Ver, olhar e contemplar cada manhã, vislumbrar o pôr do sol são rituais da quarentena no ano de 2020.
A tecnologia possibilitou ao mundo se conectar pelo smartphone e por sua vez através dos aplicativos como Instagram, Facebook, compartilhar as alegrias e tristezas; pelo WhatsApp, Zoom, Skype, realizar reuniões virtuais para conectar pensamentos e principalmente prospectar novos negócios.
O serviço de delivery, cursos on-line, compras pelo e-commerce cresceram como o fermento Royal… mas ao mesmo tempo, como efeito dominó, muitos comércios foram “obrigados” a interromper os sonhos e pendurar uma placa de aluga-se ou vende-se.
Esses foram alguns dos momentos visíveis da quarentena, dentre outros assuntos, mas isso já é um outro capítulo da vida porque toda essa visão é um link para convidar você, leitor (a) a refletir: se de repente você não pudesse mais ler ou ver, qual seria a sua reação? A mudança é drástica, porque podemos enxergar um mundo através de cores, formas, letras, texturas, cheiros, sabores, sons e tudo que os nossos cinco sentidos podem nos proporcionar.
No entanto, para o ser humano que nasceu sem a visão, ou seja, sem a possibilidade de enxergar, como é o mundo desse ser humano? Como esse ser humano pôde se adaptar diante da pandemia?
Você já parou para pensar nisso?
No mundo do design é função do designer atender às necessidades do ser humano. Segundo o designer italiano Bruno Munari o problema = solução ou soluções.
No entanto, vamos fazer um pequeno parêntese: se uma criança que nasceu sem a possibilidade de enxergar, como poderá traduzir as palavras?
Segundo definição da Wikipedia, Braille é um sistema de escrita tátil utilizado por pessoas cegas ou com baixa visão. É tradicionalmente escrito em papel relevo e as quatro ferramentas para escrever no papel são:
reglete e punção;
máquina de escrever;
notetaker;
computadores que imprimem em Braille.
A escrita em Braille abriu as cortinas do palco do conhecimento para que os cegos pudessem enxergar através do tato.
A importância dos pontos que representam o alfabeto Braille são seis pontos em relevo dispostos em duas linhas na vertical, cada uma com três pontos.
Imaginem uma criança que consegue aprender o Braille; suas mãos são os seus olhos e escaneiam o papel para desvendar e aprender o mundo das palavras. É de admirar como o ser humano possui a capacidade de se adaptar diante das adversidades.
E por falar em adversidade, escrever a nossa Língua Portuguesa exige inúmeras regras e muitas vezes nos deparamos com algumas dúvidas ao ler um texto porque percebemos uma nova linguagem, ou até acabamos relendo para ver se é realmente isso; são as novas formas de comunicação dos jovens.
Uma moda na comunicação, que se tornou uma forma de expressar os sentimentos são os chamados emojis, que foram criados pelo japonês Shigetaka Kurita.
Ele criou o primeiro emoji em 1998, de 12x12 pixels. E fora os inúmeros app´s de emojis que começam a crescer no mercado onde muitos não conseguem mais viver sem eles ao transmitir uma mensagem; muitas vezes até os emojis substituem as palavras.
Esses emojis que são visíveis continuam na moda e fazem moda.
Nesse meio-tempo surge uma nova maneira de escrever com o uso dos caracteres “@” e “x”. É a nova moda para adotar uma linguagem neutra de gênero para as pessoas. No entanto, o problema é a dificuldade dos softwares de compreenderem a sonoridade da pronúncia “amigxs” para traduzir a escrita em Braille.
Neste ponto fazemos um convite para reflexões: realmente é necessário mudar um caractere para descrever o gênero do ser humano? Isso torna a comunicação uma inclusão ou exclusão? Simplificar ou complicar?
Para facilitar a leitura, incluir na sociedade, ter qualidade de vida e principalmente democratizar o conhecimento através da educação, a Associação de Deficientes Visuais e Amigos (ADEVA) oferece um leque de serviços, dentre eles, cursos gratuitos com material didático em Braille e computadores com softwares de leitores de tela.
Proporcionar a oportunidade ao deficiente visual de ingressar e incluir no mercado de trabalho após a pandemia será um dos desafios, dentre outros, para o mundo corporativo.
E o primeiro capítulo do livro O poder da empatia, de Roman Krznaric, descreve que o exemplo é a revolução das relações humanas pela empatia: “Um empreendedor social da Alemanha criou uma rede mundial de museus em que guias cegos conduziram mais de 7 milhões de visitantes por exposições mergulhadas em total escuridão, para que passassem pela experiência de ser um deficiente visual”.
O que deve ser mudado é o nosso olhar, como diz Henry David Thoreau na frase abaixo:
“Poderia haver maior milagre do que olharmos com os olhos do outro por um instante?”
Fontes: