Como muitos dos bairros de São Paulo, as fronteiras que definem os limites da região não são muito claras. Parte da Vila Buarque fica no distrito da República, outra parte na Consolação e uma outra em Santa Cecília. Estar no meio dessas regiões gigantes faz com que o bairro fique “perto de tudo”, mas sem deixar de ter a sua própria história.
Suas ruas são famosas: Rua Maria Antônia, Dr. Vila Nova, Dr. Cesário Mota Jr, Rego Freitas, Bento Freitas, Santa Isabel, Major Sertório, General Jardim, Marquês de Itu, Amaral Gurgel, Cunha Horta, Maria Borba e Praça Rotary.
Todas com referências históricas ou fatos que ali aconteceram, verdadeiros monumentos à educação, cultura, saúde e arquitetura.
Um bairro que tem tantas histórias que deveriam ser retratadas como numa novela, em capítulos e em cada capítulo um fato contado por antigos moradores, ou apaixonados pela Vila Buarque.
Histórico da Vila
Vila Buarque também teve origem numa antiga chácara, cujo primeiro proprietário foi o Marechal José Toledo de Arouche Rendon, nascido na cidade de São Paulo (14/03/1756 - 26/06/1834) militar, advogado, professor e político brasileiro. O primeiro diretor da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, cargo que ocupou de 1827 a 1833.
Mais tarde a chácara passou para o político Antônio Pinto do Rego Freitas (02/07/1835 - 13/01/1886) que exerceu diversos cargos públicos, entre os quais o de juiz municipal e Inspetor do Tesouro Provincial de 1870 a 1878. Foi presidente durante dois mandatos de quatro anos da Câmara Municipal de São Paulo, diretor do Banco de Crédito Real e da Companhia Cantareira, o primeiro sistema de abastecimento de água e esgoto da cidade de São Paulo.
Dotado de espírito caridoso doou à Santa Casa grande terreno, onde foi construído um hospital, bem como um terreno situado no largo do Arouche, para a construção de uma escola pública. Em sua homenagem foi nomeada a rua Rego Freitas.
Em 1893, seus herdeiros venderam a chácara para a Empresa de Obras do Brasil, cujos proprietários eram o pernambucano Manuel Buarque de Macedo, engenheiro de obras e o paulistano e politico Senador Rodolfo Miranda, que arruaram a chácara, dando origem ao bairro.
Origem do Nome
Vila Buarque, em homenagem a Manuel Buarque de Macedo, nascido no Recife em 1837, homem culto e preparado, foi um visionário na construção do Brasil, político e engenheiro conhecido nacionalmente, além de jornalista, estadista e amigo pessoal de D. Pedro II; foi engenheiro da Estrada de Ferro Pedro II, hoje Central do Brasil. Em 1880, foi Ministro da Agricultura e Obras Públicas, cargo que ocupou até sua morte em agosto de 1881, numa viagem acompanhando o Imperador Pedro II, para a inauguração da Estrada de Ferro do Oeste, em São João Del Rei, em Minas Gerais.
As ruas de Vila Buarque
Uma homenagem a antigos moradores, empresários, políticos, médicos, engenheiros que ajudaram na formação do bairro que recebeu o nome de "Vila Buarque".
Na Rua General Jardim, temos vários pontos importantes:
Biblioteca Monteiro Lobato, com entrada pela Rua Gal. Jardim, 485. O espaço ocupa um quarteirão e passa despercebido porque é cercado e não dá para ver que tem uma quadra de futebol, um parque com árvores e bancos para sentar e curtir um livro bem no centro de São Paulo. Nos finais de semana sempre acontecem eventos culturais promovidos pela prefeitura. Além disso, há uma base da polícia, o que torna o lugar relativamente seguro.
A Escola da Cidade - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, na Rua Gal. Jardim, 65.
Teatro Aliança Francesa, no número 182 da Gal. Jardim.
