para entrevistá-la e saber o que a levou a se envolver com as questões ambientais.

CeR: Cecilia, quem é você?

Cecília: Meu nome é Cecilia Borelli, nasci em 1957 no interior do estado de São Paulo, casada, dois filhos, descendente de italianos, portugueses e acho também albaneses e índios. Criada por pais honestos, trabalhadores e dedicados.

CeR: O que você entende por Planeta?

Cecília: Eu me compreendo como filha da Mãe Natureza e portanto, irmã de todos de origem, povos, raças, culturas crenças e línguas diferentes que habitam a mesma Casa Comum que é o precioso Planeta Azul, a Terra. Este planeta lindo e precioso que nos acolhe e se doa a todas as vidas sem demarcar fronteiras, mostrar preferências nem dar a nenhum e a ninguém documentos de posse. Acredito que não somos os únicos e não estamos dentro deste Universo maravilhoso e incomensurável de constelações, sóis, luas, cometas e buracos negros, um imenso e indecifrável mistério que nos dá a dimensão de que somos um minúsculo ponto, quase poeira no Cosmos e que muito pouco ou quase nada sabemos, mesmo que muitos afirmem com veemência saber.

CeR: Cecilia, qual a sua fé? Tem alguma religião?

Cecília: Não pertenço a nenhum grupo religioso, entretanto me interesso muito em conhecer mais sobre o contato dos diferentes povos com o sagrado. Acredito em práticas que nos religuem, nos direcione ao melhor que existe dentro de nós e nos sintonize com o Amor e a Harmonia que há em toda a Criação, a mesma força que faz as sementes colocadas na terra brotarem e crescerem buscando a luz do Sol, e que nos faz melhores para viver com Saúde, Harmonia, Equilíbrio e Amor.

CeR: O que você faz para se conectar com a Mãe Natureza?

Cecília: No templo e tempo da Natureza é onde gosto de silenciar, meditar, orar e agradecer o dom da vida, é onde me sinto e melhor e disposta a seguir peço para sentir todos os dias quando acordo. A presença da energia do amor ilumina a nossa escuridão e ela pode nos transformar para salvarmos a nós mesmos e ao planeta ferido pela alienação e toxicidade do mal causado por esta Civilização. Acho que o amor que tanto precisamos é genuíno quando praticado no prazer e entusiasmo que encontramos em desenvolver, aplicar nossos dons, quando sentimos alegria de compartilhar, transmitir e favorecer os próximos, os distantes, o todo.

CeR: Você concorda com a maneira como algumas pessoas, empresas, governos tratam o Meio Ambiente?

Cecília: É absolutamente incompreensível e inaceitável o modo cruel que o planeta e as vidas que aqui habitam são tratadas: castigadas, torturadas, exploradas pela intolerância, ganância, abuso, discriminação, preconceitos, censura, indiferença... Cidades inteiras, casas, hospitais e escolas destruídas por armas sofisticadas e caríssimas, criadas para servir ódio e interesses insanos de poder. Crianças abandonadas, comunidades inteiras mutiladas, exterminadas, povos sem pátria e lugar ­­- o descaso profundo com a fome, com a miséria, as feridas profundas, algumas irreversíveis, causadas pela poluição, devastação e exploração inconsequente da Natureza.

CeR: Por que Arte Educação como sistema de vida?

Cecília: Faço como escolha de vida, me tornar ativa fazendo e ensinando arte, facilitando através deste trabalho a ligação da prática com a essência. E me transformo assim numa ativista com a firme e verdadeira intenção de estar unida a muitos e muitos que se ocupam há tempos em estudar, preservar, proteger, cuidar da natureza, dos seus elementos que formam e alimentam a vida (água, a terra, o fogo e o ar), que se manifestam dentro dos seus reinos. Humanos, animais, vegetais, minerais, todas as suas manifestações que estão ligados, interdependentes por uma teia, onde têm igual e grande importância, função e beleza e sua preciosa criação. Ela me inspira e me ensina a fazer artes plásticas, como pinturas, oficinas e criar instalações e interferências performáticas nos espaços urbanos, a escrever e ler poemas, amar e precisar muito da música, da dança, de estudar as formas, as cores, os sons da natureza.

CeR: Para finalizar, o que você faz para sobreviver num ambiente de asfalto, poluição sonora e atmosférica?

Cecília: Tenho especial prazer em abraçar as árvores, juntar suas sementes, gravetos e folhas, de escutar passarinhos, estar entre os animais, artistas conhecidos e anônimos e crianças, desenhar na areia, nadar no mar, tomar banho de cachoeira, andar nas trilhas, cantar dentro da mata fechada, plantar ervas e temperos, fazer mudas, pensar que dentro das casas, escolas e construções podem existir jardins... E também as florestas e hortas devem e podem ser criadas dentro dos espaços urbanos, com urgência ! Acho que já falei muito para me apresentar e contar um pouco sobre o trabalho que desenvolvi e aprendi a fazer nestas quase quatro últimas décadas e que quero realizar no máximo do tempo que ganhar para viver. Esqueci de falar dos abraços, a importância de preservar os abraços, os encontros, os afetos... abraçar é uma palavra linda e ampla, pode ser dada e até nos alentar, diminuir a dor dos medos, ansiedades, angústias e solidão, tornar nossos dias melhores nestes tempos no mundo. Pode reacender nossa esperança de liberdade e paz: Abraços longos e vontade de verde, de ver te dentro e fora e fora de mim, comigo, sorrindo no mundo”.

Notas:

  • Site de Cecília Borelli

  • Após a entrevista, Cecília me presenteou com seu último livro: "O mar e o mestre dançarino" (Ed. Giostri)


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