As dificuldades e os desafios no fomento à leitura no Brasil


A cada livro lido, a cada página consumida em leitura se forma um leitor crítico e autônomo. Entretanto, poucos são os brasileiros detentores desse perfil, e a luta por formar mais indivíduos habituados aos deleites literários envolve muitos esforços e guerreiros incansáveis.


Glória Branco

27.04.2021

Muito se fala em letramento e direito à leitura, muito também vem sendo feito para incentivar a formação de leitores desde a infância. Um exemplo que gosto muito de citar é a ação Leia para uma Criança, do Itaú. Desde o lançamento dessa iniciativa, acredito que uma parcela da sociedade brasileira tomou um gosto por ler e por estimular à leitura.

Contudo, os números ainda deixam a desejar, veja os dados da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil: 52% dos brasileiros possuem hábitos de leitura. Em relação à pesquisa anterior, de 2015, houve uma redução de 4%. Falando em idade, apenas crianças de 05 a 10 anos apresentaram melhora nos índices, de 67% para 71%.

Os guerreiros do incentivo à leitura trabalham na construção de um Brasil que lê. São mais de 200 projetos de valorização e incentivo à leitura no país, segundo outra pesquisa, O Brasil que Lê da Cátedra Puc-Rio. Os dados estão sendo coletados durante a pandemia e mostra que o fomento à leitura tem ganhado espaço no Brasil.

O problema dos baixos índices de leitura escancara outras realidades nacionais. Segundo o INAF 2018 (Indicador de Analfabetismo Funcional), apenas 12% dos brasileiros são plenamente capazes de se expressar através de letras e números. Já segundo o SAEB (Sistema de Avaliação da Educação Básica), 1,62% dos estudantes apresentam aprendizagem adequada em Língua Portuguesa.

A leitura não oferece apenas benefícios gramaticais, ortográficos e de linguagem. Também é uma janela para o mundo, e a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil prova isso. Entre os entrevistados é notória a certeza que a leitura amplia horizontes e oferece melhores condições de vida.

Então, o que falta para o Brasil ser um grande país de leitores?

Em primeiro lugar, os pais precisam estar conscientes que a leitura deve ser uma prática adotada desde o nascimento do bebê. Estimule as crianças a crescerem em um ambiente com livros e esteja disposto a ler para os pequenos.

Isso é muito fácil em lares onde os livros estão à mão. Mas nas famílias mais carentes e vulneráveis do país, isso se aplica com facilidade?

Não é uma realidade na maior parte dos lares brasileiros o acesso aos livros e à leitura. Porém, na ausência dos livros deve-se estimular as histórias de família, o uso da narrativa oral e dos saberes que são transmitidos por gerações. Algumas instituições oferecem a formação em Mediadores de Leitura e pode ser útil aos professores que também não receberam esse estímulo durante sua formação.

O papel do governo no intuito de aumentar os índices de leitura no Brasil são imprescindíveis, é necessário que haja políticas públicas sérias e duráveis de acesso à leitura. E a população precisa se engajar de forma consciente para que projetos mitigantes do deserto de leitores ganham ampla adesão de toda a sociedade. Um passo inicial é a Rede LEQT (Leitura e Escrita de Qualidade para Todos) formada por mais de 80 organizações que trabalham para promover a educação e a leitura em território nacional.

Vale lembrar que no país temos a lei 13.696/ 18 Política Nacional de Leitura e Escrita (PLNE) que democratiza o acesso à leitura, fomenta formação de mediadores, valoriza a leitura e seu valor simbólico e estimula toda a cadeia produtora de livros. Conhecida como Lei Castilho ainda garante que a cada dez anos será criado metas para acesso aos livros e à leitura, bem como novas práticas literárias e de fomento às bibliotecas.

A Prefeitura de São Paulo tem uma ação de fomento à leitura que vale a lembrança, Minha Biblioteca, similar ao PDE Literário do governo federal. Ambos trabalham com entrega de livros infantis e infanto-juvenis. O Governo de São Paulo também estimula a leitura, distribuindo livros novos para os alunos de sua rede de ensino.

A iniciativa privada também pode contribuir com a causa, apoiando organizações da sociedade civil que estão engajadas no fomento à educação e à leitura. É o caso da ONG Mirante Cultural que desenvolveu um projeto para aumentar o hábito de leitura dos moradores da periferia de Pirituba aliando arte e educação.

O Galeria Vitral se propõe a embelezar os muros do bairro com frases e desenhos inspirados no livro Como Ler Livros, de Mortimer Adler. O diretor da organização Rafael Ferreira afirma que o projeto terá duração de oito meses e oferecerá às crianças adolescentes de cinco escolas da região uma cartilha com sugestões preciosas no intuito de estimular o amor pelos livros e o hábito da leitura.

“A partir de nossas oficinas de contação de história e mediação de leitura pudemos perceber como as crianças e os jovens estão dispostos a adotar a leitura como parte de suas vidas. Queremos estimular ainda mais essa cultura na periferia”, conclui Rafael.

Tudo que o Mirante Cultural espera é encontrar parceria junto a empresas e empresários que compactuam com os mesmos valores do projeto.

Ampliar ações que proporcionem acesso aos livros é um desafio de todos, não apenas das escolas, dos professores ou dos pais. Os baixos índices de leitores no Brasil não deve ser compreendido como um mal crônico, mas como condição passível de mudança quando criarmos condições de espaço e tempo para a leitura, e acesso a bons acervos de livros. Com certeza, nosso país será mais rico de saberes e conhecimento quando sua população desfrutar do privilégio de viajar nas páginas de um livro.


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Revisão ortográfica: Anne Preste


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