Fundação Escola de Sociologia e Pontifícia de São Paulo, também na Gal. Jardim 552.
Na Rua Dr. Cesário Mota Jr, número 112, se encontra a Santa Casa de Misericórdia, inaugurada em 1884, a mais antiga instituição assistencial hospitalar em funcionamento na cidade de São Paulo, cujo terreno foi doado por Rego Freitas.
Na Rua Maria Antônia estão duas instituições muito importantes:
o Centro Universitário Maria Antônia nos números pares 258/294
e em frente, no lado ímpar da rua, o Mackenzie, no número 403.
A rua Maria Antônia é famosa também, porque durante a ditadura militar foi o palco de brigas entre estudantes do Mackenzie e da USP, nos idos de 1960 a 1970.
Na Rua Dr. Vila Nova, no. 228 o SENAC Consolação, escola e centro cultural.
E na Bento Freitas, 306 a sede do IAB - Instituto de Arquitetos do Brasil.
Faculdades, instituições culturais, restaurantes, bares e botecos alimentavam a alegria de jovens estudantes da capital, do interior e de toda a América Latina e davam vida ao bairro nas décadas de 1960/70. Foi nesse miolo que surgiram Chico Buarque, Toquinho, o saudoso Abílio Manoel e tantos outros músicos que até hoje são ícones da música brasileira.
Dicas
A partir da década de 1960, com a construção do Minhocão, a Vila Buarque sofreu com a degradação do centro de São Paulo. Mas, atualmente, passa por processo de recuperação, ganhando novos ares culturais, gastronômicos e boêmios. Sua localização entre o centro e a zona oeste de SP e o surgimento de várias opções de lazer, hospedagem e moradia, com fácil acesso de transporte, tendo a Linha 3 do Metrô e os terminais de ônibus Amaral Gurgel e Princesa Isabel, colaboram para seu restabelecimento.
Outra dica é a Praça Roosevelt, que passou por um processo de revitalização e hoje é referência para programas “cult”, já que vários grupos de teatro e bares se instalaram ali. Atualmente, a região é conhecida por sua programação noturna animada.
Outro point para quem quer curtir a noite, uma boa opção é ir até a Rua Canuto do Val, pequena, mas cheia de bares. Lá, está o inusitado Siga La Vaca, que é bar e restaurante ao mesmo tempo. Na mesma rua, o Biroska, famoso por seu happy hour animado com música ao vivo e eletrônica e pelo cardápio de comida baiana; Frango com Tudo, point de artistas de teatro, cinema e circo; Jhony’s Bar e Restaurante e o Coconut Brasil, referência na cidade quando se fala em videokê, fazem a noite paulistana mais animada.
Vila Buarque é um vilarejo dentro da Grande São Paulo, onde subsistem pequenos comércios, lojas, mercearias, cabeleireiros e a maioria das pessoas se conhecem e se cumprimentam cordialmente.
Lembranças
Quando estudante, nos idos de 1969/70, morei numa república estudantil num apartamento na Amaral Gurgel, no Ed. Sta. Cordelia. Estavam construindo o Minhocão e o túnel que faz a ligação da Consolação com a Zona Leste-Oeste estava ainda em obras. Do apartamento ouvíamos o cantarolar dos operários tendo como fundo sonoro o bate-estaca de máquinas que não paravam de funcionar dia e noite. Numa madrugada, Felicia Ogawa e eu resolvemos conhecer nossos vizinhos noturnos, descobrimos que eram oriundos de várias regiões do Brasil, principalmente do Nordeste e estavam buscando oportunidades de viver melhor e quem sabe um dia trazerem suas famílias. O canto era para aliviar a saudade e amenizar o duro trabalho. Ficamos amigos e, de vez em quando, levávamos uma garrafa térmica com café. Sempre que passo pelo pedaço, me vêm na memória esses momentos e bate a saudade.
Fontes textuais:São Paulo - viva tudo issoSP in foco
Imagens disponiveis na internet.