20.08.2021
Em 1943, a filósofa Hannah Arendt escreveu o texto “Nós, os Refugiados” onde discorre a respeito das questões de pertencimento, acolhimento e direitos humanos dos refugiados. Segundo dados divulgados pelo CONARE, Comitê Nacional para os Refugiados, disponível no site da Agência da ONU para Refugiados, ao final de 2020 havia 57.088 pessoas refugiadas reconhecidas pelo Brasil. Vindos de diversos países, os registros de maior número entre 2011 e 2020 são de refugiados reconhecidos vindos da Venezuela (46.412), sírios (3.594) e congoleses (1.050). Os solicitantes da condição de refugiado foram venezuelanos (60%), haitianos (23%) e cubanos (5%).
Hoje, quase oitenta anos depois, a discussão levantada pela alemã continua atual, como mostram os números. Cabe a organizações não governamentais e a iniciativas voluntárias realizar as ações necessárias de acolhimento.
O Instituto Adus é uma ONG que trabalha para isso acontecer, cuja semente começou a germinar em 2010, ancorada no desejo “Integrar é preciso” de integrar refugiados a sociedade brasileira. Logo em seguida, o Adus visitou a cidade de Mogi das Cruzes para uma conversa com refugiados locais e figuras de liderança da região. Dois anos depois a ONG receberia a certificação de Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, do Ministério da Justiça do Brasil. Realizaria a primeira Copa do Mundo dos Refugiados e conquistaria a tão sonhada sede própria. Atualmente, o Instituto Adus já formou diversos refugiados no curso de português, criou o Programa de Capacitação e Geração de Renda, o primeiro da instituição, e o projeto de Orientação Jurídica, fundamentais para uma integração efetiva. Também conta com apoio de famosos, chamados Embaixadores da Diversidade. Através desses projetos, pode-se recuperar elementos que Hannah Arendt elenca como perdidos. O domínio do idioma permite que se diminua o abismo da sensação de perda, trazendo de volta, mesmo que discretamente, a naturalidade das reações, a simplicidade dos gestos e a expressão dos sentimentos. O trabalho, além de fornecer capital, item importante para a subsistência, recupera a ocupação que significa a confiança de que sua existência possui utilidade.
O trabalho da ONG se torna ainda mais fundamental no contexto atual, pois as condições sociais enfrentadas pelos refugiados, além da dificuldade de acessar o sistema de saúde brasileiro, caso não possuam os documentos necessários, expõem essa parcela da sociedade ao risco extremo. A pandemia elenca outra problemática pouco abordada: a saúde mental. É sabido que a pandemia afetou a saúde mental de todos e certamente ela afetou de maneira específica os refugiados, tornando cada vez mais importante a integração e lançar luz para os refugiados do Brasil.
O termo refugiado, desde a época de Arendt, teve um significado e um peso diferente, denominando aqueles que deixaram seus países porque não podiam mais ficar. A maioria dos refugiados não cometeu nenhum ato que os levassem a precisar se erradicar e buscam apenas a oportunidade de reconstruir suas vidas em outros países. A migração forçada é uma realidade e continuará sendo, o acolhimento já é respaldado por lei. Mas teoria e prática são elementos que muitas vezes não se cruzam. O Instituto Adus realiza um trabalho importante e cabe a nós o apoio, além de uma mudança de percepção acerca da realidade dos refugiados. Nenhum encontro é uma ilha, mas sim um mar vasto de possibilidades, onde a diversidade é muito bem-vinda e cada um tem seu espaço de contribuição na sociedade. Integrar é preciso, discutir a realidade dos refugiados é essencial, com isso, o Brasil só tem a crescer.
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Revisão ortográfica: Anne Preste