Cidades Globais

As cidades globais exercem uma função de coordenar as dinâmicas econômicas, políticas e burocráticas em todo o mundo ou em regiões específicas.

por Lala Évan

23.08.2020

A utopia do projeto USP-Cidades Globais para São Paulo

Trazendo um olhar para os caminhos da sustentabilidade urbana na cidade de São Paulo, através do projeto USP-Cidades Globais, tomamos conhecimento da existência de uma ciência cidadã, palestra do coordenador e professor Marcos Buckeridge.

Segundo o professor “o nosso raciocínio é que temos na USP um grande número de pesquisadores que estudam a cidade e buscam compreender o que está acontecendo. Temos especialistas, por exemplo, em logística de distribuição de alimentos, urbanização, educação ambiental, biodiversidade, envelhecimento. O programa montou uma estrutura que funciona como um guarda-chuva para diversos projetos, criando caminhos interdisciplinares para melhorar o bem-estar. Começamos a trabalhar reunindo grupos da universidade interessados em cidades e montamos um questionário muito simples perguntando quais eram os maiores desafios para atingir o bem-estar, na opinião desses especialistas, e as soluções deque propunham. Depois, com o Instituto de Matemática criamos espécies de nuvens de palavras e mesclamos essas nuvens em redes de palavras. Assim, conseguimos saber o que esses especialistas estão pensando e como correlacionam as palavras que usam. Agora, vamos aperfeiçoando isso, para que a USP ofereça uma base científica a fim de que a cidade não continue trabalhando na forma de mosaico, mas de modo integrado”.

De um modo geral, podemos dizer que as cidades globais exercem uma função de coordenar as dinâmicas econômicas, políticas e burocráticas em todo o mundo ou em regiões específicas, pois carregam consigo serviços especializados, centros tecnológicos e científicos, sedes de grandes bancos, bolsas de valores etc. A cidade de São Paulo, por exemplo, exerce uma grande influência nos serviços, estruturas e negócios de toda a América do Sul; Nova York, por sua vez, realiza a mesma influência, porém em âmbito global.

A trajetória é realizar uma gestão sistêmica, com o objetivo de propor soluções que promovam a qualidade de vida nas cidades, o Programa USP-CG em conjunto com vários pesquisadores fazem a análise tanto das complexidades dos grandes centros urbanos como uma perspectiva inter e transdisciplinar em seus trabalhos.

Segundo o professor, a gestão sistêmica terá três fases:

  1. Onde estamos (diagnósticos), papel dos pesquisadores USP

  2. Onde poderíamos estar (modelo), traçar melhorias;

  3. Ações para chegar onde poderíamos estar (plano de ação), encaminhar para Políticas Públicas, para atuarem em aprovações dos projetos estruturados e com atuações assertivas.

A grande dificuldade para o professor Buckeridge, é a divulgação para o envolvimento das pessoas que realmente podem trazer dados consistentes, no intuito de iniciar estudos e diagnósticos dos vários problemas que compactuam e geram instabilidades para nossa cidade.

Comunidades Periféricas

Por entender que as comunidades periféricas é uma parte sistêmica a ser abordada, em questões da desigualdade social, que de forma escancarada a pandemia jogou um holofote, como aluna e representante do OBORÉ Repórter do Futuro ( concebe e desenvolve cursos temáticos modulados, estudos e reportagens, rodas de conversa com profissionais consagrados, entrevistas exclusivas e redações - laboratório com cobertura colaborativa para dar conta de congressos jornalísticos e grandes eventos na cidade), criei um grupo com líderes de algumas comunidades e iniciativas, para serem ouvidas pelo projeto USP-CG, para que se inicie a primeira etapa de conhecimento de ambas as partes envolvidas, ou seja, as comunidades e a coordenadoria do projeto.

Nesta primeira fase nos reunimos com vários representantes das favelas comunidades de Paraisópolis, Nova União, Nova Esperança, Diversidades Negras, Mães de periferias, Vila Brasilândia.

