São Paulo conta sua história: Belem

por Malu de Alencar

12.10.2019

O bairro de Belém, juntamente com Mooca e Brás, faz parte da história da industrialização da cidade de São Paulo.

Seu desenvolvimento se dá por volta de 1880 quando ficou conhecida como uma estação climática por sua altitude, ar muito puro e árvores, era local indicado para pessoas com problemas respiratórios e do pulmão e, com o tempo se tornou referencia para a elite paulistana.

Foi comparada com a região dos Campos do Jordão na Serra da Mantiqueira, reconhecida como o ar mais puro do planeta pelo doutor Domingos Jaguaribe, em artigos publicados no jornal "O Estado de São Paulo". As famílias ricas passavam seus finais de semana em chácaras na região.

Origem do nome

No começo a região era conhecida por "Belenzinho", nome oriundo da devoção dos primeiros moradores a São José do Belém e, em julho de 1897, com recursos arrecadados entre os moradores, foi erguida uma capela em homenagem com seu nome. Em 1899 o Belém já era conhecido como um distrito de descanso e paz.

Já no final do século XIX, o Belenzinho, como era conhecido, começou a receber indústrias, mudando seu visual e assumindo sua nova vocação.

Com o passar dos anos, a região começou a ser habitada por imigrantes de todas as partes do mundo e, pouco a pouco, pomares, plantações e chácaras foram desaparecendo para dar lugar ao perfil mais urbano que conhecemos hoje.

Diversas intervenções acabaram favorecendo essa mudança, como a construção de uma linha de trem e a passagem do bonde 24, transporte voltado para a locomoção dos operários e com preços mais baratos que fazia o trajeto do Largo São José do Belém até a Pça Clovis Bevilaqua.

O curioso é que para colocar o nome de Belenzinho na placa do bonde, o nome foi abreviado para Belém, que logo foi adotado pela população.

Em 1910 se destacaram as fábricas de vidro, como a Germânia (na rua Martin Afonso). E um ano depois, iniciou-se a construção da Vila Maria Zélia, uma cidade industrial financiada por Jorge Street que construiu a vila, praticamente uma cidade com escola, igreja, armazéns, para abrigar os operários de sua Companhia Nacional de Tecidos de Juta. As instalações eram consideradas modelo para habitação dos operários e, segundo relatos da época, havia filas de trabalhadores que queriam uma vaga no local. O projeto chegou a fazer sucesso, mas acabou desaparecendo quando a empresa de Street faliu em 1917. Anos depois, entre os anos de 1936 e 1937, o local acabou sendo utilizado pelo Estado Novo como presídio para presos políticos.

Inauguração da Vila Maria Zélia, a 1a vila de operários do Brasil. Ainda existe, no Belenzinho em São Paulo.(Foto: saopauloantiga.com.br)

Com a chegada das fábricas no começo do século XX, era comum que os operários morassem perto das fábricas, que começaram a chegar à região no ano de 1910. No início esses empreendimentos eram compostos por vidrarias e tecelagens e, assim, a população do bairro dobrou devido à oferta de emprego. Os empresários mais ricos, por sua vez, erguiam seus palácios na Avenida Celso Garcia que era considerado o grande ponto “rico” da região.

Com a construção da Vila Maria Zélia, o Belenzinho e a região como um todo, cresceu e prosperou. Outras vilas menores foram construídas e mais indústrias se instalaram. Poucos sabem, mas o escritor Monteiro Lobato viveu no Belenzinho no começo do século XX, na rua 21 de Abril. Sua casa era o reduto de poetas, escritores e intelectuais da capital que ficavam até altas madrugadas na casa amarela, o "Minarete" como era conhecida pelos boêmios e artistas na época.

Vila Operária Maria Zelia

Outro importante industrial brasileiro chegou a ter negócios na região, um contemporâneo de Jorge Street, o famoso conde Matarazzo que, em 1911, inaugurou a Tecelagem e Estamparia do Belenzinho e em 1929, o complexo industrial passou a se chamar Indústrias Reunidas Fábricas Matarazzo.

Conde Matarazzo seria, em dados atualizados, o 8o na lista dos mais ricos do mundo.

Fonte: Café História.

Em 1931 Conde Matarazzo adquiriu a Tecelagem Santa Celina (também no bairro) e em 1936 implantou a Fábrica de Papel e Papelão no Belenzinho.

Com o passar do tempo, o aumento populacional e a nova economia da cidade foram transformando o estilo do bairro que passou a ser mais residencial do que industrial além de tornar-se comercial por seus novos moradores e por sua localização privilegiada próxima ao centro e vias de acesso como avenidas, marginais e estradas.

1924: Belém alvo de bombardeios

(Vila localizada na Rua Marcos Arruda, no bairro do Belenzinho.Foto: Douglas Nascimento / www.saopauloantiga.com.br)

Em 1924, quando estourou um violento conflito na cidade de São Paulo, o Belenzinho sofreu bastante. Devido a grande quantidade de fábricas da região, o local foi alvo de bombardeios incessantes o que minou grande parte da estrutura do bairro. Aos poucos as indústrias foram se mudando de lugar e os antigos galpões viraram empreendimentos imobiliários, o que tirou parte da característica do bairro.

Com o passar do tempo, o aumento populacional e a nova economia da cidade foram transformando o estilo do bairro que passou a ser mais residencial do que industrial além de tornar-se comercial por seus novos moradores e por sua localização privilegiada próxima ao centro e vias de acesso como avenidas, marginais e estradas.

Muitas fábricas saíram da região, outras permanecem, várias mudaram de mãos e tantas outras dão espaço aos empreendimentos imobiliários.

O curioso é que, mesmo com tantas mudanças, o bairro do Belenzinho/Belém ainda guarda patrimônios arquitetônicos e traz o clima de tranquilidade, mesmo estando próximo ao centro e de grandes vias .

Vale a pena conferir.



Fontes:São Paulo in FocoSite Portal do BelémSite São Paulo AntigaSite Café História Blog Quando a Cidade Livro "São Paulo 450 bairros, 450 anos" de Levino Ponciano - Ed. Senac