01.07.2021
O livro traz a história de duas irmãs sul-coreanas, Hana e Emi. Separadas pela guerra e pelo tempo: Hana, em 1943 e Emi, em 2011, dias atuais retratados na trama.
Vindas da linhagem Haenyeo, mulheres mergulhadoras da Ilha de Jeju, na Coreia do Sul. Hana, a irmã mais velha, acompanha a mãe diariamente nos mergulhos no fundo do mar, assim mantendo a tradição antiga (que é ainda viva na ilha), ela se apaixona pelo estilo de vida das Haenyeo, além de prover a sua família.
Retratado durante a Segunda Guerra Mundial, a Coreia do Sul foi ocupada pelo Japão de 1910 a 1945. A partir de 1937, os coreanos sofrem assimilação cultural forçada para a integração das tradições japonesas, banindo o ensino da fala da língua local e a proibição da literatura nacional. Outro fator importante retratado no livro, é a substituição dos nomes coreanos pelos nomes japoneses.
Em um dia de mergulho, Hana avista um soldado japonês caminhando em direção a sua irmã Emi e se apressa para tentar escondê-la. Apesar de ter conseguido salvar a irmã a tempo, Hana se vê obrigada a confrontar o soldado, mas é levada para um destino incerto e longe de sua família.
O romance criado por Mary Lynn Bracht não é real, mas o drama e os acontecimentos tratados por ela sobre guerra, ocupação japonesa, múltiplas vidas perdidas e exploração sexual infantil são fatos que realmente aconteceram. Ela mostra como as “mulheres de consolo” foram uma atrocidade enorme durante aquele período.
A narrativa do livro é intercalada entre as duas irmãs e é possível perceber a fala de Hana no passado e de Emi no presente. Cada capítulo prende de uma forma que dá a sensação de querer saber mais sobre o que acontecerá adiante. Fiquei bastante impressionada com a obra e a forma que os detalhes foram tão bem descritos.
Uma leitura foi pesada e dolorosa. Porém, necessária. Um lado da guerra que eu não conhecia e que explica um pouco a briga entre os dois países. Ver o que Hana e tantas outras meninas sequestradas eram obrigadas a passar era desumano. Hana, uma personagem extremamente forte, para aguentar os difíceis momentos, pensava em sua família, principalmente na irmã mais nova, como uma forma de consolo a si mesma.
A história de Emi também é de se emocionar. Ela enfrentou muitas dores com os pais, no seu próprio casamento e com os filhos. Poupando o seu casal de filhos, ela oculta a existência de Hana há tanto tempo perdida, mas ela nunca perdeu as esperanças de um dia reencontrá-la. Ao passar dos anos, enfrentando esse sofrimento sozinha que durou por 60 anos de sua vida, ela encontra sobreviventes da guerra e com eles, exige uma retratação do governo japonês pelas atrocidades durante a guerra.
Esse livro irá ficar marcado não só em mim, mas acredito que em todas as pessoas que tiveram a oportunidade de ler. Uma das leituras mais tocantes que já fiz. Herdeiras do Mar abre os olhos do leitor para um fato que foi tão banalizado.
Revisão ortográfica: Anne Preste