Olavo Bilac e o anúncio

Por João Aranha

28.07.2020

Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac (Rio de Janeiro -1865/1918) é considerado o príncipe dos poetas brasileiros.

Além de poeta, foi jornalista, escritor e autor de textos publicitários e humorísticos.

É considerado o nosso melhor representante do Parnasianismo (movimento literário do século XIX caracterizado pela objetividade e pelo descritivismo, além da retomada de temas da Antiguidade clássica e rigor formal na construção do texto poético).

Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, tendo participado ativamente da vida do seu tempo nas campanhas democráticas e civis.

O soneto abaixo é uma das mais conhecidas da coletânea Via Láctea:

Ora (direis) ouvir estrelas! Certo

Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,

Que, para ouvi-las, muita vez desperto

E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto

A via-láctea, como um pálio aberto,

Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,

Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!

Que conversas com elas? Que sentido

Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!

Pois só quem ama pode ter ouvido

Capaz de ouvir e de entender estrelas.

O anúncio

Contam a seguinte história sobre o poeta:

Um homem queria vender um sítio. Andando pela rua ele se encontrou com o poeta Olavo Bilac. E disse ao poeta:

“Poeta, eu quero vender meu sítio que o senhor conhece tão bem. O senhor poderia redigir um anúncio para um jornal?”

O poeta pegou um lápis e papel e escreveu:

“Vende-se uma encantadora propriedade onde no extenso arvoredo cantam os pássaros ao amanhecer.

É cortada por marejantes e cristalinas águas de um belo ribeirão

e a casa nela existente é banhada pelo sol nascente

e oferece as sombras tranquilas das tardes nas varandas”.

Passados uns dias, o poeta se encontrou com o homem e perguntou a ele:

“E aí, vendeu o sítio?”

Ele disse:

“Nem pensei mais nisso. Depois que li o anúncio que vi a maravilha que tinha.”



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Revisão: Maitê Ribeiro