Em primeiro lugar, o professor procurou transmitir conhecimentos que revelem e façam entender melhor a realidade da jornada do trabalho da ciência cidadã e seus impasses. Que a presença de novos parceiros das comunidades periféricas de todo o município, se faz extremamente necessária. Principalmente por que ajudará a traduzir uma necessidade, em um trabalho em conjunto para obter ações palpáveis.

E nossa próxima reportagem daremos mais detalhes sobre a conversa de cada projeto, e de como está o andamento, o que estão necessitando, e o que a USP-CG poderá estruturar para levarmos para que as Políticas Públicas exerçam seu papel assertivamente, para o bem de uma vida do cidadão que vive e ama São Paulo.

“Precisamos compreender melhor as relações entre a estrutura fundamental da cidade e as relações com suas aspirações. Temos que diminuir as desigualdades" USP-CG

A Ciência Cidadã tem que ter voz sustentável

Após coletiva do Repórteres do Futuro, que ocorreu em 16 de Maio, onde tivemos como convidado o coordenador do Projeto USP Cidades Globais professor Marcos Buqueridge, realizei contato viabilizando conectá-lo a líderes de comunidades da cidade de São Paulo e arredores, no intuito de integração das realidades e necessidade da ciência aos que lutam pela cidadania.

O professor iniciou sua explicação informando aos participantes de que não existe nenhum interesse político, nenhuma forma de votos, ou qualquer coisa que caracteriza este tipo de comportamento.

Ele faz parte do Instituto de estudos avançados da USP, que foi montado para que a USP possa trabalhar nas Políticas Públicas em geral do país inteiro, usando a ciência trabalhando com cientistas com foco na saúde das cidades em seus sistemas urbanos tanto primários quanto secundários. Após sua explanação, passamos a palavra aos nossos convidados, onde o professor fez suas observações pontuais.

Elizandra Moura Cerqueira - Foi a primeira a se pronunciar, é a presidente do Mulheres de Paraisópolis, empreendedora social, recebedora de prêmios tais como ‘Voo de Maria", "Horta da Laje", "Mulheres com Equidade de Gêneros", dentre outros.

Segundo Elizandra, Paraisópolis atualmente conta com mais de 100 mil habitantes, com 13 escolas, onde 35% são de jovens entre 15 e 29 anos; ela aponta o transbordamento do córrego Antonico e os maiores problemas para isso estão concentrados nos resíduos de lixo; existem vários pontos viciados em Paraisópolis; não existe coleta seletiva, mesmo tendo o ecoponto, não se consegue ter um trabalho com catadores e reciclagem.

Também comenta sobre problemas de acesso ao saneamento básico com racionamento de água velado; em relação a mobilidade urbana, as ruas são sem faixas, não tem mão, existem muitos carros parados nas ruas; pessoas com deficiência não conseguem serem assistidas adequadamente e o trânsito escolar cresce gradativamente sua ineficiência em função destas irregularidades.

Prof. Buqueridge - Ele informa que todos os problemas apresentados são passíveis de terem voz junto ao projeto USP; quanto ao problema do córrego, já existe um movimento no mundo inteiro chamado “Soluções Baseados na Natureza", que consiste em transformar este córrego em um ambiente de lazer plantando árvores, pois canalizar é a pior solução.

Elizandra aproveita para informar que houve um estudo para transformar o córrego Antonico em piscinas naturais, mas com as trocas de gestões, os representantes não dão continuidade ao serviço do outro, e a justificativa é de que o projeto é muito caro para Paraisópolis. Assim como escola de música que ganhou prêmios pelo projeto, mas também é muito caro.

Maria de Lurdes Andrade Silva - Conhecida como Lia Esperança - Líder Comunitária da V. Nova Esperança e Fundadora Presidente do Instituto Lia Esperança, considerada Arquiteta Popular e Agricultora.

Com um trabalho forte de sustentabilidade, construíram uma cozinha tradicional e a lenha do lado da horta, tem fogão e forno a lenha, biblioteca, brinquedoteca, teatro de barro, pesqueiro do lado de um lago e a casa redonda das crianças, tudo isso feito com recursos da natureza.

