Sebo do Messias

Acredita-se que os sebos surgiram na Europa por volta do século XVI quando mercadores passaram a vender papiros e documentos da época para pesquisadores. Esses mascates eram denominados de alfarrabistas, uma vez que alfarrábio quer dizer livro velho, antigo.

Cleo Brito

31.03.2021

Essas livrarias chegaram ao Brasil em meados do século XIX. Os vendedores de livros usados, nessa época, eram estranhamente chamados de caga-sebo, hoje conhecidos por sebistas. Atualmente, as grandes livrarias se tornaram ambientes voltados principalmente para consumo, com os atrativos cafés e espaços de socialização; os livros são um cenário. Já os sebos são abrigos de surpreendentes tesouros, como é o caso do Sebo do Messias, com mais de meio século atendendo a um seleto e eclético público, que viaja em um acervo de mais de 500 mil títulos, incluindo livros, revistas, gibis, CD`s, DVD`s e LP`s.

Um pouco da história do Sebo do Messias e do seu fundador:

Messias Antônio Coelho nasceu em Guanhães, um pequeno município de Minas Gerais, em 1941. Messias cresceu desenvolvendo atividades relacionadas ao campo, basicamente com trabalhos na lavoura, porém, seu passatempo predileto era a barganha de objetos, atividade que sempre lhe proporcionava uma pequena margem de lucro.

Ao completar 21 anos, Messias, movido por seu espírito empreendedor, mudou-se para Belo Horizonte, capital de sua terra natal. Após um período trabalhando em uma lanchonete, partiu em busca de novas oportunidades, em São Paulo.

Em 1964, Messias, iniciou trabalhando como ajudante de garçom no Restaurante Dom Fabrízio, até 1966. Em seguida inaugurou seu próprio estabelecimento, o Restaurante Messias, que não rendeu o resultado esperado, fazendo com que encerrasse as atividades de seu restaurante e iniciasse uma nova fase em sua vida, tornando-se vendedor externo da Lex Editora, colaboração que mantém até hoje, agora como representante.

Em suas visitas para comercializar os livros, às vezes, alguém solicitava algum título que não tinha - em atenção ao cliente e para manter fidelidade - buscava em sebos. Um desses clientes teve um infarto e morreu de repente. Conhecido da família, Messias recebeu a oferta de comprar a biblioteca dele. Eram uns cinco mil livros. Como não tinha dinheiro, pagou em dez cheques.

Um período marcante para a história de Messias foi o final de 1969. Mesmo com as grandes turbulências internas dentro do contexto social, político e econômico do Brasil, o ano foi um marco com a inauguração do primeiro SEBO DO MESSIAS, o primeiro das três grandes lojas estabelecidas no centro de São Paulo.

Em 2007 Messias fundou sua loja virtual, com um acervo exclusivo para o portal. No ano de 2008 entrou mais uma vez para a história como o único Sebo a participar da Bienal Internacional do Livro, realizada em São Paulo.

Atualmente, somente com o ponto na região da Sé, Messias acompanha de longe a queda no movimento por causa da Covid-19. O empresário de 80 anos, 30 deles dedicados ao trabalho, sem tirar férias, se viu forçado a ficar em casa. Deixou o dia a dia da loja com as filhas.

Com as pessoas em home office, a circulação no centro ficou abalada e a maioria da comercialização é realizada através do site de vendas on-line. Mesmo assim, o sebo segue visitado. Não é raro encontrar engravatados saídos do Fórum João Mendes Júnior, que fica ali ao lado, além de clientes com cestinhas apinhadas de DVDs.

Declaração de Messias Antônio Coelho: “Eu só trabalho, penso 100% do tempo na loja, mesmo afastado, não há diversão, não tenho tempo para ler, não vejo filmes. Quero trabalhar até os 99 anos".

Referências:

http://www.blogsebodomessias.com.br/

https://www.ebc.com.br/


Revisão ortográfica: Geyse Tavares


Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade exclusiva de seus autores e pode não ser necessariamente a opinião do Cidadão e Repórter.Sua publicação têm o propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.