23.07.2021
Se você não conhece Chimamanda Ngozi Adichie, sugiro procurá-la e procurar suas obras. A autora nigeriana que escreveu meu livro favorito nasceu no fim da década de 70, traz diversas temáticas em suas obras, algumas inclusive utilizadas na academia e de cunho social, como Sejamos Todos Feministas, escrito em 2014.
Hibisco Roxo foi sua obra de debate, publicada em 2003 efetuou uma mudança gigantesca na literatura africana devido a seu contexto pós-colonial nigeriano, um país marcado pela instabilidade política e dificuldades econômicas.
Apesar de trazer essa realidade, a protagonista não representa uma adolescente nigeriana comum, pois é filha de um homem importante e com condições financeiras abastadas, crescendo, então, num ambiente privilegiado. Mesmo parecendo um mar de rosas, a vida da menina, do irmão mais velho e da mãe é controlada por um pai autoritário e religioso, que os maltrata fisicamente e psicologicamente.
Para mim, a obra pode ser dividida em três partes, a primeira nos traz a protagonista em sua apresentação, mostrando sua casa – e quão assustadora ela era -, seus sentimentos de terror por seu pai, e nos apresenta isso de forma inconsciente, já que nunca se utiliza de palavras diretas para a violência que acontece.
Tudo muda, e aqui poderia ser a segunda parte, quando nos é apresentado a tia de Kambili, que insiste para que ela e o irmão vá para sua casa de modo a ter mais contato com os primos e a família. É aí que tudo muda, pois existe um contraste montanhoso entre ela e seus primos.
A terceira parte seria a mudança que ela e o irmão, Jaja, sofrem quando retornam para casa.
Mesmo parecendo uma história maçante, tudo muda na vida da menina quando se vê de frente com a realidade do país, ao se hospedar na casa da tia por uns dias. A pobreza, a falta de comida decente, o atraso no salário de professores, a falta de luz, a opressão de uma ditadura... Tudo, até os momentos internos e felizes que seus primos vivem, conduzem a protagonista, Kambili, a observar as diferenças entre um mesmo povo.
Adorando essa história, a parte que mais me toca é a questão da colonização inglesa que a Nigéria sofreu durante muitos anos, conseguindo a independência não muitos anos atrás como o Brasil, mas em 1960, ou seja, sentindo até agora os respingos e consequências, como mais de oito golpes militares no século XX.
É por isso que a obra me toca tanto, pois é narrada por uma menina de 15 anos e conseguimos enxergar todas as partes boas e ruins daquilo como fundo de suas aventuras e sentimentos inquietantes. A própria Kambili está sempre sendo oprimida por essa colonização devido ao pai representar a própria invasão branca no país.
A história não é um romance água com açúcar, não faz você ansiosamente esperar por algo, mas foi quase impossível para eu largar e não pensar no que aconteceria, pois, assim como a protagonista me senti inquieta, angustiada, enjoada, sufocada, e muitas vezes também submissa à própria história. Presa a uma cultura imposta, seguindo uma religião que foi imposta por seu pai e obrigada a corresponder suas expectativas altas e violentas.
A obra mudou meu jeito de ver o mundo e minha curiosidade particular em relação a culturas diferentes, seus personagens cativantes e a ansiedade de que as coisas pudessem, enfim, serem resolvidas me fez virar noites para terminar logo.
Chimamanda nos traz um enlace entre a ficção e a biografia, assim como um conhecimento sobre a Nigéria e a própria colonização (e suas consequências) de uma maneira que oscila o doce e o amargo, podendo nos fazer sentir tudo, menos indiferença.
Revisão ortográfica: Anne Preste