Lia menciona que fizeram um projeto sustentável de urbanização na V. Nova Esperança, onde ganhou vários prêmios, trabalhando de várias formas para mantê-la sustentável. Hoje já contam com água e energia regularizada, tendo deficiência ainda do esgoto. Fizeram um abrigo de lixo e campanhas de conscientização na comunidade, com apoio da ONG e USP.

Sobre a deficiência da rede de esgoto, informou que já existem 2 projetos, tanto da Sabesp quanto ecológico. Na própria cozinha já se utilizam de práticas aprendidas com a USP utilizando pneus e restos de construção, que segundo Lia, ficou muito bom.

Luta pelo empreendedorismo para dentro da comunidade. E por fim um Centro de Inovação vindo do MIT.

Prof. Buqueridge - Elogiou a postura e luta da Lia, assim como achou importantíssimo todo o trabalho de sustentabilidade realizados e os resultados com influência desta comunidade junto a USP, trazendo históricos que tem resultados reais e benefícios.

Claudio - Associação Moradores da Brasilândia já com 12 anos de existência; Brasilândia, bairro com histórico de maior número de óbitos em decorrência da COVID19. Cláudio trabalha muito no combate à fome e ao descarte do lixo e entulhos de forma adequada.

Comentou que projetos aprovados pela gestão anterior, também não foram concluídos pela atual gestão e áreas que seriam utilizadas para parque municipal estão se transformando em uma grande favela.

Concluindo, ainda na área do ambiental, citou problemas do Rodoanel devastando a Serra da Cantareira sem a compensação ambiental que prometeram ser aplicada para esta região.

Prof. Buqueridge - Comenta que ele traz também o problema das questões de resíduos e comenta sobre a compensação ambiental, onde o certo seria não ter destruído a natureza; ficou de realizar um levantamento sobre os assuntos para trazer um posicionamento sobre o que está acontecendo sobre este assunto.

Carol Macedo - assistente da Lia Esperança; ela se vê como ferramenta de lideranças comunitárias, fará mestrado voltado para trabalho com resíduos e tem muito histórico para compartilhar conosco.

Hermes de Sousa - Instituto Nova União e Arte – NUA

Foi nossa segunda conversa, fala sobre a criação do "Plano de Bairro" onde informa que São Miguel tem 700 mil pessoas; a Vila Nova União, que faz parte de São Miguel, tem 40 mil habitantes e estão iniciando conversas de montarem de forma efetiva e prática um conselho participativo, para que tenham maior facilidade de cobrança e não ficarem reféns da boa vontade política, elencando as principais necessidades e, de alguma forma, poder pressionar o poder público através destes planos.

Trouxe a ideia da criação de um Tour pelas comunidades Pós Pandemia, como uma forma de ir aprendendo uns com os outros e que estes encontros fossem uma espécie de vivência, trabalhando de forma descentralizada.

Prof. Buqueridge - Reforça convite para após a pandemia realizar um encontro na Universidade – IEA, em que poderão conversar sem problemas de horas para fazer uma discussão mais ampla, traçar planos, reforçando que é com um Brainstorming o caminho de colocar as ideias e organizando para novas soluções.

Janet - Traz a sugestão de pegar um problema em comum entre todas as comunidades e tratá-los, como por exemplo, trabalhando as questões dos resíduos, pois se não forem descartados corretamente, poderão gerar insetos, entre outros problemas de saneamento básico. Com esse mapeamento, a sugestão é focar e procurar resolver um problema por vez e por regiões. Menciona as compostagens, que tem a vantagem de melhoria das hortas, saneamento; ela entende que é uma forma de começar inclusive com as mulheres, que, unidas, podem começar a fazer dentro de casa; desta forma, os resíduos irão diminuir muito.

Prof. Buqueridge - Ficou de verificar junto ao grupo de alunos que estão focados neste tipo de solução e trará para a próxima reunião.

Finalizando, ele falou sobre a revista URBANSUS; comentou que as comunidades poderiam enviar seus links para que se inicie uma análise e para que possam escrever artigos sobre as mesmas, trabalhando em conjunto surgindo realmente a ciência cidadã.


Revisão: Maitê Ribeiro