por João Aranha

18.09.2020

CeR: Por que a Amazônia é tão importante?

Amazônia: Importa porque sou um dos principais reguladores do clima do planeta; por garantir chuvas abundantes em áreas produtivas da América do Sul; por conter a maior biodiversidade da Terra; para garantir a sobrevivência dos povos indígenas; para o desenvolvimento de novos remédios e para ensinar ao mundo que o desenvolvimento sustentável é possível.

CeR: Como garantir tudo isso?

Amazônia: Mantendo a floresta em pé, recuperada e conservada, evitando a exploração ilegal de minhas riquezas e, principalmente, combatendo as queimadas e o desmatamento.

CeR: Detalhe um pouco sua participação na regulação do clima.

Amazônia: Minhas árvores absorvem a umidade que evapora no vizinho oceano Atlântico. Isso provoca chuva sobre a mata além de criar correntes de ar — conhecidas como rios voadores — que carregam essa umidade para o Centro—Oeste, Sudeste, Sul do Brasil e países vizinhos. Eu devolvo a água da chuva em forma de vapor de água, que vai virar chuva mais adiante.

CeR: Qual é sua área de atuação?

Amazônia: A lei dos homens diz que tenho 5,2 milhões de km² e me estendendo por 9 países e só no Brasil ocupo 60% de área.

CeR: Se o desmatamento continuar nessa proporção você poderá deixar de existir em 2050. O que acontecerá com o Brasil e o mundo se isso ocorrer?

Amazônia: Teremos 25% menos chuvas no Brasil e 30% menos aqui na minha floresta. No mundo a temperatura média pode subir entre 1,75°C e 2,75°C. No Ártico 2°C. Na América do Sul haverá uma sensível redução no fluxo dos rios e, sem falar que 1 km² quadrado de floresta derrubada representa o despejo de 50 mil toneladas de gás carbônico na atmosfera, responsável pelo efeito estufa.

CeR: Até agora falamos só do meio ambiente. E quanto à economia o que você tem a dizer?

Amazônia: Com inovação e políticas públicas, a minha população aprenderá a explorar de maneira mais lucrativa os produtos, agregando valores a eles. A isso eu chamo de Bioeconomia.

CeR: Quais produtos são os mais promissores?

Amazônia: Uma das espécies mais promissoras para a recuperação de áreas degradadas é a castanha aqui da Amazônia. 200 comunidades já tiram seu sustento dessa espécie, gerando renda e protegendo o meio ambiente. Se houver energia elétrica e treinamento da mão-de-obra a piscicultura tem tudo para ser outra excelente fonte de renda. São promissores também o açaí e a palma. Mas a minha maior riqueza ainda é pouco conhecida pelos homens.

CeR: Qual seria essa riqueza escondida?

Amazônia: A maior biodiversidade do planeta, cerca de 15%, está aqui. Existem 60 mil espécies de plantas e animais vertebrados. Mas a maior parte ainda é desconhecida. Esses 60 mil genomas podem conter a cura ou alívio de inúmeras doenças existentes e outras que ainda não conhecemos. Terão utilidade também nos processos industriais e na agricultura. Técnicos já falam que aqui não existe só abundância e sim uma fortuna.

CeR: O espaço que você ocupa é só da floresta tropical úmida?

Amazônia: Tenho 600 tipos diferentes de habitats terrestres e de água doce. São savanas, florestas de montanha, florestas abertas, florestas de várzea, pântanos, florestas de bambus e florestas de palmeiras.

CeR: Como os povos indígenas se comportam face a tudo isso que foi dito?

Amazônia: Mesmo pressionados por garimpeiros e madeireiros ilegais, os povos tradicionais da floresta ajudam a evitar o desmatamento. Os mais de 13% das terras indígenas da minha parte brasileira são literalmente oásis de vegetação bem preservadas e com muita biodiversidade, em comparação com as áreas vizinhas, muitas vezes com altos índices de desmatamento. Caminhando pela região, os índios monitoram a floresta o tempo inteiro.

CeR: Por que o garimpo ilegal lhe faz tão mal?

Amazônia: 95% dos garimpeiros ilegais usam mercúrio, substância altamente danosa para os rios e as populações ribeirinhas. Só no rio Tapajós é lançada a cada sete anos uma quantidade de dejetos equivalente ao que aconteceu no desastre ambiental de Mariana.

CeR: O que esperar do futuro?

Amazônia: Sou otimista. O número dos que reconhecem a minha importância cresce a cada dia. Chegará um tempo em que isso ficará tão evidente que ninguém ousará minimizar tudo o que eu represento.


Revisão: Maitê Ribeiro
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