Falando de cinema

Por Cleo Brito

14.07.2020

Dezembro de 1895 é a data registrada de início do cinema no mundo. A película exibida foi "Saída dos Trabalhadores da Fábrica Lumière", dos irmãos Lumiére, na cidade de Paris. No Brasil, o registro é de 1898, quando o ítalo-brasileiro Affonso Segretto – primeiro cinegrafista e diretor do país—, realizou as primeiras imagens em movimento "Uma vista da baía de Guanabara — a bordo do navio francês Brésil”, no Rio de Janeiro.

Em homenagem a Segretto, foi instituída a data de 19 de junho para comemorar o dia do Cinema Brasileiro, embora algumas pessoas prefiram celebrar em 5 de novembro, data da primeira exibição pública de cinema.

Em mais de um século, a trajetória da sétima arte no país atravessou diversos momentos e foi delineada principalmente pelas chanchadas, o Cinema Novo e o “udigrúdi”, a Embrafilme, a crise dos anos 1980, a Retomada e a Pós-Retomada – a partir desse período, os filmes brasileiros se consolidaram como opções “vendáveis” no mercado.

O cinema brasileiro tem muito do que se orgulhar e, nas últimas décadas, tem nos contemplado com excelentes produções nacionais de consagrados cineastas, que merecem todo aplauso e reconhecimento. Lamentavelmente, a representatividade de artistas negros neste cenário ainda é tímida, apesar de sua potência desde os primórdios do cinema no Brasil. Destaque para dois pioneiros:

Zózimo Bulbul

ZÓZIMO BULBUL, nome artístico de Jorge da Silva (1937- 2013). Foi ator, cineasta, produtor e roteirista brasileiro, considerado o pai do cinema negro brasileiro. Em 1974 estreou como diretor com o curta em preto e branco Alma no Olho, uma reflexão sobre a saga da diáspora africana, ao som de John Coltrane. O título foi inspirado no livro do líder dos Panteras Negras, Eldridge Cleaver, Alma no Exílio. Realizou inúmeros curtas e um longa, todos com foco na valorização da cultura negra no Brasil. A convite do Presidente do Senegal realizou o filme Renascimento Africano, que mostra o Senegal nas comemorações dos 50 anos de independência, em 2010.

Assista abaixo Alma no Olho (1973) de Zózimo Bulbul:

Adélia Sampaio

ADÉLIA SAMPAIO (1944), iniciou como organizadora do cineclube da empresa em que trabalhava. Passou a trabalhar também na produção dos filmes, foi maquiadora, continuísta, câmera e montadora.

Como diretora realizou o curta-metragem Denúncia Vazia. Foi a primeira negra a dirigir um longa-metragem no Brasil, Amor Maldito, lançado em 1984, do qual foi produtora e também roteirista (com José Louzeiro). O longa foi exibido no Festival Internacional de Mulheres no Cinema e na Mostra Diretoras Negras no Cinema Brasileiro. Um currículo com seis filmes dirigidos e mais outros 70 em que atuou na produção.

Assista abaixo Amor Maldito (1984) de Adélia Sampaio:

Essa longa batalha por espaço, visibilidade e reconhecimento, porém, parece ganhar novos contornos. Segundo a APAN (Associação dos Profissionais do Audiovisual Negro), “diante da diversidade geracional, de protagonismos negros e de um número cada vez maior de realizadoras(es) e profissionais negras e negros do audiovisual, abrem-se os caminhos para (...) uma construção histórica na qual nós negros somos essenciais para a existência da Nação Brasileira e sua Produção Audiovisual”.

Hoje, o cinema nacional trava uma guerra pela sobrevivência, lutando para a captação de recursos, produção e valorização de seus produtos. Entretanto, ao longo de sua história, o setor já passou por outras tantas crises importantes. E sempre mantendo viva a arte cinematográfica no país. Que este período seja apenas mais um obstáculo passageiro numa trajetória ascendente e promissora de mais diversidade, igualdade e originalidade.

Colaboração: Vivian Brito

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Revisão: Maitê Ribeiro