ZIMBA, da Varsóvia para o Brasil

Documentário histórico da arte, que retrata também a trajetória de uma geração, além de bonito e poético, o filme é didático, com falas de Ziembinski.


Cleo Brito

29.09.2021

Zbigniew Ziembinski, chega no Brasil em 1941 após a invasão da Varsóvia, quando então dirigia uma peça e, por conta do bombardeio, foge. Da Polônia à França e finalmente ao Brasil. Aprende a dominar muito bem a língua, com um sotaque imperceptível. E como ele mesmo diz: entender o idioma brasileiro é entender a alma dos brasileiros.

Zimba é um documentário histórico da arte, que retrata também a trajetória de uma geração, além de bonito e poético, o filme é didático, com falas de Ziembinski e a participação de atrizes como Nathália Timberg, Nicette Bruno e Camilla Amado, que nos palcos, relembram o trabalho do polonês, resgatando a memória e, ao mesmo tempo, dando vida a Zimba. Marca registros também de personagens como Jardel Filho, Walmor Chagas, Paulo José, Paulo Autran e Domingos de Oliveira. Uma montagem com rico material de arquivo, entrevistas, encenações, gravações contemporâneas e trechos de filmes da época e ainda traz referências à vida familiar.

O grande encontro com Nelson Rodrigues, um marco para ambos, comparados como um demônio e um anjo fundindo forças no teatro. O resgate de peças clássicas de Nelson Rodrigues proporciona uma viagem entre as fronteiras do cinema, da televisão e do teatro, como a montagem de Ziembinski na peça Vestido de Noiva marcada por uma revolução, pelo uso da luz, alternada várias vezes durante a peça, na época a iluminação era fixa. Para substituir o ator negro Abdias do Nascimento, com a anuência dele, recorreu ao blackface - prática teatral de atores que se coloriam com o carvão de cortiça para representar personagens afrodescendentes. As normas teatrais não permitiam atores negros protagonizando peças.

Concluindo: importante documentário que deve ser aplaudido, pela biografia de um polonês que visceralmente se torna brasileiro. Artista completo e inovador, que doou sua vida para o teatro, personalizando a evolução com a revolução das artes cênicas.

Assista o trailer:

Zimba, de Joel Pizzini, participou da Mostra Competitiva da 26ª edição do É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários, em abril 2021. Lançamento em 30/setembro/2021 nos cinemas com distribuição da Bretz Filmes.

Zbigniew Ziembinski (1908 – 1978) Zimba nasce em meio aos horrores da primeira guerra mundial. Aos 6 anos assiste uma cena que marca sua vida para sempre: na sombria mina de sal subterrânea de Wielisczka, seu pai cuidava de corpos feridos, mutilados e mortos em combate. Anos mais tarde dirige uma peça satirizando Hitler, os atores da peça são presos e Ziembinski foge para o Brasil.

O filme Zimba conta com idealização de Urszula Groska, roteiro de Joel Pizzini, Henry Grazinoli (Um Novo Capitalismo, Danado de Bom) e Reinaldo Mesquita (colaborador nas peças Vestido de Noiva dir. Eduardo Tolentino, A Terra Prometida, de Samir Yasbeck), pesquisa de imagens de Antônio Venâncio (Dossiê Jango, Senna, Cássia Eller, Chico: Artista Brasileiro), e consultoria de Aleksandra Pluta (autora polonesa da biografiade Ziembinski). Na direção, Joel Pizzini, um dos mais premiados documentaristas brasileiros, diretor dos filmes Mar de Fogo, Olho Nu, Mr. Sganzerla – os signos da luz, Anabasys, 500 Almas, Glauces, Caramujo-flor, entre outros. Realizou recentemente o documentário Rio da Dúvida, (inédito no circuito) sobre a expedição Roosevelt-Rondon, exibido na Mostra Internacional de SP em 2019.

Zimba teve patrocínio da Casa Sanguszcko de Cultura Polonesa, sendo uma entidade de caráter sócio-cultural sem fins econômicos. Entre os objetivos estão: pesquisa, intercâmbio entre Polônia e Brasil, cooperação com entidades polonesas e brasileiras, promoção do patrimônio, tradição e costumes, contribuir para integração da comunidade polono-brasileira e realização de eventos e projetos. O filme conta ainda com apoio do Itaú Cultural. As imagens de arquivo foram disponibilizadas pelos acervos da Cinemateca Brasileira, TV Cultura, EBC, Arquivo Nacional, CTAv, Funarte, Cinemateca do MAM-RJ, Filmoteca Polonesa, INA (França), entre outros.

