‘In The Heights’ foi criado por Lin Manuel Miranda em 1999, enquanto ele estava no segundo ano da faculdade de teatro em Wesleyan University, localizada em Connecticut (EUA). Ele tinha apenas 19 anos na época.
Nos anos 2000, ele conseguiu que mais pessoas da Companhia de Teatro se engajassem no seu projeto, resultando na produção de um enredo teatral de 80 minutos. Produtores assistiram à apresentação e viram que o material tinha potencial para estrear na Broadway, o local que é referência de musicais no mundo.
Com isso, ele adicionou mais músicas à peça. Em 2007, houve a primeira apresentação Off-Broadway e no ano seguinte houve a estreia oficial, onde ficaram em cartaz até 2011. Posteriormente, o musical ganhou quatro Tony Awards, incluindo o de Melhor Peça.
A história se passa em Washington Heights, um bairro em Nova York que tem uma grande concentração de imigrantes latinos. O protagonista é o Usnavi, que narra a história e tem uma loja de conveniência. Seu sonho é voltar para a República Dominicana, país do Caribe onde nasceu.
Também existem outros três personagens principais: Nina Rosário, Benny e Vanessa. Nina é a jovem mais inteligente do bairro que conseguiu uma bolsa para Stanford e a primeira da sua família a entrar na Universidade. Ela volta para a casa dos pais no verão após trancar o curso por falta de dinheiro.
Benny é funcionário do pai de Nina, que possui um negócio de táxi. Ele é um jovem promissor muito aplicado, por isso tem o sonho de herdar o negócio no futuro. Por fim, Vanessa é a jovem mais atraente do bairro que trabalha em um salão de cabeleireiro. Seu sonho é sair de lá e ter oportunidades melhores de emprego.
Tudo muda após Usnavi descobrir que vendeu um bilhete premiado da loteria que poderia mudar a vida das pessoas do bairro.
A peça fala de temas muito importantes como o que é ser imigrante na América, a dificuldade para aprender outra língua e a importância da ancestralidade. Apesar de tocar em assuntos que muitas vezes podem ser enxergados como espinhosos, Lin escreveu uma peça onde apesar de todos os percalços, todos seguem determinados e com bom-humor em busca dos seus sonhos.
Com a estreia do filme ‘Um Bairro em Nova York’ (2021) a história foi transformada. Apesar de ainda ter os números de dança latina que são eletrizantes, muitos pontos importantes foram deixados de lado.
O mais importante de um musical são justamente as suas músicas e neste quesito o filme decepciona ao tirar importantes passagens como "Inútil'',''Sunrise”,''Enough”, “Hundreds Of Stories” e ''Everything I Know”.
Ao trocar as músicas de ordem, a história também perdeu o sentido. Apesar do filme ter sido vendido como o “acontecimento do verão”, os atores principais não trouxeram leveza e humor aos seus personagens, fazendo com que o filme se tornasse um grande drama nos momentos de diálogo.
O filme se perde nas cenas extensas de silêncio e reflexão. Até os números principais do musical como “96000” e “Carnaval Del Bairro” perdem um pouco de sentido, já que a revelação de quem ganhou a loteria fica em uma cena aleatória e jogada.
Uma das melhores coisas da peça original era o quanto os personagens secundários eram bem construídos e serviam de alívio cômico. Até mesmo o Pirangueiro, que faz raspadinhas no bairro para aliviar um pouco do calor.
No filme, a personalidade desses personagens é esquecida e eles só estão lá para dar suporte aos casais principais da trama. Em relação ao elenco de suporte, um destaque vai para Stephanie Beatriz, que mesmo com um tempo pequeno, brilhou na tela com toda a sua energia latina.
O filme decepciona em diversos pontos, mas algo que foi mantido da peça original e ainda teve a mesma força no filme foi o número ‘Paciencia Y Fe’, interpretado por Olga Merediz.
In The Heights é uma obra muito importante que traz mensagens de resiliência, a importância de se cercar de pessoas que te amam e de que os seus sonhos são válidos independentemente de onde você tenha nascido ou qual é a cor da sua pele. A esperança é que as pessoas continuem dando valor a esse musical, seja através do filme ou da peça original.
Revisão ortográfica: Anne Preste
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