Uma trajetória artística e existencial do ator e diretor de teatro, Ziembinski, que ao denunciar o nazismo com a peça “Genebra” de Bernard Shaw é obrigado a fugir da Polônia. Após sua fuga, chega por acaso, ao Brasil onde se encontra com Nelson Rodrigues e monta Vestido de Noiva (1943), que revoluciona as artes cênicas no país. Narrado em primeira pessoa, a partir de vasto material de arquivo e com participações das atrizes Nathalia Timberg, Camilla Amado e Nicette Bruno, o filme recupera performances de Ziembinski no cinema, novelas e teleteatros através de um diálogo cine-teatral.

Apelido carinhoso recebido no país que o adotou, “Zimba” celebra a arte e o ideário do primeiro encenador “brasileiro”, criador do teatro moderno e inovador da televisão latino-americana.


FICHA TÉCNICA:

Zimba, Longa-metragem, 78 minutos, cor e P&B, 2021

Distribuição: Bretz Filmes

Empresa produtora: Leminiscata Filmes

Coprodução: Globo Filmes/Globo News, Canal Brasil, Studio Filmowe Kalejdoskop

Produtoras associadas: Pólofilme e UG Produções

Direção: Joel Pizzini

Produzido por: Vera Haddad e Urszula Groska (em memória)

Roteiro: Joel Pizzini, Henry Grazinoli e Reinaldo Mesquita

Montagem: Idê Lacreta

Direção de Fotografia: Luís Abramo

Produção Executiva: Vera Haddad, Marina Couto e Clarice Laus

Trilha sonora original: Lívio Tragtemberg

Edição de Som e Mixagem: Ricardo Reis Chuí e Miriam Biderman


Joel Pizzini - Diretor

Cineasta, pesquisador, autor de ensaios documentais premiados internacionalmente como “Caramujo-Flor” (1988), “Enigma de Um Dia”(1996), “Glauces” (2001) e “Dormente” (2006), Joel Pizzini conquistou com os longas “500 Almas” (2004) e “Anabazys” (2009), além da seleção oficial no Festival de Veneza, os prêmios de Melhor Filme, Som, Fotografia, Especial do Júri, Montagem, nos Festivais do Rio, Mar Del Plata, e Brasília. Para a televisão, a convite do Canal Brasil, realizou os retratos “Um Homem Só“(2001), “Elogio da Luz”(2003), “Retrato da Terra”(2004), “Helena Zero” (2006), entre outros. Conselheiro da Escola do Audiovisual de Fortaleza e Professora da PUC-RJ (pós-graduação em Comunicação) e Faculdade de Artes do Paraná, Pizzini foi artista residente da Unicamp do Arsenal/Fórum da Berlinale, no projeto “Living Archive”. Trabalhou ainda como Curador da Restauração da obra de Glauber Rocha... Pesquisador de novas linguagens, participou do projeto Artecidade e da Bienal de São Paulo, Mercosul com vídeos, instalações e direção de performances. Diretor de“Elogio da Graça”(Melhor curta no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro) e Mr.Sganzerla, vencedor do Festival É Tudo Verdade (2010) HBRFF em Los Angeles. Dirigiu o filme ensaio “Olho Nú” (sobre Ney Matogrosso), co-produzido pelo Canal Brasil e Paloma Cinematográfica, premiado como melhor filme do Festival In-Edit e FestCine América do Sul é selecionado oficialmente para o Doc. Lisboa, e Festivais de Havana, Guadalajara, FIPA (Biarritz). Criou a instalação “Ruído no Branco” a convite da Fundação Iberê Camargo em Porto Alegre (RS) e produziu e dirigiu “Mar de Fogo”, curta experimental selecionado para a competição oficial da Berlinale, 2015 e Mostra Internacional de São Paulo. Teve recentemente seu filme Elogio da Sombra selecionado para a competição Oficial de Oberhausen, na Alemanha e recentemente dirigiu o documentário de invenção Rio da Dúvida, sobre a Expedição Rondon-Roosevelt em 1913, além de preparar o projeto Depois do Trem.


Filmografia

2021 – Zimba (78’)

2018 – Rio da Dúvida (120’)

2016 – Elogio da Sombra (13’)

2014 – Olho Nu (100’) e Mar de Fogo (8’)

2012 – Mr. Sganzerla (90’)

2011 – Elogio da Graça (30’)

2007 – Anabazys (c/Paloma Rocha) (98’)

2005 – Dormente (17’)

2004 – 500 Almas (100’)

2003 – Abry (34’) e Suíte Assad (15’)

2000 – Um Homem Só (55’)

2001 – Glauces (30’)

1996 – Enigma de um Dia (17’)

1988 – Caramujo-Flor (21’)

Fonte: ProCultura – Assessoria de Imprensa

Revisão ortográfica: Anne Preste


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